SEGURANÇA

Lei de uso de airbag para motociclistas gera polêmica

Adoção de equipamento é positiva mas profissionais analisam com ressalvas a eficiência do acessório

Sheila Vieira
25/07/2013 às 16:04.
Atualizado em 25/04/2022 às 07:37
Projeto de lei quer tornar colete airbag obrigatório para motociclistas, mas profissional da Unicamp cobra aperfeiçoamento do sistema ( Cedoc/RAC)

Projeto de lei quer tornar colete airbag obrigatório para motociclistas, mas profissional da Unicamp cobra aperfeiçoamento do sistema ( Cedoc/RAC)

Um projeto de lei que tramita no Senado (PLS 404 de 2012) quer incluir no Código Brasileiro de Trânsito (CBT) o uso obrigatório de colete airbag nos mesmos moldes da exigência do capacete. A justificativa para a imposição do acessório, segundo o autor da ideia, o senador Humberto da Costa (PT-PE), é que a invenção pode reduzir em até 75% a ocorrência de lesões e fraturas nos acidentes por proteger regiões importantes do motociclista, como cóccix, coluna vertebral, peito e pescoço.Embora a adoção de equipamentos de proteção seja positiva, profissionais analisam com ressalvas a eficiência do acessório. “O tempo de reação entre a batida e a abertura do cilindro de gás é muito demorado”, observa o docente da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, Celso Arruda, especialista em segurança veicular. Esse tipo de acessório, segundo ele, funciona perfeitamente bem na segurança de adeptos do hipismo, pratica que usa velocidade mais baixa no deslocamento e menos movimentos do condutor.Na opinião de Arruda, para ser tão eficaz quanto os sistemas de airbag dos automóveis o equipamento deveria já sair inflado de fábrica — a exemplo das cadeirinhas — ou criar um dispositivo de detecção de colisão capaz de acionar o airbag segundos antes do impacto, assim como o existente em alguns modelos de veículos. “Claro que é melhor do que nada. Tudo que absorve impacto é bem-vindo”, diz Arruda.A afirmação leva em conta o grande número de acidentes no trânsito, principalmente entre motofretistas. Somente no ano passado em Campinas, 36 motociclistas morreram, segundo dados da Emdec.Estudioso na área, o chefe da ortopedia do Hospital e Maternidade Celso Pierro e Hospital Ouro Verde, José Luis Amim Zabeu, acredita na eficiência do colete airbag, acessório adotado como equipamento obrigatório pela polícia de Madri, na Espanha.Segundo Zabeu, vários estudos comprovam a proteção oferecida pelo item, que apesar de inflar em um tempo médio de 0,5 segundo — três vezes mais lento que o tempo de reação de um sistema de airbag automotivo — começa a proteger o condutor estando meio cheio, a partir de 0,2 segundo.Para o docente da PUC, o uso do colete pode salvar vidas em situações de arremessos provocados em acidentes de moto em alta velocidade. Por inércia, o corpo mantém a velocidade do veículo até se chocar e evidências comprovam a ação protetora do acessório.Além do colete airbag, motociclistas já encontram à disposição algumas peças de vestuário com reforços e proteção extra para coluna, joelhos e ombros.EMPRESA NACIONALIZA PRODUTO E REDUZ PREÇOS Objeto do projeto de lei e alvo da discussão entre especialistas em segurança veicular e saúde, o colete airbag chegou recentemente ao Brasil e sua popularidade entre os motociclistas esbarra no preço salgado — o modelo básico da marca japonesa Denko custa R$ 1.916,00.Para tentar aproximá-lo do público, principalmente dos motofretistas, a Mugen Denko, em parceria com sua subsidiária no Brasil, começou a nacionalizar o produto e oferece colete com dispositivos retrorrefletivos exigidos pelo Denatran por R$ 999,00. “O objetivo da nacionalização é atender a classe que mais precisa do acessório”, diz Milton Toshio Nakamura, CEO da Mugen Denko do Brasil.De acordo com o fabricante, a peça é inflada em apenas 0,25 segundo. Depois de acionado, o acessório esvazia rapidamente e pode ser reabastecido com outro cilindro de gás, que custa R$ 76,00. Segundo Nakamura, assegurar qualidade é imprescindível e pode ser a diferença entre sair ileso ou morrer em uma colisão. Cada colete é testado quatro vezes antes de ir para o mercado. Por enquanto não existem normas ou certificações nacionais. A Denko possui certificação internacional japonesa, a Japan Automobile Research Institute — Jari. Depois de vender um primeiro lote de 50 peças, a empresa tem mais de 100 pessoas na lista de espera. A Prefeitura de Chapecó (SC), por exemplo, investiu R$ 105 mil na compra de 25 jaquetas e 15 coletes para agentes de trânsito e guardas municipais. 

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