Comportamento

Gentileza gera gentileza

Acreditando na importância dos gestos, um grupo de amigos resolveu criar o movimento Gentileza, sim!

Kátia Camargo
18/06/2018 às 16:48.
Atualizado em 28/04/2022 às 13:10
Acreditando na importância dos gestos, um grupo de amigos resolveu criar o movimento Gentileza, sim! (Reprodução)

Acreditando na importância dos gestos, um grupo de amigos resolveu criar o movimento Gentileza, sim! (Reprodução)

Uma das frases mais conhecidas do profeta Gentileza é ‘gentileza gera gentileza”. Nascido em São Paulo, José Datrino (1917-1996) mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1961, e se tornou uma personalidade urbana carioca, espécie de pregador. O profeta Gentileza ficou conhecido, entre outras coisas, por fazer inscrições peculiares nas pilastras do viaduto do Gasômetro, no Rio de Janeiro. Sua história e frases acabaram virando a música Gentileza, eternizada na voz de Marisa Monte, após suas frases terem sido apagadas com a pintura cinza do viaduto. Acreditando na importância dos gestos, um grupo de amigos resolveu criar o movimento Gentileza, sim! O projeto surgiu de pessoas que acreditam no poder de transformação e no impacto do ato na vida de todo mundo. Em quatro anos de existência o movimento já distribuiu flores e maçãs pelas ruas das cidades de Campinas e Valinhos, no Dia Mundial da Gentileza, celebrado em 13 de novembro. Também estruturou duas bibliotecas visando incentivar a leitura e, como a maioria dos participantes são de um condomínio residencial em Valinhos, criaram a comissão gentileza dos moradores do condomínio Terras do Caribe. “No dia que a pessoa se muda levamos um bolo caseiro, um suco natural e um vasinho de flores para dar as boas-vindas. Vamos uniformizadas para não assustar os novos moradores, que na maioria dos casos não está acostumado com isso. Deixamos também nossos telefones para qualquer necessidade. Acredito que isso faz com que as pessoas se sintam mais acolhidas e criem o sentimento de pertencimento do local”, explica a publicitária e idealizadora do projeto, Roberta Corsi. Ela destaca que esses pequenos gestos já renderam boas risadas. “Acho muito engraçado que algumas pessoas começaram a me chamar de mulher Gentileza nas ruas, ou de dona Gentileza”, conta. Cristina Corsini, psicóloga e coordenadora da pós-graduação de educação socioemocional do Instituto Brasileiro de Formação de Educadores (IBFE), define a gentileza como uma habilidade sócio-emocional que é aprendida no decorrer da vida. “Os pais são modelos para os filhos, se eles são gentis, automaticamente as crianças passam a reproduzir o comportamento. A gentileza também é trabalhada no dia a dia da escola, com os amigos e familiares”, destaca. A psicóloga ressalta ainda que as pessoas acham que precisam de grandes ações para mostrar que são gentis e isso não é necessário. São os pequenos gestos que mudam o dia a dia de muita gente, tanto para quem pratica como para quem recebe. “Para isso, basta sair do casulo e olhar ao redor. Como vivemos numa correria diária acabamos nos esquecendo de ser gentis, vamos nos fechando e nos isolando do mundo. Entre as pequenas gentilezas estão dar bom dia, sorrir para o outro, oferecer ajuda, se colocar no lugar do outro, praticar a carona solidária, dar lugar para alguém mais velho se sentar no ônibus, convidar alguém para almoçar ou se sentar à mesa. São essas pequenas gentilezas que vão ajudar o nosso mundo e o mundo do outro a melhorar”, observa. A comerciante Giseli Vicenti, 46 anos, mudou-se de São Paulo para Valinhos. Conta que na capital não conhecia nem a vizinha da porta ao lado e ficou extremante tocada com o carinho que foi recebida na nova morada. “Levei um susto quando um grupo de pessoas uniformizadas bateu na porta de casa nos presenteando com bolo caseiro, suco natural e uma flor. Me senti tão acolhida que resolvi fazer parte do grupo. E o mais bacana é que as gentilezas continuam mesmo depois do primeiro impacto. Hoje, adoro ter a oportunidade de receber os novos moradores, fazer o que também me comoveu. Para mim é como se fosse um resgate da vida do interior”, conta. Giseli conta que na infância foi escoteira e que cresceu vendo e praticando gentilezas. “Mas, confesso que me surpreendeu muito esta atitude no condomínio, não esperava, foi uma linda surpresa. O mundo precisa de mais atitudes assim, ou melhor, de mais gentileza”, destaca. A pedagoga Andreia Correia Pires Afonso, 42 anos, mudou-se com a família de Ourinhos para Valinhos no condomínio dos amigos e foi recebida com muito carinho pelo movimento. “Me senti muito acolhida, E o mais interessante é que depois nos mudamos para outro condomínio e quisemos voltar para o da gentileza. Faz pouco tempo que retornamos e fomos de novo acolhidos com carinho.Traz muito conforto”, diz. A atriz e jornalista Renata Quintella nunca desistiu de deixar um mundo melhor para os três filhos e, com isso, se tornar uma pessoa melhor. Por isso criou um projeto baseado na gentileza. Em 2013, ela foi para as ruas com alguns amigos e criou o movimento O que posso fazer por você agora? Nesse dia distribuiu flores, ajudou a empurrar um carrinho de um catador de lixo, fez uma festa de aniversário na rua para uma moça que estava sozinha, comprou uma vassoura de um vendedor de rua, distribuiu abraços, escutou muitas histórias e depois disso voltou para casa com a certeza de ter achado seu lugar no mundo. Foi então que resolveu fundar o instituto A Nossa Jornada, que procura ajudar as pessoas em seus pequenos ou grandes sonhos. “Somos gente cuidando de gente. Para deixar o mundo melhor precisamos deixar pessoas melhores neste mundo. A começar por nós mesmos”, diz Renata. O objetivo do projeto é compartilhar a ideia de que todo mundo pode fazer alguma coisa por alguém, distribuir carinhos e gentilezas. Quem tiver interesse em conhecer o projeto ou buscar inspirações de como ser gentil é só acessar o site http://www.institutoanossajornada.org/welcome#institutoanossajornada.

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