Nos anos 50 e 60, já lá se vão mais de cinco décadas, a rotina de um estudante de ginásio (período de quatro anos que sucedia os quatro anos de primário) e de colégio era muito interessante. Ao chegar à escola entregava a “caderneta de notas” na portaria. Esse era um documento fundamental em sua vida estudantil. Tinha o formato de um passaporte e nele eram registradas a sua frequência, suas notas e advertências ou punições que recebesse durante o ano escolar. Na Associação de Ensino, o seu Zequinha, a Dona Benvinda ou o Sr. Wilson Crivelente recebiam essas cadernetas. Entravamos para a sala de aulas apos o sinal, que era som muito estridente de uma campainha, esperávamos o professor.À sua entrada, a classe toda se colocava de pé e esperava a frase: “Podem sentar-se”. Seguia-se então a chamada diária que era anotada no caderno de classe, e então a aula. Desfilaram nessa rotina pela minha retina e memoria professores inesquecíveis. Professores excelentes de português, matemática, francês, inglês, latim, historia, geografia, desenho, musica, trabalhos manuais, física, biologia, química, espanhol. Era esse o elenco de disciplinas do ginásio e do colégio Tínhamos cinco aulas de cinquenta minutos por período. Os professores terminavam suas aulas “passando a lição de casa”. Ao sairmos pegávamos a “caderneta” com o carimbo de presente no espaço correspondente daquele dia. Ao chegarmos a nossa casa, depois de almoçar, ou se estudássemos à tarde, na manhã seguinte, a primeira atividade era fazer a lição de casa ou tarefa, e depois dela, é claro, futebol, papagaio, biroca etc. Afinal ninguém é de ferro. A cada dois meses trazíamos a “caderneta” para o “pai ou responsável” ler e assinar. Nela estampada o numero de faltas e as notas (às vezes ruins), que variavam de zero a dez. No final do ano, o aluno que obtivesse sete de média era aprovado sem exame. Menos de sete, levava ao um exame final. Se após essas chances a média ainda ficasse abaixo de cinco ele faria a recuperação ou como chamávamos segunda época. Teria aulas e deveria estudar nas férias. Se mesmo assim não demonstrasse os conhecimentos mínimos necessários era reprovado. Simples e educativo, pois em nossas vidas recebemos varias segundas épocas e às vezes somos até reprovados. Não havia a interpretação que reprovação significa falha da escola, a menos que seja em massa. Essa interpretação é moderna. Em uma classe com trinta alunos a reprovação de dois ou três sugere falha do aluno e não da escola ou do professor e confesso nunca entendi essa atitude como perseguição ou vingança pessoal. Há cerca de uma ou duas semanas, Anno Domini 2013, o prefeito de São Paulo anunciou um projeto inovador, para melhorar o ensino. A noticia estampada nos jornais da capital anunciam: a proposta, que ficará em consulta pública até 15 de setembro. Ela fixa a obrigatoriedade de provas bimestrais e de lição de casa aos alunos. As notas irão de zero a dez, em vez dos atuais conceitos (plenamente satisfatório, satisfatório e não satisfatório). Para o secretário de Educação, "não se trata de mais rigidez aos alunos, mas de mais organização". Segundo ele, as escolas saberão com mais rapidez as dificuldades dos alunos e poderão atacar o problema. Sem ter tido acesso à proposta, o presidente do sindicato dos diretores da rede municipal, faz ressalvas às notas de zero a dez em lugar de conceitos e à reprovação. “É preciso ter cuidado com a forma como os professores receberão esses instrumentos nas mãos deles” (sic).“Há histórico de professores que usam nota como forma de repressão, como se fosse uma arma para controlar o aluno". O plano estabelece boletim bimestral para acompanhamento do desempenho de alunos, que os pais poderão consultar também pela internet. Há 219 anos, Antoine-Laurent de Lavoisier, nascido em 1743 e guilhotinado a 8 de maio de 1794, anunciava que: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Poderíamos completar pedindo licença ao Monsieur Lavoisier, e acrescentar: “transforma, mas a transformação nem sempre é original.”