Há 100 anos, nasceu em Piracicaba um dos campineiros mais importantes da terra e da Terra. No mundo, nunca houve outro igual, tão distinto como este planeta azul na imensidão do sistema solar. Herói anônimo e sem lobby, avesso ao brilho de holofotes, posto que tem luz própria, emanada da sagrada terra. Terra que ele canonizou dia e noite, de sol à lua, de lua a sol, com suas pesquisas. Ninguém sabe mais dos desígnios de Deus do que ele, diante da terra fértil. Enquanto adivinhávamos Deus no Céu, Ele o encontrava todo dia no solo. Foram e são felizes, porque desde que ele partiu para os campos do Senhor, há vinte anos, no firmamento todo dia é dia de campo. Nenhum, absolutamente nenhum, cientista teve todas as suas pesquisas dedicadas à produção agrícola e à preservação da natureza como o doutor Alcides Carvalho, da Seção de Genética de Café do Instituto Agronômico de Campinas. Pouco antes de ele sair para a última jornada, há 20 anos, nossa cidade assistiu a uma emocionante peregrinação de mulheres e homens da ciência, vindos de todos os continentes, para um adeus que jamais aconteceu. Afinal, até hoje, cada xícara de café, de qualquer aroma, sabor ou variedade, servida nos barracos, nas mansões, nos balcões de bar ou nos restaurantes mais finos é uma dádiva desse ex-balconista das Casas Pernambucanas, que saiu da Escola Superior de Agricultura “Luíz de Queiroz” em 1935, com o diploma de agrônomo debaixo do braço. Quando o trem da Paulista parou em Campinas, Alcides disse para si mesmo: “É aqui!”. E ficou até 1993. Salvou a cafeicultura mundial de todas as ameaças de pragas e de governos. Jamais usou veneno. Sempre perseguiu uma planta nova, que nem a natureza conhecia, imune a doenças, seca ou geada. Sempre conseguiu. Inesquecível a cerimônia do jubileu de diamante da “Luiz de Queiroz”. Os estudantes o escolheram aluno-símbolo e o então reitor da USP Orlando Marques Paiva o saudou: - Mestre! Neste momento, milhões de boias frias do Brasil, unhas-sujas da Ásia e da África, corretores das bolsas de Nova York, Londres e Chicago, fazendeiros endinheirados e a balança comercial do Brasil agradecem sua generosidade e trabalho, pela sobrevivência de cada um. Graças ao senhor, a Humanidade tem café, para saborear, sonhar e viver mais alegre. Como aluno-símbolo, peço que o senhor venha ao púlpito desta solenidade e conte a todos toooodo o seu extenso currículo! - Grupo escolar, ginásio, ‘facurdade’ e muito ‘trabaio’. Sua vida é uma obra tão imensa e ensina tanto quanto a Bíblia. Pregado no poste: “Deus só escolhe boas companhias”
