Baú de Histórias

Há 50 anos, psicopata apavorava Campinas

Em 1962, Campinas não falava de outra coisa. O jornal era disputado nas bancas. O leitor queria notícias sobre o Bandido Mascarado, sujeito maluco que at...

Rogério Verzignasse
faleconosco@rac.com.br
14/11/2013 às 15:43.
Atualizado em 26/04/2022 às 13:00

Em 1962, Campinas não falava de outra coisa. O jornal era disputado nas bancas. O leitor queria notícias sobre o Bandido Mascarado, sujeito maluco que atacava casais. Os crimes aconteciam principalmente em novos loteamentos da época (Jardim das Paineiras, Campos Elíseos). Havia iluminação precária, poucas casas, mato por todo lado. Locais onde os jovens paravam o carro para namorar. E cenário perfeito para a ação do marginal. O homem usava um capuz preto. Carregava uma lanterna e um revólver. Abordava as vítimas, atirava no rapaz, violentava a moça. Na época, os investigadores fizeram campanas, articularam ações ousadas Interior afora, convocaram entrevistas coletivas espetaculares e anunciaram prisões. Mas hoje, 50 anos depois, não se pode afirmar quem foi psicopata. Quem viveu aquele tempo lembra que a cidade estava em pânico. O advogado Jorge Alves Lima (ex-procurador jurídico da Prefeitura) era um jovem estudante de Direito na época. Hoje, ele gargalha de lembrar da noite em que assistiu Psicose. Justamente na época em que o mascarado apavorava. Lima deixou o Cine Ouro Verde e voltou andando para casa. Passou pela Barão de Jaguara deserta, atravessou o Largo do Rosário. Tremia em cada corredor escuro e portão no caminho de volta à pensão. “A gente achava que o bandido podia estar em qualquer canto. Era o drama do Hitchcock na vida real”, fala. O advogado, hoje com 75 anos de idade, lembra de um velho amigo, o investigador Joaquim Campos Nogueira, que se tornou delegado e não fazia outra coisa: levantava e dormia procurando pistas que levassem ao assassino. Lima conversa com a reportagem rodeado de antigos recortes de jornal, que traziam ilustrações sobre a ação do mascarado e imagens das perícias policais no carro das vítimas (foto).  A série de crimes teve três vítimas fatais. Os rapazes foram assassinados com tiros na cabeça, em casos que seguiam o mesmo roteiro mórbido. As vítimas foram Pedro Furlan (mecânico de automóveis), Antônio Eliseu Carlini (comerciante), Orestes Carlos Segálio (filho de Orestes Segálio, político de grande popularidade na época). As ocorrências aconteceram nos anos de 1961 e 1962. Mas a ação do bandido começou antes. No final da década anterior, as reportagens já tartavam de rapazes feridos e de moças abusadas. Não se sabe, hoje, o quanto havia de sensacionalismo nas edições. Nem se pode dizer se eram sinceras as entrevistas dadas aos repórteres. Há depoimentos de mulheres informando que o mascarado, nas abordagens, dizia ser um marido traído, e que matava para se vingar. Os jornais também deram espaço, por exemplo, para uma namorada rejeitada que acusou o próprio amante (um motorista chamado Geraldo) de ser o bandido mascarado, dando detalhes de seu cotidiano doentio. Os próprios policiais convocaram a mídia e chegaram a afirmar que o mascarado seria investigador chamado Waldomiro, dizendo que o suspeito nunca era preso porque conhecia todas as ações planejadas para prendê-lo. Os episódios venderam muito jornal e viraram assunto obrigatório nas rodas. Mas nunca se provou nada contra os suspeitos. Em 1979, o polêmico Sérgio Paranhos Fleury (então delegado do Departamento Estadual de Investigações Criminais, o Deic) chamou para si os holofotes e anunciou a prisão, em São José do Rio Preto, do farmacêutico Fábio Garcia Macedo (campineiro que havia deixado a cidade ainda em 1963). Ele foi detido quando contratou um jagunço para matar seu próprio sogro. O acusado teria confessado ter sido o bandido mascarado do passado. A imprensa deu o caso como encerrado, mas a notícia acabou perdendo a credibilidade. O farmacêutico, se viu depois, era um doido. Sofria amnésias, surtos, rompantes de choro convulsivo. Dava respostas diferentes cada vez que era questionado.Macedo, em tese, foi usado de bode expiatório para encerrar um caso sem solução. Nuances políticas se seguiram. Correu pela cidade o boato de que o bandido mascarado tinha sido Xandão, filho do respeitado médico Manoel Marcondes Machado Filho, o dr. “Lito”, que clinicou em Campinas por seis décadas e até foi prefeito por nove meses, em 1947, indicado pelo governo estadual. As acusações contra o rapaz (conhecido bon vivant na época) foram interpretadas em seguida como meras campanhas difamatórias orquestradas por adversários políticos do pai famoso. Nunca se provou nada contra o jovem. Hoje, 50 anos depois, todos os suspeitos morreram, assim como os delegados da época e repórteres que cobriaram o caso. Para as novas gerações, o tema é quase uma lenda. Um caso que nunca teve, e nunca terá explicação convincente.  

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