Gastronomia é coisa séria (Manuel)
Gastronomia é coisa séria. É manifestação humana e expressão cultural. É arte e esforço. É história e efemeridade. É pau, é pedra. É um vasto caminho. Pouca gente sabe, mas as palavras “sabor” e “saber” têm a mesma origem semântica. Não é acaso. Como jamais foi casual o longo processo empregado pelas nossas avós, e pelas avós delas, para apurar o molho de tomate da macarronada.
Da mesma forma, não eram aleatórias as vastas horas da carne na caçarola. Era preciso serenar e conferir sabor aos nacos. Gastronomia é coisa séria. É menos talento e muita lida. É suor e sais de lágrimas. Pimentas várias. Sim, na cozinha há porções de impertinência e pertinácia. Há pitadas de arrogância e singeleza. Há sensorialidade e nonsense.
Gastronomia é coisa séria. É indispensável, não per si, mas por aquilo que representa e confere. Gastronomia é o mundo todo, em toda a sua complexidade e multifacetamento. Gastronomia é coisa séria. E humana. Tão séria e humana que, para praticá-la ou falar sobre ela, deveria ser exigido do interessado um inquebrantável compromisso de fé.