Adolescente de 14 anos administrador a página 'Fiscalize Campinas'
Lucas Camargo, de 14 anos: "Redes sociais podem sim mudar a realidade se as pessoas se envolverem" (César Rodrigues/AAN )
O jovem estudante Lucas Camargo não pretende ser um daqueles adolescentes acomodados que só pensam em festas, roupas de grife e diversão. Movido por um apurado senso de cidadania, o rapaz de apenas 14 anos é o administrador da página do Facebook Fiscalize Campinas. O grupo, que já conta com quase 1,2 mil participantes, tem como função debater problemas da cidade. A ideia é que se transforme em um canal de fiscalização e denúncias de atos lesivos da administração pública campineira. “Redes sociais podem sim mudar a realidade se as pessoas se envolverem mais, se participarem”, acredita o jovem. Seu papel vai além de aprovar a participação de novos integrantes no grupo, o estudante encaminha as denúncias aos órgãos competentes. “Eu analiso o perfil de todos que pedem para participar do grupo, respondo mensagens, comentários e mobilizamos as pessoas para dar encaminhamento às reclamações”, conta. O estudante da 8ª série e morador do Parque Valença passa pelo menos duas horas por dia administrando a página. “A ideia é que as denúncias não fiquem somente na reclamação virtual. Orientamos todos os participantes a levar as solicitações ao órgão necessário para dar encaminhamento aos pedidos”, contou.Confiante que a rede social e a mobilização dos jovens podem mudar a realidade da cidade, Lucas já começou a colher os frutos do seu trabalho. Depois da mobilização surgida no Facebook, a Prefeitura limpou uma grande praça que fica no Jardim Proença.“Recebemos a reclamação sobre a praça e alguns participantes foram até o local fazer um ato e chamaram a imprensa para denunciar o descaso com o espaço. Depois disso, a Prefeitura foi ao local providenciar a limpeza”, lembrou. O rapaz diz que sempre gostou de política, mas conta que seu interesse cresceu por causa do seu professor de História. “Ele fala muito sobre política e isso me incentivou a conhecer melhor o assunto”, contou. HistóriaAlém do ativismo político, a paixão pela história e por Campinas levam o estudante a participar ativamente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas. “Assisto sempre as palestras e me interesso muito pela Campinas antiga, participo também de outros grupos no Facebook que divulgam imagens históricas da cidade”, conta. Camargo diz que não pretende seguir carreira na política e planeja cursar história. “Eu gosto de política, mas não quero me envolver diretamente, prefiro fiscalizar”, diz.DiversidadeAlém de cidadãos indignados, a página Fiscalize Campinas é seguida por jornalistas, políticos e até por membros da Administração. As reclamações mais frequentes são referentes a Saúde e a Serviços Públicos. “Há muitas denúncias de praças abandonadas, problemas na área de Saúde, Infraestrututra e Segurança”, explicou Camargo.O adolescente conta que tem o apoio da família sobre sua dedicação ao fórum de debates. “Meus pais acham legal esse meu jeito, porque hoje em dia os jovens ficam interessados em bens materiais”. O rapaz diz que é o único entre os seus amigos a ter uma postura mais engajada e concorda que às vezes se sente um peixe fora do aquário. “A maioria dos jovens da minha idade não está interessada em política, mas isso não muda nada e eu vou continuar mediando a página”, afirmou.Região do Campo Grande também tem sua páginaMoradores da região do Campo Grande, que engloba bairros como Satélite Íris e o São Luis, também estão bem representados no Facebook. O grupo Coletivo Campo Grande Consciente tem 4.256 membros e é formado por jornalistas, moradores da região e políticos. A página é usada para expor as demandas dos bairros, fiscalizar os espaços públicos e mobilizar a população. "No grupo são tratadas demandas que os moradores passam via comentários nas páginas dos blogueiros, em seus perfis das redes sociais, no próprio grupo e no Portal Campo Grande Info" , explica o mediador da página Orlando Teixeira.Ele conta que as demandas são levadas para reuniões que são feitas periodicamente com as associações de moradores da região do Campo Grande, os assessores de vereadores e deputados. “As consequências (das denúncias apresentadas) estão registradas em documentos que ficam nos arquivos do grupo, são várias demandas que estão sendo tratadas, algumas delas já tiveram resultados e outras estão em fase de resolução" , explicou. 'Vereador' zela pelo Nova EuropaO comerciante Danilo Sanches, de 23 anos, nasceu e cresceu no Nova Europa, em Campinas. Tem um carinho especial pelo bairro e, por isso, se tornou um fiscal dos espaços públicos. Tanto cuidado e zelo fez com que ficasse conhecido como “Vereador Não Eleito” por parte da população. “Eu fiscalizo o bairro, denuncio as péssimas condições das praças e bosques nas redes sociais e procuro a Prefeitura para tentar resolver a situação”, contou. Sanches fotografa os espaços, colhe depoimentos dos moradores e posta tudo na página Canal Campinas, no Facebook. “É um canal feito por jovens para divulgar informações sobre a cidade e também denuncias”, explicou.Em várias ocasiões, sua atuação ultrapassa o limite da rede social. “Ontem mesmo levamos uma reivindicação da Praça de Esporte (Vito de Pompeu) e do Bosque dos Guarantãs à Prefeitura”, contou. Sanches conta que começou a fiscalizar o bairro quando tinha 16 anos. "Quando tirei meu título de eleitor, passei a ficar mais atento à política e mais consciente, então comecei a fiscalizar o bairro”, disse. Com o tempo, o comerciante passou a se envolver mais no ativismo político e agora, além de cobrar melhorias na região onde mora, passou a integrar uma campanha que pede passe livre nos pedágios para os moradores da Região Metropolitana de Campinas.