CÉLIA FARJALLAT

Fuja do álcool

Célia Farjallat
18/04/2013 às 05:01.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:50
ig-celia-farjalatt (aan)

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Quando ele perdeu a mulher amada, desesperou-se. Até esta história parece letra de samba ou enredo de dramalhão mexicano. Mas, é a história real, banal, de centenas de músicas e até de novelas. O infeliz foi suportando a grande perda. Tentou reagir, procurando até um novo amor, mas aquela mulher não lhe saía da cabeça.

Deu para faltar no serviço. Fingia doença; acho que estava doente mesmo. Doente de dor, desespero, paixão. Já nem se preocupava com as roupas, nem com suas músicas. Fugia dos amigos, dos papos infindáveis. Nem ia ver os jogos de futebol, nem torcia mais pelo seu time. Perdeu até a vontade de sair de casa. Ficava horas pensando na malvada que o trocara por outro.

E, logo começou a beber, No começo, só um trago. Ficava um pouco atordoado. Depois, aumentou as doses. E começou a gostar. Mas, semanas depois, dobrou a dose. E, certo dia, escorregou na rua, e ficou ali largado, distante de tudo. Um amigo viu-o naquele estado, chamou uma ambulância e acabou no hospital. Foi tratado na Santa Casa com todo o desvelo. E ali mesmo soube que havia grupos de Alcoólicos Anônimos que cuidavam dos viciados em álcool. E o pobre homem começou a sair do abismo em que se metera.

Percebeu a perda de valores em sua vida, a urgência de retorno à sobriedade. Alguns antigos viciados o ajudaram. A descida ao abismo foi fácil, mas, que dificuldade o retorno à vida comum, ao trabalho! Teve duas recaídas graves. Mas, amparado pelos amigos e por um irmão, conseguiu voltar, aos poucos, ao antigo homem que era. E a mulher? Já não pensava mais em tê-la de volta. Sua imagem foi, aos poucos, desaparecendo de sua mente. Longe dos olhos, longe do coração...

O caso é verídico e muito mais comum do que se imagina. Há muitos casos tenebrosos, um universo triste de alcoólatras. Casos que precisam ser tratados. Alcoolismo não é crime; é doença. O mais triste da história é que pode envolver homens mulheres e até crianças. Eles têm consciência da gravidade da doença, sabem que o alcoolismo pode começar no primeiro trago da bebida, e portanto, a estratégia é evitar o primeiro gole, o que aliás os médicos sabem.

Hoje, mais do que nunca, é moda beber. Atletas não bebem cientes do desgaste físico e mental resultante de bebidas alcoólicas. Muitos evitam o álcool por convicção pessoal, por princípios religiosos ou por detestarem o álcool. Dona Virgínia garante que não bebe porque acha deselegante. Repete que em seu tempo era feio beber, e que a moça que tomasse um pouco de vinho ficava falada! Beber era falta de classe, de finura. Minha amiga Rosa, muito religiosa acha que beber é pecado. Deus, diz ela, nunca bebeu. Os santos e anjos também não bebem, repete ela. Eu própria não bebo um gole de vinho, de champanhe ou de coquetel de qualquer espécie; trata-se de aversão natural. Beber é como se eu tivesse de pegar uma barata, ou de conviver com um corrupto, um traidor.

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