Muro repaginado confere novo visual para local degradado no Centro de Campinas
Guilherme França e sua obra no muro do prédio Itatiaia, em Campinas (Érica Dezonne/AAN)
O Dia do Grafite é celebrado nesta quarta-feira (27) como uma homenagem a Alex Vallauri, pioneiro artista plástico etíope de origem italiana e radicado no Brasil, morto em 27 de março de 1987, em São Paulo. Ou seja, uma data culturalmente importante e que precisa ser relembrada todos os anos.
Mas, mesmo sem se atentar ao emblemático dia, o artista Guilherme França, ou Gui, como é conhecido, deu um presente para Campinas. Com a ideia de revitalizar a Rua Coronel Rodovalho, no Centro, espaço que hoje abriga mendigos, moradores de rua e usuários de drogas, e a convite da síndica Maida Sampaio, o muro do tradicional Edifício Itatiaia, desenhado entre os anos de 1954 e 1960 por Oscar Niemeyer, foi totalmente grafitado, um trabalho realizado nos últimos sete dias sob sol e chuva.
“Aquela rua é muito vazia, totalmente abandonada. E a gente mandava pintar o muro a cada seis meses, porque os frequentadores do local pichavam, tiravam o reboco. Tenho certeza que agora, além de ter arte no muro e acabar de uma vez com aquela sujeira que denegria a imagem do prédio, a população vai admirar e respeitar muito mais o espaço”, conta a síndica. Abusando de formas e cores, Gui quis mesclar a arquitetura desenvolvida por Niemeyer com o desenho.
“O prédio foi feito como uma onda, então tentei dar um movimento no desenho também.” Um resultado que realmente agradou o artista. “Fico contente porque trata-se de um trabalho grande na cidade, sem contar que foi feito em um marco de Campinas, que merece uma inspiração diferente.”
O Itatiaia é tombado e considerado patrimônio histórico desde abril de 2011. Portanto, o lado externo da construção e o saguão de entrada não podem ser modificados. O muro, entretanto, não consta no projeto original do arquiteto e foi incluído décadas depois por questão de segurança, então pode sofrer intervenção.
“Sem contar que aqui é a verdadeira frente do edifício, apesar de todos pensarem que é o lado para a Praça Carlos Gomes. Niemeyer quis projetá-lo voltado para a Catedral e as pessoas circulariam por ele, só que o muro veio anos depois, naturalmente. O fato é que eu precisava fazer algo bem especial”, completa Gui.
Um trabalho tão diferente e bonito que, apesar da maioria dos moradores do prédio ser idosa e, normalmente desconhecer o graffiti, o apoio foi integral. “Eu coloquei um comunicado no elevador, já que não poderia fazer algo assim, por conta própria, e não recebi nenhuma manifestação contrária ao projeto. Sem contar que fico falando para todo mundo ver como ficou, e todos estão gostando”, lembra Maida.
Ela, nos sete dias em que o artista ficou no local, afirma ter percebido uma movimentação diferente pela região. “Eu senti que os adolescentes estão passando mais pela rua. Eles comentam entre eles sobre o desenho, conhecem o Gui e o trabalho dele. Deu vida à rua. As pessoas querem apreciar, porque é algo bom. Quem sabe a rua sai definitivamente do estado de abandono. Não sei o que vai acontecer, mas a cidade, de qualquer forma, ficou mais bonita”, completa.