As relações humanas têm se deterioriado na velocidade e na proporção da disseminação de novas formas de comunicação. O advento dos meios eletrônicos — e mais proximamente, as redes sociais — transformaram as formas de interação entre as pessoas, criando novos parâmetros de relacionamento e, de certa forma, criando um distanciamento pessoal. O ritmo frenético da vida contemporânea tem propiciado comportamentos mais isolados, menor percepção do aspecto social da vida e o autocentrismo da maioria, criando uma sociedade menos atenta aos pequenos atos de solidariedade, amor ao próximo, respeito social.
Na semana passada, um pequeno gesto de gentileza de um professor teve grande repercussão. Ao transformar o pequeno espaço de um ponto de ônibus ao lado de sua residência, colocando à disposição dos usuários algum pouco conforto, trouxe à reflexão o quanto os gestos mais singelos podem ter o dom de transformar o cotidiano do próximo, mostrar que todas as pessoas podem ser solidárias e preocupadas, em constante troca de ações desinteressadas (Correio Popular, 20/4, A8). É evidente o tom de representação do gesto, aparentemente isolado dentro da agitação metropolitana, mas é importante o grau de influência que pode alcançar.
O mundo hodierno vive a dramatização do egoísmo, da individualidade, do distanciamento do sentido da civilidade. Filas não são respeitadas, o trânsito é o reflexo mais evidente de como as relações são afetadas. Nas escolas, professores e alunos vivem situações de conflito e a hierarquia sequer é respeitada. As pichações tomam conta da cidade e nada parece conter os vândalos. Áreas públicas que deveriam ser reservadas para o lazer e a convivência são tomadas pelo lixo, por marginais, e depredadas.
Não é pouco o que se testemunhou no gesto que surpreendeu aquelas pessoas. Representou uma atitude que pode ser percebida a todo momento, que ainda existem pessoas que podem, através de simples gentilezas, demonstrar o respeito a seus pares, mostrar que existe uma grande maioria preocupada com aspectos humanísticos, com a sinceridade das relações. Percebe-se também que o silencioso protesto denuncia o descaso com o local, antes depredado e perigoso, alertando as autoridades para o direito dos usuários.
Mais do que tudo, desperta a comunidade para a necessidade de se manter acesa a chama da solidariedade, e que, dos pequenos aos grandes gestos, o mundo pode ser transformado.