PROTESTO

Jacutinga faz cachecol de 60 Km contra chineses

Peça entrará para o Livro Guinness dos Recordes; manifestação é contra a 'concorrência desleal'

Cecilia Cebalho
02/04/2013 às 10:17.
Atualizado em 25/04/2022 às 22:12
Precisamos de isenção de impostos e desoneração da folha, disse Bandeira, autor do cachecol (César Rodrigues/ AAN )

Precisamos de isenção de impostos e desoneração da folha, disse Bandeira, autor do cachecol (César Rodrigues/ AAN )

Jacutinga, cidade mineira a 100 quilômetros de Campinas e conhecida pelas fábricas de malhas, vai entrar para o Livro Guinness dos Recordes por ter confeccionado o maior cachecol do mundo. Ele tem 60 quilômetros de comprimento - o equivalente à distância entre Campinas e Limeira.

A máquina que tece a peça desde 16 de fevereiro de 2011 será desligada na manhã do próximo sábado (6), quando o cachecol será apresentado oficialmente. O feito do município de 23 mil habitantes é uma forma de protesto contra a invasão da malharia asiática no mercado nacional.

O recorde atual, de 54,5 quilômetros, é do País de Gales, no Reino Unido, e foi ultrapassado em outubro do ano passado pelos jacutinguenses. Os 5,5 quilômetros “de lambuja” são para garantir um o pódio .

Responsável por 30% da produção brasileira de tricô industrializado, a cidade iniciou a empreitada em fevereiro de 2011, ano em que as empresas locais amargaram um forte prejuízo.

Desde 2005 as fábricas de malhas no município cresciam, em média, 15% ao ano - mas entre 2011 e 2012 houve uma queda de 20% e a demissão de 1,5 mil trabalhadores. Ao todo, a cidade emprega mais de 17 mil pessoas em 1,3 mil fábricas e 750 lojas de tricô.

“A concorrência com os produtos da China é desleal. Precisamos que o governo nos dê diminuição de impostos e desoneração da folha de pagamento”, disse o presidente da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Jacutinga (Acija), Denis Bandeira, autor da ideia de fabricar uma peça de malha para entrar no Guiness.

E ele não se contentou com a sugestão dos integrantes da entidade em fazer “apenas” o maior suéter do mundo (que tem 80 metros de comprimento) - e quis partir logo para uma alternativa mais impactante.

“Na verdade, vamos quebrar dois recordes, porque o cachecol que tem o título de maior do mundo hoje foi feito por várias máquinas, enquanto o nosso foi todo feito por uma única”, afirmou Bandeira. A máquina em questão, é um pequeno tear industrial com mais de 20 anos de uso, e que quebrou 10 vezes durante a empreitada. Ao todo, oito funcionários da Acija se revezaram para vigiar o equipamento tecer a peça, que pesa cerca de 2,5 toneladas e é feita de fios coloridos doados por duas grandes empresas da cidade.

“O tear só para à noite. Já tivemos que trocar a agulha diversas vezes e também o motor, que fundiu”, explicou a gerente-executiva da Acija, Vânia Zanelatto. Um “diário de bordo”, exigência da organização do Guiness, narra os percalços da “obra”.

A empreitada teve o apoio da Prefeitura, que confeccionou todo o material de divulgação do novo recorde. Para o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Miller Moliani, a notícia deve chamar atenção do poder público.

“Se a indústria automotiva vai mal, as 20 maiores montadoras brasileiras se reúnem com a presidente. Mas nós somos muito pequenos. Por isso, usamos a criatividade para sermos notados e ouvidos”, disse.

Ex-vendedora de uma loja de malhas, a desempregada Renata Maria de Oliveira, de 19 anos, acredita que o cachecol deve incrementar a economia de Jacutinga.

“A crise na cidade foi feia, muita gente teve que procurar emprego em municípios vizinhos. O cachecol deve chamar atenção para a cidade,e acho até que vai ajudar a aumentar o turismo”.

Jaguariúna em números 

Habitantes: 23 mil

Fábricas de malhas: 1,3 mil

Lojas: 750

Principais compradores: grandes magazines e marcas famosas

Exportações: mais de 30 países

Empregos gerados durante a temporada de inverno: 6 mil

Produção mensal de peças: 2 milhões

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