agricultura

Inovação é a sua marca

Prestes a completar 132 anos, o Instituto Agronômico de Campinas traz mais novidades para a mesa do brasileiro

Kátia Camargo
22/04/2019 às 14:56.
Atualizado em 04/04/2022 às 09:12

É num prédio clássico e imponente, fundado pelo imperador D.Pedro II, em 1887, que funciona o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Por lá, o silêncio e o contato com a natureza fazem até esquecer que se está em frente da movimentada Avenida Barão de Itapura. Em meio a árvores centenárias distribuídas numa área de 1.279 hectares, o local atrai visitantes um tanto raros para uma cidade grande, como tucanos e até bicho-preguiça. Mas quem pensa que estamos falando de algo do passado se engana. Prestes a completar 132 anos em junho, o IAC carrega uma longa história de modernidade e importância como pólo gerador de inovação e avanços no campo da ciência e tecnologia para a agricultura brasileira.É de lá que nascem as preciosidades já incorporadas ao cardápio diário do brasileiro, além de outras pesquisas que ainda nem chegaram à mesa da população, mas caminham para isso. Dentre elas, está o consagrado feijão carioca, uma das leguminosas mais consumidas no Brasil, desenvolvida pelo IAC no ano de 1970, ou seja, é quase um cinquentinha. Tanto que sua mais recente versão (pois continua sendo fonte de importantes pesquisas no IAC) é o feijão carioca IAC 1850. Ele vai debutar na Agrishow 2019, que ocorre entre os dias 29 de abril e 3 de maio, em Ribeirão Preto. Hoje aposentado, o pesquisador Luiz D'Artagnan de Almeida foi o impulsor das pesquisas na variedade e ficou conhecido como o ‘pai do feijão Carioca’. A novidade tem como característica mais importante uma maior tolerância ao escurecimento. “Os grãos da cultivar IAC 1850 mantêm coloração clara por até 90 dias, isso acaba sendo muito bom para o consumidor e também para o agricultor”, destaca Marcos Antônio Machado, diretor do Instituto Agronômico de Campinas e pesquisador do órgão na área de citricultura. O diretor conta que o trabalho desenvolvido no IAC é reconhecido dentro e fora do Brasil. “Nosso objetivo é sempre propor produtos e processos inovadores, contribuindo para a segurança alimentar. Acredito que a agricultura no Brasil é o caminho do presente e do futuro do nosso País”, afirma.Tangerina brasileira A primeira tangerina 100% brasileira está sendo desenvolvida no IAC. Fruto de uma pesquisa de 20 anos, ela foi batizada carinhosamente de IAC2019 Maria. “Essa nova tangerina é também a primeira cultivar de citros do IAC protegida no Sistema Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)”, destaca o diretor.Ele ressalta ainda que apesar de as tangerinas formarem o grupo mais importante de frutas de mesa consumidas no mercado nacional, até então tudo que se vende nas gôndolas são cultivares introduzidas no Brasil ou originadas de mutação. “A IAC 2019Maria resulta de melhoramento genético convencional, isto é, não se trata de cultivar transgênica”, conta.A fruta recebeu esse nome por ser bem representativo do País, diz Mariângela Cristofani-Yaly, pesquisadora do IAC, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Dentre suas características estão o menor número de sementes, coloração intensa e tamanho do fruto. “Estamos oferecendo um produto diferenciado para a citricultura paulista”, garante Cristofani-Yaly. Vale destacar que para esta variedade entrar no mercado ainda vai demorar um tempo. Do campo para a indústria Na indústria alimentícia, há sempre um grande interesse por parte dos pesquisadores do IAC de atuar no desenvolvimento de novos produtos ou processos de produção otimizados. As laranjas de polpa vermelha constituem um grupo de variedades ainda pouco explorado comercialmente no Brasil. Em relação às laranjas amarelas, essas variedades apresentam como diferencial a produção de frutos de coloração vermelha na polpa, que é transferida aos seus sucos. Para contribuir com esse nicho de mercado citrícola, o IAC desenvolveu quatro variedades de laranjeiras classificadas no grupo de laranjas de polpa vermelha: a Baia Cara-cara, Vermelha precoce, Sanguínea de mombuca e Valência Puka. Segundo Rodrigo Rocha Latado, pesquisador do IAC, a coloração vermelha da polpa e do suco das laranjas de polpa vermelha se deve à presença de teores mais elevados de carotenóides totais, de alguns carotenóides específicos e à produção de outros que normalmente estão ausentes na polpa das laranjas amarelas, como o licopeno, por exemplo. “A laranja tem sido conhecida como uma importante fonte de vitamina C para a alimentação humana. Entretanto, acredita-se que o cultivo e a comercialização de variedades com frutos e suco de frutos que contenham maiores teores de carotenóides se constituiria num grande apelo para o aumento do consumo de laranjas na forma de fruta fresca ou suco pasteurizado”, afirma. Abacaxi em gomos O abacaxi IAC Gomo de Mel, originário da China, não é um lançamento, mas está sendo multiplicado pelo IAC e deve demorar uns quatro anos para as mudas chegarem até os produtores. Para se ter um ideia, esse produto contém praticamente o dobro de doçura dos que existem no mercado atual e pode ser consumido sem precisar descascar, já que sua polpa em gomos se retira com as mãos. Mas, há um porém: suas características atrativas acabam refletindo também no preço, que é quase três vezes maior do que de um abacaxi comum. Sem intervenção humana, o Gomo de Mel foi desenvolvido por cruzamento natural entre espécies já existentes na China. No IAC, os estudos sobre a produção tiveram início em 1991, com duração de 11 anos. Só então foram iniciados os plantios comerciais.Apesar desse perfil atrativo, o abacaxi em gomos tem uma fragilidade genética por ser altamente suscetível à fusariose, a principal doença do abacaxizeiro. Essa foi a causa de o Gomo de Mel ter sua produção descontinuada após ter frequentado com sucesso as gôndolas de varejões há mais de uma década. Somada ao obstáculo da doença, veio a exigência do MAPA, que é posterior ao lançamento da cultivar, registrada em 2002 no Registro Nacional de Cultivares (RNC).Outros abacaxis A mais recente variedade de abacaxi lançada pelo IAC é a “IAC Fantástico”. “Apesar de não destacar os gomos, essa variedade atrai por ser muito saboroso e sem espinhos nas folhas, o que beneficia muito o manejo da planta, também resistente à fusariose e mais produtivo”, explica a pesquisadora.

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