Clube mostra contratos em que o ex-presidente Marcelo Mingone cede direitos econômicos a terceiros
A diretoria do Guarani contesta as transações de pelo menos três atletas das categorias de base realizadas na gestão do ex-presidente Marcelo Mingone e considera que o clube foi lesado por conta da cessão de parte de seus direitos econômicos sobre os jogadores à empresa IS Prestações de Serviços sem nenhuma justificativa. A reportagem do Correio Popular teve acesso a alguns dos contratos dos jogadores e ouviu dirigentes do clube sobre o fato.
O levantamento foi feito em conjunto pelo Conselho Fiscal, a comissão de responsabilização e uma empresa de auditoria contratada pelo clube. Uma outra comissão está em andamento para estudar os contratos atuais e a primeira medida do Bugre é pensar no futuro. O objetivo é redistribuir os direitos econômicos dos atletas que estão no Guarani e que possuem a maior parte de seus direitos ligados a empresários. Quanto aos jovens que já deixaram o clube, a posição do alviverde é buscar, por meio de uma ação indenizatória, recuperar parte do que considera ter sido perdido. "Nosso primeiro objetivo é punir administrativamente os responsáveis. Se ficar comprovado que a instituição foi lesada, vamos para a esfera cível e criminal", afirma o presidente Álvaro Negrão.
Um dos casos envolve o volante Eduardo, que foi emprestado ao São Paulo no ano passado. O Tricolor tinha prioridade na compra, não a exerceu e o jogador voltou ao Bugre, mas não se reapresentou. O atleta chegou a registrar um Boletim de Ocorrência contra o presidente Álvaro Negrão e o técnico Branco e, por meio da advogada Gislaine Nunes, entrou na Justiça contra o clube.
Segundo o contrato firmado entre Guarani e São Paulo e assinado pelo ex-presidente Marcelo Mingone, caso o time da capital exercesse o direito de compra, o Bugre renunciaria aos 40% dos direitos econômicos a que teria direito na hipótese de aquisição definitiva dos direitos federativos do atleta pelo São Paulo Futebol Clube, cedendo-os à IS e ao próprio atleta.
A direção bugrina também contesta a saída do atacante Adelino, que foi vendido ao São Paulo. O valor total da transferência do jogador foi de R$ 900.000,00, mas apenas R$ 450.000,00 entraram nos cofres do clube porque os outros 50% dos direitos econômicos foram cedidos a terceiros, nesse caso também à IS Prestações de Serviços LTDA. Além disso, é questionada também a validade de assinatura de Marcelo Mingone. "O estatuto do Guarani não permite que ele assine sozinho, teria que ter pelo menos a assinatura de mais um vice-presidente ou de um diretor de futebol", explica Palmeron Mendes Filho, vice-presidente social.
A outra situação envolve o atacante Bruno Mendes. Revelação bugrina no ano passado, o jogador foi vendido a um grupo de investidores por R$ 7.056.864,80, registrado no Macaé e emprestado ao Botafogo. Por meio de um parecer do Conselho Fiscal, datado de 21 de novembro de 2012, o Guarani contesta doze pontos da negociação, entre eles o fato de o clube, representado pelo ex-presidente Marcelo Mingone na época, declarar no contrato de venda de Bruno ser detentor de 100% dos direitos econômicos e federativos do jogador, mas o recibo apresentado apontar que os direitos não eram de propriedade 100% do clube.
Outra questão levantada: em uma das cláusulas do contrato de venda está registrado que nenhum terceiro influenciou ou direcionou a transferência do atleta, mas R$ 504.490,35 foram pagos como comissão e agenciamento para Irmãos Goulart Consultoria Desportiva LTDA e R$ 2.623.265,90 pagos ao jogador e à empresa Ardizzone Consultoria LTDA.
"Nos casos do Eduardo e do Adelino, o Guarani abre mão dos direitos econômicos num contrato. Já no caso do Bruno Mendes é um recado num papel de pão. Tem um recadinho de meia folha, com a letra do Mingone, apontando que uma porcentagem dos direitos econômicos são do Guarani e outra é da Ardizzone. Não existe um contrato, é só um lembretizinho para na hora de fazer o pagamento. Quarenta por cento teriam que ir para a Ardizzone, mas não tem um real dessa empresa na contabilidade do Guarani para justificar e custear esses 40% do Bruno", destaca Mendes Filho.
Além dos jogadores citados acima, a atual diretoria argumentou que ainda busca a documentação e os contratos de outros jogadores para apurar eventuais transações que tenham prejudicado o clube, como no caso do meia Léo Cittadini, que hoje pertence ao Santos.
RESPOSTA
O ex-presidente Marcelo Mingone se defendeu das acusações da atual administração do Guarani. Em contato com a reportagem do Correio Popular, Mingone alegou transparência nos seus atos. "Eu esclareci tudo o que precisava esclarecer sobre os jogadores das categorias de base. Quando eu saí, coloquei lá no site oficial do Guarani, no canal do presidente, todas as negociações, do Bruno Mendes, do Adelino e do Léo Cittadini" , afirmou.
Quanto aos contratos de transferência dos atletas, assinados pelo próprio Mingone e onde o Guarani cede parte dos direitos econômicos que lhe são de direito, o ex-cartola argumenta que há um erro no documento. "Esse contrato não está certo, foi escrito errado. Há um outro contrato em que está a correção" , explica o ex-presidente, que se colocou à disposição do clube para eventuais esclarecimentos. "Eu sempre me coloquei à disposição dessa diretoria para que eles me chamassem e eu explicasse toda a situação" .
Hugo Ardison, que assinou em nome da IS Prestações de Serviços LTDA. nos contratos de Eduardo e Adelino, além de ter participação na Ardizzone Consultoria LTDA, que ficou com parte dos direitos econômicos de Bruno Mendes, disse "Eu levo atletas para a base do Guarani desde 2009. Na hora que é feito o contrato é normal que o atleta seja parceiro meu, ele faz parceria com quem ele quiser" , enfatizou o empresário, que disse ter recebido das negociações apenas valores referentes apenas ao que lhe era de direito.
Ardison ainda contou detalhes da negociação envolvendo a saída de Bruno Mendes. “Eu tinha uma proposta muito boa, levei para o Mingone e ele não aceitou. Depois, o diretor de futebol (na época Roberto Constantino) trouxe outra oferta, sentamos e vimos que a melhor saída, em virtude das dificuldades financeiras que o clube vivia, era a transferência dele. Os direitos econômicos do Bruno eram divididos em 60% para o Guarani e 40% para o jogador e a empresa”, explicou.