Sou um dos jurados do Prêmio Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) no 4º Olhar de Cinema - Festival Internacion...
Koza ( Divulgação)
Sou um dos jurados do Prêmio Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) no 4º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba que acontece na capital paranaense até o dia 18.
Vi cinco filmes até agora de uma lista de dez. A proposta do festival é assumidamente ousada, ou seja, aposta em filmes de invenção e de linguagem arrojada. E, claro, há naturais erros e acertos.
Ontem vi um filme bem bacana, que aposta na linguagem, mas é acessível ao público comum – não o crítico ou cinéfilo. Trata-se de Koza, de Ivan Ostrochovský, co-produção entre Eslováquia e República Checa.
Não há planos mirabolantes, tampouco experimentalismos de qualquer natureza ou algum hermetismo que exija esforço do espectador. Ele vai direto ao ponto naquilo que se propõe para contar a história. O resultado é surpreendente.
Claro, o diretor exercita a sofisticação narrativa com muitas lacunas, os chamados tempos mortos e diálogos curtos, secos e certeiros e usa o poder do cinema para dizer o que pretende sem necessitar de muitas palavras. Não por acaso o peso do filme se concentra nas imagens. Elas dizem mais do que qualquer discurso. Isto é cinema.
O momento mais marcante está justamente numa das sequências finais, na qual a luta de um boxeador decadente não é mostrada. Não vou descrevê-la porque teria de revelar um fato importante da história. Mas basta dizer que enquanto Koza luta, vemos a imagem do empresário dele refugiado no vestiário ouvindo o alarido da torcida. É magnífico como um plano tão simples tenha significado narrativo e ainda esteja carregado de emoções.
Koza é apelido de um ex-boxeador medalhista nas Olimpíadas de 1986, em Atlanta (EUA), e o próprio ex-atleta, Peter Baláz, o interpreta – curioso viés realista que fortalece a narrativa ficcional. A namorada está grávida e exige que ele pague o aborto. E Koza retorna ao ringue numa desastrada turnê na tentativa de conseguir o dinheiro.
O que veremos? Um road movie no qual empresário e boxeador tentam em vão ganhar uns trocos, pois o atleta enfrenta profissionais muito melhores que ele. Como se pode imaginar, a derrota lhe fará companhia o tempo todo. Se saiu consagrado de Atlanta, agora, Koza é o que os americanos chamam de looser – o perdedor.
E haverá um natural estranhamento entre esportista e empresário e, ao mesmo tempo, um tocante companheirismo. Por exemplo, pela falta de grana, são capazes de dividir a mesma cama num hotel barato ou comer o que vier em restaurantes nada atraentes de estrada.
Eis a história. Parece pouco, mas é o suficiente para criar um filme sensível pelo qual criamos empatia aos poucos. E, o mais notável, o diretor sabe amarrá-lo muito bem e lhe dá um ótimo desfecho – mérito difícil de alcançar.
* O jornalista viajou a convite do festival