A opinião pública brasileira que valoriza a educação de qualidade ficou perplexa com o noticiário desta semana a respeito de redações corrigidas e bem pontuadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Textos que foram avaliados com nota máxima apresentavam, absurdamente, erros crassos de português. Os exemplos são vários: “rasoavel”, “trousse” e “enchergar” constavam destas redações consideradas de ótimo desempenho pela banca examinadora.
Além disso, duas outras redações chamaram bastante a atenção ao usarem de clara impertinência ao inserirem no meio do texto uma receita de macarrão instantâneo e até o hino do Palmeiras. O que é pior, na nota à imprensa em que responde a estes questionamentos, o Instituto Nacional de Educação e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação que organiza o Enem, afirma que “desconsiderada a inserção inadequada, o texto tratou do tema sugerido e apresentou ideias e argumentos compatíveis”.
Não é de hoje que a educação no Brasil tem merecido análises as mais profundas e abrangentes possíveis, no sentido de apontar soluções para problemas antigos. Porém, a sensação que vigora junto a quem vive o dia-a-dia das escolas — sobretudo as públicas — é de que muita coisa ainda há de ser feita. Para estes anônimos personagens, a propaganda oficial não seduz.
O episódio do Enem, além de revelar a carente formação dos estudantes, expõe um viés de deboche e de desprezo ao educador. A desculpa dada por um deles de que queria apenas “testar” o corretor da prova para ver se ele estava atento é tão pobre quanto a sua redação. Ao optar por este caminho, ignorou risco de uma eliminação, colocando a perder todo um ano de estudos. A atitude revelou também o valor que aquele evento educativo tinha para ele: oportunidade de exercitar a insolência e a irreverência, em detrimento da responsabilidade que lhe cabia como um aluno.
Para o MEC, as lições são muitas. Após os vários episódios de vazamento das provas em anos anteriores, que obrigaram a uma revisão da conduta de segurança da prova, o Enem expõe desta vez uma necessidade de se adotar um novo sistema de correção, capaz de evitar aberrações como as do hino palmeirense e do macarrão instantâneo. É imprescindível que a avaliação não seja por amostragem, que haja tempo para os corretores e que eles tenham preparo e autonomia para aplicarem a cartilha da boa educação.