A capacidade demonstrada pelo governo de gerar incertezas no enfrentamento de problemas nesses primeiros dias de governo é impressionante. O governo se enrola nas próprias pernas. O caso envolvendo o ex-Ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebiano foi muito mal encaminhado pelo Presidente Jair Bolsonaro, influenciado pelo filho Carlos que contribui muito para complicar ainda mais as coisas. A demorada exposição de Jair Bolsonaro para decidir uma questão interna do governo serviu para mostrar aos aliados de quão inábil pode ser o presidente na tentativa de resolver um problema. Encaminhamento semelhante está ocorrendo com o Ministro do Turismo Marcelo Alvaro Antônio ao qual se acumulam evidências de envolvimento no caso das candidaturas laranjas em 2018. Como deputado federal eleito pelo PSL de Minas Gerais tem recebido o apoio do partido na Câmara dos Deputados, o que pode complicar ainda mais o quadro num momento em que o governo necessita de amplo apoio de sua base. Nestes dias, ainda, a Câmara dos Deputados infligiu fragorosa derrota ao governo de Jair Bolsonaro ao aprovar a urgência na votação de um projeto de lei que suspende os efeitos de decreto que alterou as regras da Lei de Acesso a Informação (LAI). Foram 367 votos pela aprovação, 57 votos contrários e três abstenções. Caso entre em vigor tornará sem efeito o decreto que foi assinado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, quando em exercício da presidência. O decreto lei presidencial permite que ocupantes de cargos comissionados possam classificar dados do governo federal como informação ultrassecreta e secreta. Antes, essa classificação era exclusiva de presidente da República, vice-presidente, ministros de Estado, comandantes das Forças Armadas e chefes de missões diplomáticas ou consulares permanentes no exterior. O PSL foi o único partido a orientar seus deputados a votarem contra a urgência do projeto de decreto legislativo. A legenda se isolou dos demais partidos que em peso votaram a favor. Não é um bom sinal esta primeira derrota do governo num momento em que são encaminhados ao Congresso dois dos mais importantes projetos para o país: o pacote anticrime e a reforma da Previdência. O mais incrível é que o atual governo tem amplo apoio popular para encaminhar as reformas, recebeu o apoio no projeto da Previdência dos principais órgãos de informação e conta com uma oposição fragmentada e sem rumo, ou seja, tem todas as condições para obter um encaminhamento favorável. Contudo, enfrenta problema em suas próprias hostes. A articulação do governo é falha, frágil e mostra um amadorismo impensável neste nível de comprometimento político. O presidente,, por sua vez ainda se mostra preso a picuinhas que são ruídos da campanha eleitoral. Seus filhos atuam com desenvoltura em Brasília atrapalhando os planos dos articuladores mais consequentes. Os militares estão cada vez mais inconformados com a exposição contínua das falhas do governo envolvendo questiúnculas sem profundidade que prejudicam o andamento das coisas, que de fato, são importantes. A dubiedade ainda é predominante. O fato é que poucas vezes na história do Brasil ocorreu um confluência de tantos elementos favoráveis a implementação de reformas necessárias para organizar as estruturas do país. Mas por incrível que pareça o maior entrave para que elas sejam implementadas está no próprio governo – ou na própria família do Presidente que está no comando. O problema está com aqueles que estão com a faca e o queijo na mão.