CRIATIVIDADE

Jogos de tabuleiro levam estudantes à Idade Média

Alunos do Liceu Salesiano aprendem brincando sobre o período histórico

Fabiano Ormaneze/Especial para a AAN
02/09/2014 às 14:51.
Atualizado em 24/04/2022 às 05:37
correio popular, alunos, professor, escola, experiência ( Carlos Sousa Ramos/AAN)

correio popular, alunos, professor, escola, experiência ( Carlos Sousa Ramos/AAN)

Quem nunca passou horas num jogo de tabuleiro? Quem nunca esperou ansioso pelo fim da aula para, com os amigos, jogar uma partida? No Colégio Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas, a atividade pode parecer brincadeira, mas espalhar jogos pelas mesas faz parte da estratégia encontrada por dois professores para ensinar história e redação nas turmas do 8º ano do Ensino Fundamental.   O professor Carlos Alberto Prado estava para iniciar o conteúdo referente ao feudalismo quando teve a lembrança de que muitos jogos de tabuleiro utilizam narrativas baseadas em fatos e em personagens históricos. Juntou a isso o interesse dos estudantes por essas brincadeiras e, depois das aulas expositivas sobre o conteúdo, lançou um desafio.   Em grupos de quatro ou cinco alunos, os 118 estudantes das quatro turmas de 8º ano tiveram que conceber um jogo em que os conceitos relativos ao sistema feudal pudessem ser explorados.    Do livro de redação da turma, surgiu mais uma inspiração. A professora Isabel dos Anjos Costa trabalhava no mesmo período o conteúdo relativo à leitura, interpretação e produção de regras de jogo. “Esse gênero textual faz parte do conteúdo, como uma forma de incentivar a leitura e demonstrar a sua importância para o aluno”, conta a educadora. Em quatro aulas de história, após as exposições do professor, os grupos foram em busca de mais informações sobre o feudalismo. A única exigência para a criação do jogo era de que o conhecimento sobre tal período histórico fosse transmitido por meio das partidas.   Algumas equipes optaram por adaptar jogos já conhecidos e outras elaboraram todo o processo. A partir de recursos diversos, como imagens produzidas no computador, ou então estratégias mais simples como papel e tesoura, cada grupo concebeu não só o jogo, mas também todas as regras que permitiriam a qualquer pessoa tornar-se um jogador. Ao final, os grupos trocaram os tabuleiros entre si para apresentar os resultados aos colegas e como uma forma de aprender com instrumentos diferentes. Interdisciplinaridade   “Foi um trabalho muito interessante do ponto de vista da redação, pois os estudantes perceberam a importância de ler as regras e também de redigi-las  de forma clara para que todos pudessem compreender. Foi ainda um auxílio para incentivá-los à leitura, uma vez que muitos preferem descobrir as regras a partir do diálogo com outros colegas e não pelo contato com os textos”, contextualiza Isabel.   O grupo do estudante Guilherme Vital Senise da Silva, de 13 anos, criou um jogo em que, para avançar, o participante precisa responder a perguntas sobre o sistema feudal. Se a resposta estivesse correta, recebia além da permissão para mudar de posição no tabuleiro, pequenos sacos de arroz, uma representação do sistema econômico da Idade Média, baseado principalmente na agricultura de sobrevivência e no escambo.   Já a aluna Juliana Santos Pinto Coelho, de 14 anos, criou com seu grupo um jogo em que o objetivo era se tornar um senhor feudal e, para isso, era necessário adquirir riquezas, conquistadas a partir de respostas corretas durante a partida.   “Foi uma forma muito dinâmica de aprender, além de envolver duas disciplinas. A gente percebeu como os conteúdos estão interligados na prática e como é possível entender tudo de forma prazerosa”, explica Guilherme.   “Trabalhar em grupo é sempre mais interessante, quando várias matérias são usadas, pois cada um pode contribuir com o que sabe mais”, diz Juliana.   Além de história e redação, mesmo de forma indireta, outros conteúdos também foram agregados, como é o caso de matemática, necessária para trabalhar com as proporções ao serem criadas as peças dos tabuleiros, e artes, na preocupação estética e visual do jogo.   Para o professor de história, o resultado repercutiu, inclusive, nas notas dos alunos nas avaliações. “Percebi não só mais domínio do conteúdo como também mais facilidade para organizar as respostas, pois dominavam o assunto muito bem. Isso será também importante porque esse assunto é imprescindível para entender os demais, que vêm na sequência da disciplina”, ressalta.    Fases   Um dos pedagogos mais renomados do mundo defendeu o uso de jogos na educação como forma de aprendizagem, acompanhando as etapas de desenvolvimento dos alunos.   O suíço Jean William Fritz Piaget (1896-1980) acreditava que os jogos eram formas de assimilar o conteúdo, gerando sentimento de prazer e de domínio sobre as atividades.   O pedagogo esquematizou quatro tipos de jogos que, em cada fase da vida, são responsáveis por suscitar determinadas habilidades, de acordo com desenvolvimento natural da cognição. De acordo com essa teoria, até os 2 anos, vigoram os jogos sensórios, ou seja, aqueles que desenvolvem habilidades motoras, como chacoalhar, jogar e puxar.   Os jogos simbólicos, que fazem representações da realidade, devem ser utilizados entre os 3 e os 7 anos.   Depois dessa fase, os alunos já estão aptos a usar os chamados jogos de regra, em que é necessário aprender a seguir esquemas, desenvolver papéis e assumir posições de liderança.   Na adolescência, Piaget defende o uso dos jogos de estratégia, aqueles que combinam diversas habilidades, envolvem competições, exigem a análise dos erros e o planejamento das jogadas, visando tomar decisões.    História   O feudalismo foi o modo de organização da sociedade que vigorou entre os séculos 4 e 9 da Era Cristã, constituindo-se a chamada Alta Idade Média.   Na época, os senhores feudais eram agropecuaristas que recebiam o direito a uma gleba de terra para morar, além da proteção.   A sociedade era composta por três grandes grupos: os nobres, o clero e os servos, cada um com suas atividades muito bem definidas.   A produção feudal tinha como base a economia agrária, com circulação monetária muito restrita, em que prevalecia o escambo.   A partir do século 9, de forma gradual, o sistema feudal entra em declínio e dá origem ao sistema capitalista. Muitas cidades europeias desse período tornaram-se livres das relações servis e eram chamadas de burgos.   Por motivos políticos, os “burgueses” (habitantes dos burgos) recebiam apoio de reis em conflito com os nobres para se desenvolver.

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