A recomendação parece óbvia, mas o fato é que muitas doenças se propagam, justamente, pela falta desse hábito básico de higiene; algumas podem até matar
Que o frio contribui para a proliferação de doenças respiratórias a maioria das pessoas já sabe. O que algumas parecem ter se esquecido é que uma atitude simples pode ajudar a evitar várias enfermidades: lavar as mãos. Parece óbvio, mas muitos, simplesmente, ignoram que esse hábito pode, sim, salvar vidas. Pelo menos dez doenças podem ser evitadas com gestos simples de higiene. E não é difícil entender o porquê. Imagine quantos objetos você “compartilha” diariamente, às vezes até sem notar. É o corrimão da escada, a barra de ferro no transporte público, o dinheiro que recebeu de troco... No banheiro, então, a situação é pior: a maçaneta, a descarga, a torneira. Sem falar dos objetos pessoais que tocamos depois disso tudo, deixando que as bactérias se proliferem por ali também.
Pesquisa recente da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, constatou que um celular pode carregar dez vezes mais bactérias do que um vaso sanitário. O mesmo vale para as bolsas femininas, segundo outro estudo, realizado pela Initial Washroom Hygiene, uma empresa especializada em limpeza de banheiros públicos do Reino Unido. De acordo com o trabalho, embalagens de cremes para mãos, batons e estojos de maquiagem são os itens mais sujos que as mulheres carregam em suas bolsas.
Mas, calma. Não há motivo para pânico. Basta seguir algumas recomendações. “Manter a higiene mínima lavando as mãos é um cuidado imprescindível”, destaca o professor de infectologia 4
do Departamento de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Francisco Hideo Aoki.
H1N1
Uma das doenças que mais têm causado preocupação é a H1N1, ou influenza A. Ela é resultado da combinação de segmentos genéticos dos vírus das gripes humana, aviária e suína, que infectaram porcos simultaneamente. O período de incubação varia de três a cinco dias, e a pessoa pode transmitir a doença antes mesmo de apresentar os sintomas. A H1N1 se dá pelo contato direto com animais ou objetos contaminados e de pessoa para pessoa, via aérea ou por meio de partículas de saliva e de secreções das vias respiratórias.
Os sintomas da H1N1 são semelhantes aos causados pelos vírus de outras gripes. Porém, requer cuidados especiais a pessoa que tiver febre alta (acima de 39ºC) e de início repentino, dor muscular, de cabeça, de garganta e nas articulações, irritação nos olhos, tosse, coriza, cansaço e inapetência. Em alguns casos, podem ocorrer vômitos e diarreia.
Dia 3, a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas divulgou um boletim sobre os casos graves de gripe na cidade. Dos 14 registrados, 13 são de H1N1 e um de gripe B. Três pessoas morreram. Também na última segunda-feira, a Secretaria de Estado da Saúde anunciou nova prorrogação da campanha de vacinação e, agora, ela acontece até dia 15. São Paulo lidera o número de mortes por H1N1 em todo o Brasil – até 12 de maio, 55 pessoas morreram (em todo o ano passado, foram 74), o equivalente a 90% dos óbitos registrados no Brasil no período. Dos 388 casos confirmados, 328 foram em território paulista.
Segundo o professor da Unicamp, nenhum dos infectados havia tomado a vacina contra a gripe. “A vacinação é muito importante, evita o óbito. É imprescindível que os grupos mais vulneráveis à doença sejam vacinados”, alerta Aoki. A vacina é dada gratuitamente a idosos com mais de 60 anos, crianças de seis meses a dois anos (elas devem tomar duas doses), grávidas e mulheres que deram à luz em até 45 dias, doentes crônicos, indígenas e profissionais da área da saúde. Após a aplicação, o organismo leva cerca de 15 dias para produzir a quantidade necessária de anticorpos e ficar imunizado.
Superbactéria, superpreocupação
Outra preocupação, principalmente por parte do Ministério da Saúde, é em relação à chamada superbactéria. O nome oficial é NDM-1 e ela apareceu pela primeira vez em Nova Déli, na Índia, em 2009. Já foi encontrada na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá. Ano passado, casos dela foram notícia na Argentina, no Uruguai, na Venezuela, no Paraguai e, em setembro, também no Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul – até abril, ela foi encontrada em cinco pacientes; apenas um teve infecção e já recebeu alta. O que mais preocupa é que a superbactéria é resistente até aos antibióticos mais fortes, pois produz uma substância que impede a ação deles.
A superbactéria se desenvolve em pacientes submetidos a tratamentos com antibióticos potentes, mas que não eliminam todos os micro-organismos. Os que sobrevivem ficam resistentes e se multiplicam. “Ela é resultado da utilização exagerada desse tipo de medicamento, o que leva à resistência a eles. Tem muita gente usando tiro de canhão para matar formiga, por isso, faço um apelo aos colegas médicos: por favor, façam uso racional de antibióticos. Só o receitem se houver mesmo necessidade”, destaca o infectologista Francisco Aoki, da Unicamp.
Também no caso da superbactéria o cuidado mais básico de higiene pode evitar sua propagação. “A principal medida de controle hospitalar é lavar as mãos. Por incrível que pareça, esse ato simples é a maior barreira de transmissão de bactérias de um paciente a outro”, informa.