Incentivo dos pais pode fazer com que crianças comecem a gostar de livros antes de serem alfabetizadas
Aos dois anos de idade, a pequena Alice Velardi Lopes de Andrade já é apaixonada por livros, mesmo sem saber ler. Alice já consegue pronunciar palavras como – esbelta – e sabe decor as falas das personagens da história da Cinderela. A leitura faz parte da rotina da casa da menina e os resultados são facilmente percebidos.
“A Alice tem muita imaginação e até inventa histórias, ela também conversa muito e interage bem com outras crianças, apesar de nunca ter ido à escola”, conta sua mãe, a professora de Inglês e escritora, Ana Carolina Georgia Velardi, que começou a ler livros para Alice já na gestação.
“Naquela época eu lia - O medo da Sementinha - de Rubem Alves, autor que serve de inspiração para mim”, relembra. Atualmente os livros preferidos de Alice são os de contos de fadas.
“Aos 5 meses de idade, ela já prestava atenção nas histórias e quando começou a se sentar, passou a folhear sozinha os livros de banho e de pano, o que melhorou muito a sua coordenação motora fina“, explica Ana Carolina, que herdou o gosto pela leitura de seu pai.
Professores são grandes incentivadores
Segundo a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência, exemplos como o da família de Ana Carolina têm — infelizmente — diminuído. A pequisa mostrou que o número de leitores caiu 9,1%. No lugar dos livros, a TV e a internet ganham destaque, o que é preocupante para um País que deseja elevar o nível de sua educação.
Outro dado interessante da pesquisa é que os professores foram apontados por 45% dos entrevistados como os maiores incentivadores do hábito da leitura, superando as mães. A pequisa entrevistou 5.012 pessoas em 315 municípios brasileiros entre 11 de junho e 3 de julho de 2011. Os entrevistadores classificam como leitores quem leu pelo menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa.
A pedagoga do Ensino Fundamental Claudia Maria Neves Camargo Soares, é um exemplo de professora que costuma estimular seu alunos a lerem. “Toda sexta-feira eles levam um livro da biblioteca da escola para casa, mas quase metade da classe não lê, porque os pais não incentivam a prática em casa”, lamenta Cláudia. A solução para estimular a prática entre seus alunos foi proprocionar rodas de leitura dentro da sala de aula.
Atualmente ela está lendo com seus alunos o livro “100 dias entre o céu e o mar de Almir Klink”.
Em casa, Cláudia não abre mão de ler para seu filho Ricardo Gabriel Soares, de 5 anos. A rotina acontece toda noite e nos momentos de curiosidade ou interesse. “Leio desde que ele nasceu e ele adora”. Apesar de não saber ler Ricardo Gabriel gosta de tudo: de gibis a fábulas, de contos de fadas a ciências e até livros religiosos. A professora destaca que a prática da leitura é fundamental para um bom repertório no vocabulário e importante para a alfabetização e até para a vivência. “A diferença entre uma criança que lê de outra que não lê é notória”, enfatiza.
Trabalhos manuais como complemento
A professora da rede municipal de ensino de Campinas, Tamires Giampauli Faustino, conhece bem a importância da leitura e das atividades manuais para o desenvolvimento das crianças pequenas. Tamires foi vencedora do prêmio nacional Faber Castell de oficinas educativas em 2010 por seu trabalho com os alunos da escola onde leciona. A professora também é a responsável pelas oficinas de arte-educação da Galhofas & Dramas / Arte & Manhas, na qual elabora atividades-educativas para crianças na Saraiva Mega Store, em Campinas, há três anos interruptos. "Por meio do trabalho manual conseguimos desenvolver diversas áreas do conhecimento, noções espaciais, coordenação motora e até mesmo a questão dos valores, do estímulo à exploração e à criatividade. Além disso, as atividades manuais também promovem a concentração das crianças pequenas. Neste caminho a leitura também é muito importante", enfatiza Tamires.
O momento certo para iniciar o gosto pela leitura
"A ideia de que a criança pequena que não sabe ler, não precisa de leitura, é errada. O gosto por livros começa em casa desde cedo". Neste caminho os livros são sempre positivos. Segundo Tamires, desde os primeiros meses, já é possível começar. "Os livros mais indicados para essa faixa etária são os livros de pop-up (nos quais as figuras saltam para fora das páginas), os com recursos sonoros, os de textura e os para banho. A manipulação desses livros é muito importante".
A professora ressalta que deixar a criança tocar em um livro ou numa revista e até resgá-los num primeiro momento é importante. Ela recomenda deixar livros mais baratos e revistas espalhados pela casa para que as crianças possam pegá-los. "Aos poucos, com a orientação de um adulto, elas começam a entender que a revista e o livro não são de comer e não devem ser rasgados e são para ser vistos e lidos".
Manter uma rotina em casa, inclusive para ler também é essencial para o desenvolvimento dos pequeninos. "É comum a criança sair da escola e passar o dia todo na frente da TV, sem estímulos que são importantes e que acabam sendo deixados a cargo da escola. Muitas vezes também os pais não tem condições de comprar um livro, o que agrava essa situação".
Antes de começar a ler um livro é preciso conversar com a criança para descobrir se ela quer ouvir a história naquele momento, nada deve ser imposto e quando a resposta for positiva não é preciso ler a história até o final. "Muitas vezes a criança pequena se cansa rápido, neste caso a dica é parar e explicar que em outra hora a história será retomada. Deve-se tentar fazer isso todos os dias, lembrando que esse é um tempo importante dos pais com a criança", reforça Tamires. "Muitas vezes elas ficam curiosas tentando imaginar o que acontecerá na história e ficam esperando por esse momento". Aos poucos a própria criança passa a cobrar por esse momento e até a ler sozinha. "A leitura tem que ser um hábito, quanto mais reservamos uma hora para ela e estimularmos sua prática, a criança desejará que ela ocorra".
É importante também criar momentos para contar histórias sem livros, nos quais as crianças são estimuladas a relatar uma história que já foi contada ou sua história preferida. "Isso estimula o abstrato, o repertório e a oralidade.O mesmo pode ser feito com músicas", destaca Tamires.