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Livro revela história da imprensa de Campinas e como os jornais evoluíram para atrair as massas

Rogério Verzignasse
30/04/2016 às 07:30.
Atualizado em 23/04/2022 às 00:45
O escritor Duílio Battistoni Filho, escritor de 'Imprensa e Literatura em Campinas nos Seus Primórdios': resgater
 ( Elcio Alves/AAN)

O escritor Duílio Battistoni Filho, escritor de 'Imprensa e Literatura em Campinas nos Seus Primórdios': resgater ( Elcio Alves/AAN)

Houve um tempo em que a informação ocupava espaço menor no jornal impresso. É, o noticiário, por incrível que pareça, disputava as páginas com poesias, contos, novelas. Reduto de intelectuais, a redação escrevia para um público culto, que esperava texto elegante, conservador, fiel a normas clássicas. O repórter, então, abusava de adjetivos, floreios, elogios, frases pomposas. Jornalismo e literatura, enfim, faziam parte da mesma mercadoria. E, de olho naquele “cunho romântico” da profissão, um campineiro decidiu transformar em livro a saga da imprensa aqui pelas terras de Carlos Gomes. O escritor Duílio Battistoni Filho, de 78 anos (dono da cadeira 25 da Academia Campinense de Letras, a ACL), mergulhou em arquivos e bibliotecas ao longo de dois anos. Reuniu material rico para uma obra que terá lugar garantido na estante de quem gosta de história e jornalismo. 'Imprensa e Literatura em Campinas nos Seus Primórdios' tem o objetivo de mostrar características marcante do texto, que já foi produto de consumo exclusivo para letrados, e que com o tempo se transformou em um instrumento objetivo, engajado, politizado. Duílio vasculhou a trajetória de gente como Leopoldo Amaral, que inaugurou na cidade a reportagem investigativa, em matérias na combativa Gazeta de Campinas. Também fala de Júlio Mariano, que desenvolveu estilo conciso e ajudou a sepultar o texto rebuscado de antes. Mariano, aliás, foi fonte essencial na pesquisa de Duílio. Como nenhum outro jornalista da cidade, o cidadão citado na obra passou a vida estudando e analisando transformações na profissão. Júlio, de pena precisa, falava de redatores que abandonavam o idealismo para sobreviver, de empresas que sucumbiram a crises, era após era. Saga Duílio conta que a imprensa de Campinas nasceu em 4 de abril de 1858, quando foi publicado o primeiro exemplar do Aurora Campineira. O jornal, sediado na Rua do Pórtico, atual Ferreira Penteado, era um tablóide de quatro páginas e surgiu na época em que a cidade tinha perto de 9 mil moradores. A pesquisa passa por inúmeros títulos que surgiram e desapareceram. Alguns importantíssimos, como a Gazeta de Campinas, que para Duílio foi nosso primeiro “jornalão”: influente, temido, respeitado. E o trabalho se encera como o desempenho marcante de Álvaro Ribeiro, fundador do Diário do Povo e do Correio Popular. O autor explica como Ribeiro lançou, por aqui, o jornalismo interessante para públicos diferente. “As matérias de polícia, esportes e cultura, por exemplo, surgiram e conquistaram uma massa de leitores”, fala. “Ao mesmo tempo em que se modernizou tecnologicamente, o jornal impresso aprendeu a vender um produto que despertava interesse popular, sem os devaneios e adjetivos de antes.” Álvaro Ribeiro O escritor Duílio Battistoni Filho é objetivo. Quem revolucionou de verdade a imprensa de Campinas foi Álvaro Ribeiro (foto). Primeiro, ele criou o Diário do Povo, em 1912. “Era o nascimento do jornalismo moderno por aqui”, fala. Homem público, a quem a imprensa era uma necessidade premente, Ribeiro lançou o Correio Popular em 4 de setembro de 1927.  E, mesmo depois de sua morte, a publicação se manteve fiel à linha editorial que fazia oposição aos desmandos cometidos por governantes. Filho dos portugueses Maria Augusta e Antônio Joaquim Ribeiro, Álvaro nasceu em 17 de fevereiro de 1876 e morreu com apenas 53 anos, em 13 de agosto de 1929. Fundou dois jornais, construiu e dirigiu um hospital para crianças pobres e dois colégios (Cesário Motta e o Ateneu Paulista). Foi vereador por sete legislaturas consecutivas desde 1906, e escreveu um livro, 'Falsa Democracia', denunciando o clientelismo político no Brasil, nos três anos que passou exilado em Portugal, por causa da fracassada revolução de 1924. SAIBA MAIS O lançamento oficial do livro 'Imprensa e Literatura em Campinas nos seus Primórdios' acontece nesta segunda-feira (2), às 17h30, na Academia Campinense de Letras (ACL), que fica na Rua Marechal Deodoro, 525, Centro. O telefone para maiores informações é o (19) 3231-2854. O endereço eletrônico do autor é [email protected]. A primeira edição da obra, editada pela Pontes, saiu com 300 exemplares e custa R$ 38,00 nas livrarias da cidade.

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