MEMÓRIA

Jaguariúna quer polo turístico em fazenda histórica

Propriedade do século 18 é preparada para turismo e pode receber até gabinete do prefeito

Rogério Verzignasse
27/04/2013 às 05:03.
Atualizado em 25/04/2022 às 18:34
Propriedade do século 18 é restaurada e pode até virar gabinete do prefeito (Janaína Maciel/Especial para AAN)

Propriedade do século 18 é restaurada e pode até virar gabinete do prefeito (Janaína Maciel/Especial para AAN)

A casa grande é espetacular. Paredões de taipa, treliças imensas de madeira, janelas de pinho de riga, assoalho de jatobá, pilastras de pedras. Mas, do lado de fora, a Fazenda da Barra também impressiona. A propriedade rural, da metade do século 18, é um exemplar raríssimo de como funcionavam as poderosas fazendas em Jaguariúna. Eram verdadeiras agroindústrias. A água de rios e córregos, por exemplo, irrigava a plantação, lavava grãos, movia pás. Já se passaram mais de 150 anos. E ainda há resquícios do imenso aqueduto, da velha serraria, da roda d’água que gerava energia, do compartimento onde funcionava o moinho de grãos.

Com recursos federais, a Prefeitura faz atualmente o restauro da propriedade, que deve se tornar atração turística. E fala-se, no Paço Municipal, que o salão principal da casa-sede será adaptado como gabinete do prefeito Tarcísio Chiavegatto (PTB).

De acordo com a diretora de Turismo e Cultural da cidade, Márcia Coelho, as intervenções, com custo total previsto de R$ 5 milhões, começaram ainda no governo anterior, de Gustavo Reis (PMDB). Desde abril do ano passado, R$ 1,5 milhão do governo federal recuperou a capela, o aqueduto, dois galpões, antigas instalações fabris, janelas. “Vamos procurar parcerias para a conclusão de todo o restauro”, disse. Hoje, o casarão é fechado ao público. O velho assoalho apodrecido foi removido de diversos cômodos. Há rombos e rachaduras em paredes. O tempo compromete até a preservação de belíssimos arabescos no papel de parede afixado nos cômodos de entrada.

A estrutura impecável da fazenda se tornou objeto de estudo do pesquisador Roberto José d’Alessandro, arquiteto que apresentou, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma dissertação de mestrado mostrando o processo de formação do território de Jaguariúna. O trabalho de fôlego, que exigiu mais de dois anos de pesquisa de campo, detalhou o notável poder econômico das sesmarias.

De acordo com o pesquisador, o potencial produtivo do território foi descoberto pelos bandeirantes. A colonização se interiorizava e rios importantes incentivavam a ocupação. O solo era fértil e as propriedades rurais se tornaram grandes vetores de desenvolvimento. A chegada da ferrovia, em 1875, consagrou o milionário ciclo cafeeiro.

“O rústico dos dias de hoje eram equipamentos avançadíssimos para a época. A água captada do córrego corria por canaletas ao redor do terreiro e movimentava a moenda”, explicou. “Havia uma preocupação toda especial de se aproveitar a força da gravidade e aproveitar a água por toda a gleba, antes que ela desaguasse no Rio Camanducaia”, afirmou.

Para levantar o perfil produtivo da época, o arquiteto campineiro vasculhou também as dependências de outras três importantes fazendas do município: a Jaguari (hoje Santa Úrsula), a Santa Francisca do Camanducaia e a Serrinha. A Barra virou objeto de estudo por uma razão muito simples. Desde 2008, os 16 alqueires que restam da sesmaria original foram adquiridos pela Prefeitura. “Essa fazenda pode se tornar um espaço da história preservada. Todas as demais são propriedade particular. Ainda que existam casarões históricos tombados, quase nada restou dos equipamentos produtivos”, disse.

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