Coluna publicada na edição de 24/4/19 do Correio Popular
O técnico do Santos, Jorge Sampaoli, participou de um evento na CBF. Em sua palestra, fez uma reclamação cada vez mais comum entre os treinadores, mas que raramente vemos na boca de um profissional do esporte. “O futebol atual me entedia”, disse Sampaoli com todas as letras. No que se refere ao futebol brasileiro, ele está coberto de razão. Muitos treinadores, alguns dos melhores do País, inclusive, gostam de “jogar por uma bola”. A equipe não agride, quase não se expõe e torce para achar um gol, geralmente em lance de bola parada. Se o gol sai, o time se fecha ainda mais. Se não sai, o esquema não muda porque o empate está cada vez mais valorizado. Não que somar um pontinho seja muita coisa. O objetivo é não perder. Afinal, dirigentes brasileiros — muitos deles incapazes de manter as contas dos clubes minimamente em ordem — trocam de técnico com enorme frequência. Pode parecer bizarro, mas três vice-campeões estaduais foram demitidos no mesmo dia. Essa instabilidade provoca um círculo vicioso de consequências danosas para o futebol brasileiro. Os clubes não avaliam a qualidade do trabalho do técnico e demitem sem pensar duas vezes. Vejam o caso do Vasco, que demitiu Alberto Valentim após a derrota para o Flamengo na decisão do Carioca. O rival conta com orçamento muito maior e elenco muito melhor. Ser campeão carioca era quase uma obrigação para o rubro-negro, mas ainda assim o Vasco resolveu responsabilizar o técnico pelo ‘fracasso’. Diante desse cenário, a maioria dos treinadores prefere dançar conforme a música. Entre se arriscar a montar um time ofensivo e jogar fechado em busca de mais alguns meses no cargo, ficam com a segunda opção. E haja tédio. Jogar por uma bola é uma opção aceitável para qualquer clube médio diante de um adversário muito mais forte, técnica e financeiramente. Mas no Brasil essa estratégia é utilizada em larga escala pelos grandes também. É por isso que tivemos finais difíceis de assistir, como Atlético-MG x Cruzeiro e Corinthians x São Paulo. “É importante olhar para trás. Vejo jogos do Brasil de 70, de 82, Huracán de Menotti, Argentina de Pekerman, Hungria… Quero que meu time volte no tempo, mas é muito difícil”, completou Sampaoli em sua palestra. Tomara que mais treinadores pensem como Sampaoli e tentem fazer com que o futebol brasileiro volte no tempo. O futebol não perdeu sua capacidade de emocionar, mas o número de torcedores seria muito menor se o esporte fosse, desde o início, entediante como hoje. Times grandes deveriam jogar de forma ofensiva sempre, independentemente das atitudes muitas vezes incoerentes de seus dirigentes.