Técnica de expansão da pele foi utilizada pela primeira vez em Campinas
Equipe durante cirurgia para colocação de placa de silicone e colágeno que permitirá crescimento da pele onde antes havia cicatriz: avanço ( Dominique Torquato/ AAN)
Uma equipe de especialistas realizou, nesta terça-feira (11), no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pela primeira vez na cidade, uma cirurgia de expansão de pele para o tratamento de queimaduras. O paciente é uma criança de 8 anos, que há pouco mais de um ano teve 45% do corpo queimado. O objetivo do HC é treinar profissionais e realizar esse tipo de procedimento com frequência, já que o material usado na cirurgia — e que ajuda na reconstituição da pele afetada — já está disponível através do Sistema Único de Saúde (SUS). O procedimento de ontem teve duração de aproximadamente duas horas e foi executado pelo cirurgião plástico especialista em cirurgias reparadoras Dilmar Francisco Leonardi, de Santa Catarina. O médico foi um dos cirurgiões que ajudou na retaguarda, em Porto Alegre (RS), no atendimento dos jovens vítimas de queimaduras da boate Kiss, em 2013, em Santa Maria (SC). A cirurgia Ontem, foi colocada na região do pescoço da criança uma placa composta por uma camada externa fina de silicone e uma interna de colágeno (proteína importante na constituição da pele), retirado no tendão do boi e considerado colágeno tipo 1, bem purificado. “Esse tipo de colágeno apresenta baixa rejeição”, explicou o professor Paulo Kharmandayan, chefe da área de cirurgia plástica do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. No caso do paciente operado ontem, por causa das queimaduras, o queixo ficou praticamente colado ao peito, devido à cicatrização. Os médicos retiraram parte da pele cicatrizada e implantaram a placa. A partir do sétimo dia, começará a surgir, na região reparada, uma nova rede vascular. Aos 21 dias de cirurgia, o paciente voltará para fazer um enxerto com a própria pele. O resultado, segundo os médicos, dará total flexibilidade aos tecidos. Crescimento normal “É uma criança e aquela retração, a cicatriz, impedia o crescimento natural dela e também deformava. Agora, ele vai poder continuar a crescer normalmente, tendo as feições mais naturais possíveis”, afirmou Leonardi, que trabalha há uma década com esse tipo de procedimento. O material utilizado na cirurgia é produzido por uma empresa norte-americana e as mesmas medidas usadas no paciente, de 10 por 25 centímetros, custam R$ 26 mil em média. O valor do centímetro quadrado no mercado pode chegar a R$ 100,00. “É um produto confeccionado no final da década de 1980, com o objetivo de cobrir a pele dos pacientes queimados. Veio para suprir a necessidade porque faltam peles. Os bancos de peles não conseguem suprir as demandas que temos. Esses substitutos preenchem as lacunas e são cobertos pelo SUS”, disse o médico. Também participaram da operação inédita no HC médicos contratados, residentes, alunos do sexto ano de medicina e três estudantes de enfermagem. Confiante Apesar de apreensiva, a mãe do menino, Fabrícia de Quadro Souza, de 28 anos, de Ibaté, no Interior paulista, estava confiante de que o filho voltará a ter uma vida normal. Ela contou que no dia 13 de setembro de 2013 G. brincava com colegas na casa de uma parente quando foi acender um fósforo e outra criança jogou álcool. “Eu cheguei um pouco depois que aconteceu e ele estava deitado no chão, todo queimado”, lembra. O garoto foi primeiramente atendido em São Carlos e depois na ala de queimados do hospital de Limeira. Um tratamento sofrido, segundo Fabrícia. “Foi muito difícil a cicatrização. Ele já passou por diversos enxertos, tem muita dificuldade para comer, e claro, vergonha de ir para a escola”, conta. Agora, segundo a mãe, ele vai conseguiu empinar pipa — seu hobby preferido — com mais facilidade. O menino deverá fazer nova cirurgia após sua recuperação, dessa vez na parte do tórax, que também ficou com muita cicatriz.