Sessão de Cinema

História de Judas

 Há enorme estranhamento ao assistir a História de Judas, do argelino Rabah Ameur Zaimeche, um dos concorrentes na mostra competitiva do 4&...

João Nunes
15/06/2015 às 09:25.
Atualizado em 23/04/2022 às 10:37

Judas (Divulgação)

 Há enorme estranhamento ao assistir a História de Judas, do argelino Rabah Ameur Zaimeche, um dos concorrentes na mostra competitiva do 4º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba que termina quinta-feira.

Trata-se de uma reconstituição histórica, a partir de literatura apócrifa, sobre o discípulo de Jesus. Até aqui, nenhum problema. Poderiam existir outras releituras que oferecessem questões apologéticas em relação à Bíblia a fim de serem debatidas abertamente e sem pudores religiosos.

Mas o problema do filme é outro. Em que pese oferecer nova visão sobre o famoso traidor – segundo a bíblia cristã – e transformá-lo no defensor incondicional do mestre (portanto, um sujeito bom e leal), não há muita razão de ser do próprio filme.

Afinal, ele se propõe a contar a história de Judas, mas boa parte do longa é dedicada à de Jesus. Com isso, revemos pela milionésima vez o líder cristão fazendo milagres, lavando os pés dos discípulos, perdoando a mulher pecadora, tendo os cabelos lavados com fino perfume por uma admiradora, e assim por diante.

E tudo narrado aleatoriamente. Ou seja, sem um traçado histórico lógico, reúne um pequeno conjunto de ações de Jesus e algumas outras de Judas e nos conta o que qualquer Paixão de Cristo já o fez – e sem o fervor religioso desta. Ao contrário, por não ter esta perspectiva, a narrativa é completamente fria; não há música, por exemplo.

Se ao menos o diretor e roteirista fizesse uma atualização do mito religioso; talvez trouxesse algum frescor a uma história tão batida, mas o que temos é uma produção de época e, como tal, precária.

A única novidade histórica efetiva é não tratar Judas como traidor. Fora isto, o filme não se sustenta como tal e ainda faz mal algumas sequências – como a do cortejo que leva a mulher pecadora para Jesus julgar: reiterativa e, portanto, exagerada. Como é a do choro excessivo e até constrangedor de Judas ao saber da morte de Jesus.

História de Judas se justificaria se o discípulo fosse o protagonista de fato e se a produção fosse crível para nos colocar dentro de um contexto capaz de convencer que estamos dois mil anos atrás – o que, efetivamente não ocorre. E, além disso, se a abordagem de um assunto tão conhecido tivesse um mínimo de novidade em termos cinematográficos – o que não, definitivamente, não é o caso.

* O jornalista viajou a convite do festival

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