RACISMO

Gesto de Daniel Alves recebe muitos elogios

Jogador do Barcelona comeu uma banana que foi atirada por um torcedor do Villarreal em jogo do Espanhol

Fábio Gallacci
28/04/2014 às 19:40.
Atualizado em 24/04/2022 às 14:26

Nunca uma mordida em uma banana repercutiu tanto nas redes sociais e, consequentemente, no mundo. A resposta desafiadora e, ao mesmo tempo, bem-humorada do lateral-direito brasileiro Daniel Alves contra o ato racista de um torcedor durante a partida em que o Barcelona venceu o Villarreal, no último domingo (27), foi considerada um exemplo de altivez e inteligência contra a ignorância escondida nas arquibancadas. Essa é a opinião de especialistas ouvidos pelo Correio.O psicólogo Hipólito Carretoni Filho considerou a reação do atleta à ofensa algo digno de palmas. “Achei o máximo. A resposta que ele deu foi a melhor do ponto de vista psicológico. O jogador poderia ter se sentido desvalorizado, atingido em sua autoestima, fragilizado... Esse era o objetivo do torcedor. Mas ele mostrou para o sujeito que é muito mais do que isso, que não seria uma banana em campo que o colocaria em uma posição de inferioridade. O que aconteceu foi o contrário. Quem se colocou em posição inferior foi o torcedor racista. Assim, o feitiço virou contra o feiticeiro”, analisa o psicólogo. “Na minha visão, isso motivou ainda mais o jogador na partida, que não ficou com raiva, mas reforçou o seu foco para mostrar a todos que era capaz de ser alguém de altíssimo valor pessoal, psicológico e moral. As pessoas deveriam reagir dessa maneira — de forma decidida e inteligente — quando forem alvo desse tipo de situação. A ideia é mostrar que o ser humano é muito maior do que qualquer atitude de agressão”, reforça Carretoni.REAÇÃOPara o professor da Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Campinas), Roberto Donato da Silva Júnior, o fato envolvendo Daniel Alves serviu para mostrar que a questão do racismo tem ganhado força pelo mundo e que reações como a dele provam que as pessoas não admitem mais passivamente serem alvos da intolerância. Outro fator importante para o professor é que o atleta do Barcelona e da Seleção Brasileira não se posicionou como vítima na situação. Daniel Alves protagonizou uma resposta desconcertante contra quem queria ofendê-lo e desmoralizá-lo.“De maneira geral, a reação foi interessante porque demonstrou um posicionamento contrário ao ato de racimo sem que o atleta ocupasse uma posição de vítima. Foi uma espécie de confronto. Ele não se abateu com o ocorrido e deu uma resposta altiva. Vamos lembrar que a maior parte dos últimos atos de racismo pelo Brasil foi seguida por momentos de 'coitatização' da vítima, que refletem as pessoas apenas como alvos de agressão. A resposta do Daniel Alves foi interessante porque ele sofreu o preconceito, mas, ao mesmo tempo, o enfrentou no ato. Foi uma postura criativa diante dessa violência”, afirma Silva Júnior.OPINIÃO DE PONTEPRETANOS E BUGRINOSOs jogadores de Guarani e Ponte Preta demonstraram opiniões diferentes a respeito da reação do lateral Daniel Alves na provocação racista de um torcedor na Espanha. O meia Fumagalli entendeu que o bom humor foi uma bela maneira de responder à intolerância. "Foi algo inusitado, criativo. Ele deu uma patada no cara que cometeu o racismo. Devolveu de uma forma bem criativa, sem ofender a ninguém. Achei que o Daniel foi bem demais", disse o camisa 10 do Bugre.Já o goleiro Roberto reagiu com irritação. "Esta é a parte mais podre da sociedade. Gente que julga os outros pela cor, pela opção sexual ou por qualquer coisa do tipo. São pessoas fracas que, para se acharem forte, fazem isso", opinou o jogador.

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