SAÚDE

Grávidas, e cada vez mais precoces

Menina que deu à luz aos 10 anos em Piracicaba expõe realidade dura das mães na adolescência

André Luis Cia
igpaulista@rac.com.br
10/06/2013 às 05:09.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:55

Aos doze anos, Camila foi obrigada a deixar os sonhos de adolescente de lado para assumir um compromisso muito mais sério: o da maternidade. Em vez das brincadeiras comuns da idade e das incertezas e complexidades da juventude, teve que se desdobrar para aprender no dia a dia a desempenhar um novo e inédito papel em sua vida, o de mãe. Os bichinhos de pelúcia que, até pouco tempo atrás eram seus “filhos imaginários”, ganharam novo status, transformando-se nos brinquedos de Isaac, o seu filho da vida real.

Quando descobriu que estava grávida, Camila tinha apenas dez anos. Sua gravidez foi considerada de alto risco pelos médicos porque ela teve um problema renal. Todo tratamento precisou ser feito em Campinas. Segundo sua mãe, Maria Camargo, de 35 anos, a notícia foi um grande susto para toda família por causa da idade da filha, mas, principalmente, pelos riscos que ela correria se não tivesse uma gestação tranquila e monitorada. Em nenhum momento a família considerou a ideia de um aborto. “Decidimos juntas que ela teria o bebê, mas os cuidados foram redobrados.” Há noves meses, nascia Isaac, um bebê saudável, que se transformou na alegria da família.

Casos como o de Camila ainda são uma realidade em muitos lares. Em todo o País, segundo dados do Ministério da Saúde, houve redução de 13% nos casos de gravidez de meninas abaixo dos 20 anos, entre os anos de 2000 e 2010. Segundo o médico ginecologista e obstetra do Casap (Centro de Atenção e Saúde do Adolescente de Piracicaba), Evandro Pessoti, são muitas as causas de uma gravidez precoce, dentre elas, a falta de perspectiva e de projetos futuros. “Muitas destas meninas não traçam objetivos ou perspectivas de vida.” A classe C é a mais comprometida, porém, ele aponta que atualmente todos os jovens estão muito bem informados sobre os métodos para evitar um filho. Um dado preocupante citado por ele refere-se ao uso de drogas, já que muitas adolescentes engravidam ao usá-las. “No Brasil, infelizmente, as pessoas usam pouco os métodos contraceptivos, como o diafragma, que é uma realidade importante nos Estados Unidos e outros países.”

Novos caminhos

Apesar de Isaac ser muito amado, sua avó materna, Maria Camargo, diz que Camila foi bem orientada sobre as maneiras de evitar uma gravidez precoce. Isso porque ela já tinha um exemplo na família. Sua irmã ficou grávida de gêmeas aos 15 anos. “Ela já tinha vivenciado isso em casa, mas acabou se descuidando e engravidou. Só que ela era muito nova. Só dez anos. Quando eu soube cheguei a desmaiar tamanho o susto.” Quase um ano depois, Camila e o namorado, Bruno, de 17 anos, estão aprendendo a “se virar” no papel de pais. Muitas coisas, eles garantem, estão aprendendo com o tempo e com a convivência diária com o filho.

Apesar de ainda morarem em casas separadas, nenhum deles deixou de sonhar ou de fazer planos para o futuro. Bruno quer retomar os estudos e se dedicar à área de torno elétrico. Camila também deseja retornar à escola e se formar em magistério. Para 2014, ela espera conseguir uma vaga para o filho em uma creche. Ambos se dizem conscientes de que suas vidas, agora, com um filho recém-nascido, nunca mais serão as mesmas. Por outro lado, se dizem felizes, unidos e cada vez mais apaixonados.

O rapaz está trabalhando como servente de pedreiro e diz que seu sonho é morar ao lado do filho e da namorada. Camila aponta que mesmo com as novas obrigações, está feliz pela oportunidade de ser mãe. “Sei que vou errar muito e também aprender, pois ainda sou muito nova, e que nada mais será como antes, mas quero dar o melhor para o meu filho.”

Psicologia

Segundo a psicóloga Miriela de Nadai, esse tipo de gravidez, em geral, não foi planejada ou desejada e acontece em meio a relacionamentos sem estabilidade. “No Brasil os números são alarmantes. Cabe destacar que a gravidez precoce não é um problema exclusivo das meninas. Um filho não é concebido por uma única pessoa. O menino não pode se eximir de sua parcela de responsabilidade.”

Ela aponta que quando uma adolescente engravida, não é apenas a sua vida que sofre mudanças. O pai, assim como as famílias de ambos, também passa pelo difícil processo de adaptação a uma situação imprevista e inesperada. “A adolescência é o momento da formação escolar e de preparação para o mundo do trabalho. A ocorrência de uma gravidez nessa vida, portanto, significa o atraso ou até mesmo a interrupção desses processos. Isso pode comprometer o início da carreira ou o desenvolvimento profissional.”

Miriela avança na questão justificando que o mundo moderno, principalmente no decorrer do século 21, vem passando por inúmeras transformações nos mais diferentes campos: econômico, político e social. Por causa disso, surgiu uma geração cujos valores éticos e morais encontram-se desgastados. “O excesso de informações e a liberdade recebida por esses jovens os levam à banalização de assuntos como o sexo. Esse é um dos motivos que favorecem a incidência da gravidez na adolescência.” Outro fator apontado por ela é o afastamento dos membros da família e a desestruturação familiar. “A falta de planejamento ou acompanhamento da situação podem desencadear muitos problemas.”

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