MANUEL CARLOS

Gratidão é um artigo de luxo

MANUEL CARLOS
21/07/2015 às 05:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 17:07
Manuel Carlos - correior
 (Cedoc)

Manuel Carlos - correior (Cedoc)

Quem já ocupou um cargo público sabe muito bem diferenciar a pessoa grata da pessoa interesseira. Fui secretário de Cooperação Internacional no governo de Edivaldo Orsi, aliás, o único nomeado por ele, porque fez questão de manter o secretariado do Grama. Ao final do governo, depois da surra que Chico Amaral aplicou em Célia Leão, poucas pessoas sabiam que eu permaneceria na mesma função no futuro governo. Em meados de dezembro estava me achando um cachorro sarnento. Ninguém me procurava, ninguém me atendia pensando que em janeiro eu não seria mais útil. No dia em que Chico anunciou seu secretariado, as ligações e pedidos de agendamento começaram a chegar de “baciada” e eu pensava comigo mesmo: eles não leram Machado de Assis que disse com propriedade que a gratidão de quem recebe um benefício é bem menor que o prazer daquele que o fez. Ao final do governo Chico a Secretaria havia trazido para Campinas 45 empresas de médio e grande porte e uma pessoa que sabia o que era ser grato foi Toninho. Montou uma equipe de transição, mas foi pessoalmente ao meu gabinete e disse que fazia questão de receber as informações necessárias para a continuidade dos trabalhos da Secretaria. Infelizmente esse homem do bem foi assassinado e a sociedade campineira não lhe foi grata, cobrando das autoridades a apuração do crime. Nem a sociedade e nem o seu partido (PT), que voltou as costas para a viúva e para sua única filha.Não sei como o MP e nossa Polícia Civil não sentem vergonha do descaso com que trataram do assunto. Na inauguração da Loja da Decathlon ele fez questão que ficasse ao seu lado e disse em seu discurso que aquilo era resultado de meu trabalho. Por falar em Decathlon, próximo dali, foi recentemente inaugurada uma moderna avenida, que ainda não conheço por dois motivos. Não é meu caminho e não fui convidado para a inauguração. Nos dias que antecederam a festa de inauguração confesso que fiquei aguardando o convite, porque à frente da Secretaria de Assuntos Jurídicos no governo Pedro Serafim lutei muito para agilizar a aprovação do projeto e destravar o processo, que pouco saía do lugar em razão de aspectos burocráticos. O empreendedor responsável pela construção da avenida não se lembrou disso. Acho que foi porque ele entrou recentemente no mundo da política e nesse mundo a gratidão é um artigo de luxo. Sinto prazer naquilo que faço e não faço nada pensando em gratidão ou recompensa, mas como é bom quando encontramos em nosso caminho pessoas que reconhecem os nossos gestos, nossas atitudes e o valor de nosso trabalho. Quando esse reconhecimento vem acompanhado por um “muito obrigado” é um grande estímulo para continuarmos nossa caminhada. Alguém pode achar estranho que eu esteja contando esses fatos para ilustrar minha crônica. Na realidade, penso como Reinaldo Azevedo e escrevo o que quero e não o que querem que eu escreva. Serve assim? Ótimo! Não serve? Paciência! 

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