JOAQUIM MOTTA

Homem, Mulher e Datas...

Correio Popular
07/06/2013 às 10:31.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:58

De modo geral, nos dias dedicados à mulher, em qualquer outra data relacionada ao gênero feminino, ou nas datas pessoais do aniversário da companheira, comemoração de bodas, o homem não se situa com tranquilidade nem segurança. Na próxima quarta-feira, dia dos namorados, a dinâmica se repete.  Empenhado em agradar a mulher, mas restrito a pensar nisso só nessas épocas do ano, ele fica perdido, destreinado e mal acostumado.  Providenciar flores, preencher um cartão, escrever uma carta, redigir um e-mail, a não ser que o sujeito tenha uma inspiração poética recorrente, será um trabalho árduo e diligente.  Procurar por um presente, escolher uma joia, um vestido, um calçado, é tarefa exigente, que necessitará indefectivelmente de uma ajuda, profissional ou não, do gênero feminino.  Uma cunhada que possa dar sugestões, uma amiga comum que saiba manter segredo (já admitindo que não seja um decididamente incontável...), serão recursos prováveis. Em última instância, teremos a vendedora que salvará a escolha e que também deixará a chance restauradora da troca, caso a peça não faça o gosto da presenteada!  Se no homem permanecem ranços machistas e patriarcais consideráveis, ele terá a tendência de festejar a data a seu próprio estilo. Ou seja, oferecerá um cheque como presente, promoverá uma reunião com bebidas alcoólicas, carnes assadas, comida farta e finalizará a festa com o sexo. Se nele já se incorporaram valores feministas e argumentos de igualdade de gêneros, o dia será comemorado de um modo mais feminino. Ele poderá dispensar uma reunião com outras pessoas, convidará a homenageada para um jantar intimista. Mesmo assim, como homem que é, terá a relação erótica circulando pela sua cabeça, rondando pela noite, imaginando se ela não estaria esperando pelo sexo.  Na esteira da cultura falocentrada e dos carunchos machistas, muitas mulheres acomodam-se, contemplando essa convenção masculina.  Uma festa sem sexo é absurda, equivale a uma extrema penúria para o homem. Como transmitir a força da sua homenagem sem que a parceira receba a mensagem viril?  Por seu lado, a mulher poderá respeitar a coincidência com o período da TPM, ou a cólica de uma menstruação, talvez um filho meio febril que não a libere para o erotismo.  Mesmo que o calendário aponte para a ocasião feminina, sem a chance de fazer amor, o homem se frustrará profundamente, não se perdoando nem a desculpando pela ausência do encontro libidinoso. Pode ser que a mulher também se frustre, mas ele sofrerá muito mais.  Ainda que a data seja muito mais importante para ela, que o sexo seja um anexo dispensável ao evento e seu significado essencial, o homem tende a projetar na mulher os seus anseios e estilos, entendendo que ela também não poderia ficar sem sexo naquele dia.  Por seu turno, a mulher também estende sua maneira de lidar com amor e sexo para o homem, muitas vezes acreditando que ele possa amar como ela.  Muitas mulheres indicaram essa impossibilidade, e há bom tempo. Diferenças afetivo-eróticas entre os gêneros já eram apontadas na virada do século 18 pela literata francesa Madame de Stäel: "O amor, que não é mais do que um episódio na vida dos homens, é a história inteira da vida das mulheres."  Quanto mais preparado para o contexto atual, no entanto, mais acostumado às propensões femininas, à luta feminista pela igualdade sexual e à distribuição bissexual de tarefas, o homem pode adaptar-se melhor e não ansiar tanto pelo sexo.  Há homens que, sem perder o tradicional cavalheirismo nem a virilidade, conseguem desenvolver um charmoso lado feminino. Alguns suportam melhor longos períodos em que ficam desempregados ao exercer o papel de “dono de casa”.  Os tempos atuais estão mais flexíveis, há muitas alternativas para satisfazer homens e mulheres.  O sexo não pode ser fase indispensável de uma comemoração, nem pode representar uma “sobremesa” a mais do banquete. Mas a sua recusa não deve significar equivalentes de uma “greve” ou vingança feminista, pois a renúncia inclui frustração para a mulher.  A oferta imprescindível e autêntica, não importando os moldes mais ou menos sexistas, nem os apegos conservadores ou inovadores, tem que ser o amor.  Se um homem não souber oferecer amor, a não ser através do sexo, que faça - é melhor um machista franco do que um hipócrita com pretensão de parecer politicamente correto.  Quero lembrar ao leitor do nosso Grupo de Estudos do Amor (GEA). No site www.blove.med.br, clique GEA.

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