A realização de um evento como a Copa do Mundo de Futebol tem sido para os organizadores uma oportunidade ímpar de investimentos que reverteram na projeção da imagem dos países sede por todo o mundo, deixando ainda um legado de obras relacionadas à infraestrutura esportiva e de transformação das cidades. O mais forte argumento em favor da realização da Copa - e, por extensão - da Olimpíada de 2016, é que o Brasil terá a oportunidade de projetar-se como nação capaz de organizar eventos deste porte, além de acenar com a melhoria da estrutura viária, de mobilidade, segurança, transportes, além dos aeroportos melhorados para receber o fluxo de profissionais e turistas.Não é sem razão que os críticos apontam a incapacidade brasileira de desenvolver projetos grandiosos sem contratempos. O previsível superfaturamento das obras, o atraso das providências e os inúmeros problemas denunciados reafirmam o pressentimento de que o resultado final poderá não ser o esperado. Faltando menos de cinco meses para o início da Copa, também as obras previstas de infraestrutura turística sequer começaram em nove das 12 cidades-sedes do evento, segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU). O Ministério do Turismo admite que apenas três dos 37 projetos começaram, mas reafirma que tudo deverá estar pronto até o início do evento (Correio Popular, 9/2, A14).Esse é apenas mais um elemento que coloca dúvidas em relação à realização da Copa com todo o profissionalismo que se esperava. Parece que o País se acostumou a ter sobressaltos toda vez que os investimentos estão atrelados ao poder público. Qual um buraco negro que absorve todos os recursos insaciavelmente, as iniciativas oficiais estão sempre cercadas de dúvidas, questionamentos quanto à lisura dos procedimentos, além da incapacidade de cumprir prazos.Já existe experiência anterior com a realização dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, que praticamente não legou nenhum benefício que não o Estádio do Engenhão, entregue com falhas estruturais graves. Muito do restante é inaproveitado ou simplesmente não existe mais, sepultando o argumento de que o Brasil herdará uma infraestrutura excepcional por conta do evento. No máximo, o governo estará cumprindo apenas parte dos investimentos que o país retardou há décadas e agora é exigido em nome do ritmo de desenvolvimento inexorável.