MOACYR CASTRO

Homenagem

Moacyr Castro
09/02/2014 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 22:13

Em Campinas, só não foi enrolador de tapete de circo. Mas fez e serviu sorvete na Capelli, assim que chegou de Minas. Simples de tudo, humilde de tudo, simpático de tudo, ganhou o coração de todos. Num fim de noite, entrou na sala do Roberto Godoy, no “Correio”, lá na Rua da Conceição, entregou um papel e desceu pela escada. Betão previu: “Esse moleque vai ser um dos melhores jornalistas do Brasil.”. Foi. Mais um pouco, vira reitor da Unicamp. “O Mandarim”, sua obra sobre a Unicamp e seu reitor maior, Zeferino Vaz, sinalizam isso. Escreveu o que melhor se lê sobre a escola e seu mestre, sem conhecê-lo. E quem conheceu o querido ‘Zefa’, como o Godoy e eu, arrepia. Depois da competência e da generosidade, sua marca maior era a distração. Um passarinho, nem aí com o mundo à sua volta, mas sempre acima do mundo de todos. Não enxergava longe, enxergava todos. Eufórico com o furo obtido na entrevista exclusiva com um general da ditadura, fez um voo acrobático pelas escadarias do Hotel Términus e passou pela enorme porta de vidro como um fantasminha. Ficou sabendo do estilhaço pelo secretário de Redação, Carlito Tontoli, que acabara de desligar o telefonema do gerente indignado. Sobre suas conquistas na imprensa, na literatura e na universidade, que comunicou como um pai exibe orgulhoso o filho à sociedade, já se falou. Mas o melhor quadro que temos desse passarinho foi pintado pela jornalista Sammya Araújo, sua colega nesta árvore chamada “Correio Popular”. Esboça, loira: “...é distraído e desorientado assumido, o Eustáquio Gomes. Suas perdições, esquecimentos e trapalhadas são conhecidos dos leitores. Como a que se meteu no dia do aniversário de 70 anos do artista plástico e amigo Bernardo Caro, em 2001. Bernardo morava em um condomínio no bairro Notre Dame, em Campinas, com acesso pela D. Pedro I. Em vez de pegar a segunda saída, a certa, rumava pela primeira e voltava à estrada. “Fiquei andando em círculos, me vi no Inferno de Dante.”. Decidiu começar tudo de novo. Mas, tonto de tanto girar, foi no sentido de Valinhos. Logo estava no mato. Era noite de rara Lua Azul, a segunda lua cheia no mesmo mês, tornando mais tétrica e surreal a aventura. “Peguei uma estradinha e parei numa guarita -- vazia. Na volta para o carro, meti os pés num brejo e fiquei com lama pelos joelhos. Naquela hora, a festa já era. Fiquei ouvindo sapos.”. Um carro passou, Tatá o seguiu até que um portão se fechou às suas costas. Era um condomínio. “Pensei: ‘Tô preso’. O celular não dava sinal. Vi um sujeito se esgueirando pela cerca, era o porteiro, assustado porque houve um assalto recente. Me orientou e finalmente consegui voltar para a estrada.”. Quase meia-noite, o aniversário tinha ido para as cucuias. “Expliquei ao Bernardo, mas ele não acreditou muito. Depois fiz uma crônica contando e recebi um retorno enorme de leitores dizendo que são iguaizinhos.”. Também é dos que têm os estacionamentos como portais para dimensões paralelas. Vizinho ao mercado, costumava ir a pé às compras, mas um dia foi de carro. E lá o largou. Jantou, dormiu, acordou e deu com o vazio na garagem de casa. “Pensei que tinha sido roubado, mas o portão não estava arrombado... Será que tinham chegado a esse nível de sofisticação?”. Com a mulher, saiu à caça do “fujão”. Nem assim se lembrou do que ocorrera. “Só achei o carro porque o vi no pátio do mercado.” Pregado no poste: “Deus está em boa companhia”

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