RETOMADA

Indústria se prepara para voltar a exportar

Várias empresas, contudo, já estão se beneficiando da desvalorização do real, de 28% até agora, além do desempenho favorável do mercado americano e de economias dolarizadas

Agência Estado
01/08/2015 às 12:18.
Atualizado em 28/04/2022 às 18:00
Brasil fechou maio com resultado positivo na balança comercial (  Cedoc/RAC)

Brasil fechou maio com resultado positivo na balança comercial ( Cedoc/RAC)

Com o câmbio mais favorável e o mercado interno em queda, exportar é uma das poucas alternativas para empresas brasileiras. Há um movimento intenso em vários setores para recuperar mercados perdidos. A reação ainda não aparece na balança comercial, que aponta queda de 8% nas vendas externas de manufaturados neste ano em relação ao anterior, mas já anima segmentos industriais.O movimento ainda não será suficiente para reverter o déficit na balança de manufaturados mas, pelas contas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o saldo negativo será menor este ano. “Devemos sair de um déficit de US$ 109 bilhões em 2014 para US$ 82 bilhões”, calcula o presidente da AEB, José Augusto de Castro. “O Brasil ficou muito tempo fora de mercados importantes, como Estados Unidos, e o retorno não é imediato.”Várias empresas, contudo, já estão se beneficiando da desvalorização do real, de 28% até agora, além do desempenho favorável do mercado americano e de economias dolarizadas.Há dez anos, a fabricante de ônibus Marcopolo perdeu um importante cliente externo, o Oriente Médio, para onde mandava 1 mil veículos por ano. A empresa chegou a desenvolver ônibus especiais para a região, com teto removível para transportar peregrinos a Meca, na Arábia Saudita, que precisam sentir o sol na cabeça.Nos últimos anos, perdeu os contratos para grupos asiáticos. Agora, com o movimento oposto do dólar, a Marcopolo conseguiu um primeiro pedido de 20 ônibus para Omã. “O volume ainda é pequeno mas é significativo voltar a esse mercado”, diz Ricardo Portolan, gerente de exportações. “É um sinal concreto de retomada.”No auge do comércio internacional, a Marcopolo exportava 6 mil ônibus por ano, volume que caiu para 2 mil em 2014. Com a melhora cambial, Portolan aposta em crescimento de 10% a 20% neste ano. No primeiro semestre, a empresa já exportou 12% a mais que em 2014.Para Portolan, o dólar a R$ 3,20 ajuda mas, nesse patamar, a recuperação será mais lenta, com crescimento anual de 10% a 20% nas exportações. A R$ 3,50, o aumento atingiria 30% a 40%. “É um valor que pode compensar a inflação alta e custos de infraestrutura e logística que oneram nosso produto.”A fabricante de móveis Artefama exportava 100% de sua produção para os EUA e Europa. A partir de 2008, ao perder clientela externa, focou também o mercado interno, que passou a responder por 30% da produção. O dólar atraente levou a empresa a voltar a correr atrás de clientes que havia perdido e as exportações cresceram 25% neste ano, para US$ 12 milhões.“Tivemos de investir R$ 5 milhões em maquinário de corte de madeira”, informa Angelo Luiz Duvoisin, superintendente da Artefama, com fábrica em São Bento do Sul (SC).A Treboll, outra fabricante de móveis em Flores da Cunha (RS), exporta 80% da produção e deve vender 20% a mais neste ano. “Com dólar a R$ 3,20, R$ 3,30 dá para ganhar dinheiro”, diz o diretor financeiro, Alberto Peliciolli. Até o ano passado, vários clientes foram mantidos “no sacrifício, com prejuízos”. As vendas caíram, mas agora ocorre uma “retomada forte”. A principal cliente é a rede de varejo Marks & Spencer.Com o aumento da demanda, a Treboll teve dificuldades em entregar pedidos e pagou US$ 22 mil em multa por atraso. “Este ano estamos com a produção toda tomada”, diz Peliciolli. A empresa está investindo US$ 1 milhão em modernização, centro de usinagem e área de pintura. Foram contratados 25 funcionários e o quadro hoje é de 285 pessoas.Margem“Hoje temos margem de negociação e estamos prospectando novos clientes e procurando clientes do passado”, diz Renato Bitter, diretor da Savyon, fabricante de tecidos. Até 2005, 70% da produção no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, era exportada, fatia que hoje é de 30%. O objetivo é elevar para 50% em dois anos. Os maiores clientes são EUA, Canadá e Alemanha.O câmbio deu novo ânimo a uma leva de empresas do setor têxtil. Pesquisa feita em julho pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) mostra que 85% das empresas consultadas querem retomar ou iniciar exportações. No fim de 2014 esse porcentual era de 50%.Segundo José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, o câmbio é importante, mas, sem inovação, exportar é difícil. “E inovar leva pelo menos dois anos, por isso quem está conseguindo exportar são empresas que já estão preparadas.”A fabricante de pastilhas de freios Federal Mogul aumentou em 31% o volume de exportações no primeiro semestre e conquistou clientes em três novos mercados - Chile, Paraguai e Uruguai. “Estamos buscando outros mercados na América do Sul pois os preços voltaram a ser atrativos”, diz o diretor-geral José Roberto Alves.“Neste momento só nos resta atacar a exportação, pois não há o que fazer para aumentar os volumes internos”, diz Odair Renosto, presidente da indústria de máquinas Caterpillar. A dificuldade, diz ele, “é que competimos com países que também estão desvalorizando suas moedas, mas não têm inflação tão alta, além de aumentos de custos com energia, matéria-prima e mão de obra”.Uma das medidas que a Caterpillar adotou para reduzir custos logísticos foi exportar produtos em contêineres e não mais pelo sistema roll-on roll-of. “Há navios de contêineres partindo semanalmente do Brasil para os EUA, enquanto a frequência de navios roll-on roll-of é a cada 15 dias.” Com isso, um dos gastos cortados é com armazenagem.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por