Poucas atividades são capazes de levar um profissional do fracasso à glória (ou vice-versa) tão intensamente como o esporte.A história está repleta de casos assim e poucos são tão marcantes, por exemplo, como o de Dunga. Em 1990, foi o ícone de uma equipe mal convocada e mal escalada, que mostrou um futebol muito pobre para os padrões da Seleção Canarinho. Sebastião Lazaroni foi mal desde o período de preparação, o time não rendeu e a CBF não tinha controle sobre os jogadores, alguns deles mais preocupados com o valor da premiação pelo “título” do qual nem chegaram perto. Muitos falharam, mas o fracasso da Copa na Itália foi batizado de a Era Dunga.Quatro anos depois, nos Estados Unidos, coube a Dunga a honra de ser o primeiro brasileiro a levantar a Copa do Mundo desde o tri conquistado em 1970.Alguns iriam chorar de emoção e agradecer a Deus pela oportunidade de dar a volta por cima de modo tão espetacular. Dunga fez o contrário e festejou de cara amarrada, soltando inúmeros palavrões e esbravejando contra os jornalistas que o criticaram na Copa anterior.O caso de Dunga foi único, mas situações semelhantes acontecem com atletas com enorme frequência. Na Ponte Preta, jogadores e também o técnico Jorginho estão expostos a uma frenética mudança de status. Como tenta evitar o rebaixamento no Brasileirão e luta pelo título na Copa Sul-Americana, o time tem alternado dias de enorme pressão com momentos memoráveis como os vividos nas duas últimas noites.A recepção de ontem nos braços da torcida certamente foi emocionante para todos eles, mas imaginem como não deve ter sido especial para Sacoman. Na segunda quinzena de outubro, ele marcou dois gols contra seguidos, em duelos com concorrentes diretos da Macaca na luta contra a queda.E agora, no comecinho de novembro, compôs a defesa que segurou o ataque do favorito Vélez Sarsfield durante 180 minutos. O mesmo zagueiro que rezou durante o jogo contra o Vasco teve ontem outros motivos para se emocionar.Para fãs e jornalistas, o esporte é maravilhoso. Grandes triunfos e grandes fracassos alegram os vencedores, entristecem os derrotados e rendem grandes matérias. Mas exercem, em ambas situações, enorme pressão psicológica sobre os competidores. Tanto torcedores como jornalistas deveriam ser mais cuidados ao cultuar ídolos ou destroçar carreiras. Mas isso não vai mudar. Apaixonante por natureza, o esporte também é cruel. Glorifica os vencedores e condena os que falham. Mais do que um bom atleta, é preciso ter equilíbrio emocional para sobreviver a essa gangorra de emoções.