Pesquisa mostra que interesse pelo tema depois das manifestações chegou a 89% da população
A onda de manifestações por todo o Brasil nos últimos dias despertou o interesse pela política em parte da população que não se importava pelo tema. A maior parcela dos mais novos “politizados” é composta por jovens, que foram a mola propulsora das manifestações por redução nas tarifas de transporte, contra a corrupção e por uma série de outros motivos.
Uma pesquisa do Ibope realizada durante atos ocorridos na semana passada em oito capitais mostrou que 89% dos entrevistados disseram ser interessados em política (61% muito e 28% médio interesse). A pesquisa ouviu 2 mil manifestantes nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Salvador e Brasília.
Segundo especialistas em ciência política consultados pela reportagem do Correio, o índice de interesse e conhecimento em política costuma não ultrapassar 20% da população. Para eles, o percentual obtido com a pesquisa é “alto e surpreendente” e mostra uma mudança de postura da população brasileira a partir dos protestos. As pessoas passarão a cobrar mais dos governantes e, se for necessário, no futuro voltarão às ruas para reivindicar novas mudanças e melhorias.
Manifestantes entrevistados pela reportagem nas duas semanas de protestos em Campinas também afirmaram que passaram a ter um grande interesse pelo cenário político do País em função dos atos. Segundo eles, o tema até pouco tempo atrás era quase ignorado e deixado de lado por boa parte das pessoas.
“Em épocas de eleição o interesse pela política costuma aumentar, mas a crise que se revelou com as manifestações fez explodir, além de elevar e despertar, o interesse da população pelo o que está realmente acontecendo”, afirmou Valeriano Costa, especialista em ciência política e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Para o também cientista político e professor da Unicamp Pedro Rocha Lemos o grande problema é que a sociedade estava inserida em um modelo de consumo e individualista. “Aprendemos a pensar somente no bem próprio. Porém, agora a sociedade percebeu que para melhorar é necessário o bem comum, e saiu às ruas em busca disso. O que a princípio era a redução no valor da tarifa do transporte urbano se transformou em um estopim para dezenas de outras reivindicações e insatisfações.”