Mulheres das mais variadas profissões passam a influenciar os filhos no momento da escolha profissional
Foi-se o tempo em que somente os pais inspiravam os filhos em suas carreiras – talvez por estarem mais presentes no mercado de trabalho. Hoje, no entanto, são as mães que andam conquistando cada dia mais as mentes e os corações dos seus rebentos quando chegado o momento de fazer a escolha profissional. Até porque praticamente todos os redutos outrora masculinos já foram “invadidos” pelas mulheres. A Metrópole foi conhecer histórias de mães batalhadoras e inspiradoras, tanto na vida pessoal quanto profissional, que compartilham a mesma profissão com os filhos. Algumas delas dividem, inclusive, o mesmo local de trabalho. E aí entram em cena também dois ingredientes fundamentais que devem reger todas as relações: muito amor e paciência estejam em casa ou no trabalho.Os irmãos Maine, 24 anos, e Rodrigo, 26 anos, se formaram, no ano passado em medicina -para a alegria dos pais - a médica pediatra e hebiatra Maíra Pieri Ribeiro e o engenheiro Paulo Roberto Ribeiro, por coincidência, filho de médico. A trajetória fora dos padrões de Maíra, 52 anos, e o amor pela medicina contribuíram para os filhos olharem para a carreira médica com mais atenção. É que Maíra trocou a administração de empresas, aos 38 anos, pelo sonho de ser médica. Foi nessa época que ela decidiu voltar aos bancos da escola e fez cursinho para entrar na faculdade que fazia seu coração bater mais forte. “Toda vez que passava em frente ao Hospital das Clínicas da Unicamp ficava admirando o hospital e sonhando em ser médica”, lembra Maíra. “Lembro da minha mãe estudando muito para conseguir passar no vestibular. Foi tão emocionante ver ela entrar na primeira tentativa. Eu tinha 12 anos e estava na 6ª série e meu irmão tinha 14 e estava no 8º ano”, lembra Maine. Ela destaca que só se deu conta de todo esforço que a mãe fazia para estudar e estar presente na vida da família, quando chegou sua vez de cursar medicina. “Ela fazia questão de nos levar para a natação, praticar esportes e, enquanto esperava ficava estudando no carro”, diz Maine. Rodrigo complementa que o esforço da mãe sempre foi motivo de orgulho na família. “Ela tem um olhar para o paciente e para a medicina que vai muito além da doença. Não tenho dúvidas que vamos sempre carregar esse alicerce em nossa trajetória profissional”, destaca Rodrigo, que pretende se especializar em saúde mental, psiquiatria.Maíra continua inspirando as escolhas dos filhos e agora, trocando experiências. “Acredito que o melhor que passei para os meus filhos foi conseguir mostrar a capacidade de correr atrás dos sonhos, independente da idade. Com esforço é possível alcançar seus objetivos”, diz Maira, orgulhosa de Rodrigo e Maine. “Acompanhar essa trajetória da minha mãe é muito bonito. Lembro dela fazendo plantão de residência em pediatria e sempre falando da profissão com muito brilho nos olhos”, diz. Depois de formada, os filhos ainda presenciaram a mãe cursar medicina do adolescente na USP e fazer um estágio na universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Entre panos e costuras Formada em direito, Marilde Stropp, 75 anos, sempre gostou de fazer trabalhos manuais. Tanto que suas três filhas (Tatiana, Juliana e Janaína) faziam sucesso com as roupas que ela criava, bordava, transformava e inventava. Foi assim, bem próximo ao nascimento da terceira filha, Janaína Stropp, 41 anos, que nasceu a EmmeElle, em 1979. A caçulinha da família cresceu em meio aos tecidos, roupas, moldes, mas acabou formando-se em arquitetura. Mas aos 15 anos, com planos de fazer uma viagem, começou a estampar cangas e passou a vender no Rio de Janeiro, em Salvador. “Consegui juntar uma grana, fazer viagens incríveis com o dinheiro e comprar meu primeiro carro”, lembra Janaína, mãe de João, de 7 anos.Após o nascimento do filho, Janaína descobriu que queria ser “arquiteta de roupas” e se juntou à mãe na EmmeElle. “É incrível como consigo colocar muito da arquitetura nos tecidos, nas estampas, nas roupas que criamos”, destaca. Juntas, mãe e filha se completam. Se Marilde passa toda sua experiência dos processos de criação para a filha, Janaína, por sua vez, rejuvenesce a marca e continua criando estampas exclusivas. “Criar sempre foi algo muito forte tanto em mim quanto na minha mãe. Sempre enxerguei nela a experiência que não tinha”, destaca. Já Marilde destaca que a chegada da filha trouxe renovação e um gás novo para o negócio. Em 2013, Janaína começou a colocar a arquitetura em suas próprias criações e em breve lança também sua marca de roupas com a bênção de sua mãe. E seguem juntas na arte de cortar, costurar, juntar, criar, sempre unidas pelo amor, respeito, admiração, garra e muita inspiração. Mamma mia É difícil conversar com Laura Vezil Bonaiuti, 76 anos, e seu filho Francesco Bonaiuti, 48 anos, do restaurante Laura e Francesco, em Valinhos, e não se sentir com um pé na Itália e diante de uma autêntica mama italiana. Laura conta que a família veio de Bolonha para São Paulo em 1996. Depois se estabeleceram em Valinhos e não saíram mais.Já Francesco foi cursar economia, mas sonhava em ter seu negócio próprio. Laura conta que em 2002 propôs ao filho abrirem um restaurante inspirado na cozinha bolonhesa e, desde então, trabalham juntinhos, em meio a massas, polentas, risotos, tiramissus. “Claro que tem dias que são mais complicados, porque além de sócios somos mãe e filho. Mas como temos os mesmos objetivos conseguimos sempre chegar num acordo”, destaca Laura. Francesco emenda que a parceria dá certo. “Um conhece bem o outro e estamos sempre juntos, tanto nos problemas quanto no sucesso”, destaca o filho. Eles instalaram em Valinhos uma comida inspirada em Bolonha. “Sempre gostei de cozinhar e juntamos o que sabemos fazer de melhor”, diz Laura. A frase - Cozinhar é um modo de amor aos outros -, cabe muito bem para essa mãe e filho, pois juntos eles dão o melhor de si, e derramam aquela afetuosidade típica dos italianos.