PASQUALE CIPRO NETO

Formas verbais que têm 'duas caras'

16/08/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 20:59

Há duas semanas, vimos algumas formas verbais que têm duas caras, ou seja, falamos de formas que pertencem à conjugação de mais de um verbo. Tratamos especificamente dos verbos “ser” e “ir”, que apresentam quatro tempos verbais absolutamente iguais. Esses tempos são o pretérito perfeito e o pretérito mais-que-perfeito do indicativo, o pretérito imperfeito e o futuro do subjuntivo. Para refrescar a memória: fui, foste, foi, fomos, fostes, foram; fora, foras, fora, fôramos, fôreis, forem; fosse, fosses, fosse, fôssemos, fôsseis, fossem; for, fores, for, formos, fordes, forem.Outras formas verbais de duas caras que convém citar são “gere”, que pode ser de “gerir” (“Apesar de ainda ser muito jovem, ele já gere os negócios da família”) e de “gerar” (“Espera-se que esse governo gere milhões de empregos”), “giro”, que pode ser de “girar” (“Eu nunca me giro na hora certa”) e de “gerir” (“Eu giro a conta bancária dela há muito tempo”), e “consumo”, que pode ser de “consumir” (“Eu consumo muita água”) e “consumar” (“Muitas vezes, consumo atos dos quais rapidamente me arrependo”).Também há duas semanas, prometi que um belo dia falaríamos de “vindo”, interessante caso de forma verbal de duplo valor. Vamos lá. Você certamente sabe que, para obter o gerúndio de qualquer verbo, basta eliminar o “r” do infinitivo e acrescentar “ndo”. O gerúndio de “beijar” é “beijando”; o de “beber” é “bebendo”; o de “assistir” é “assistindo”. E o de “vir”? É “vindo”: “Elas estão vindo para cá”; “Ele passa o dia indo e vindo“.Até aí, nenhuma novidade. Afinal, a formação do gerúndio de “vir” segue o padrão. A “novidade” está no particípio. Como se sabe, não há uniformidade no particípio. A forma regular é a que termina em “ado” (nos verbos que terminam em “ar”, como “amar/amado”) ou “ido” (nos verbos que terminam em “er” ou “ir”, como “beber/bebido”, “assistir/assistido”), mas não faltam exemplos de formas irregulares: “salvo”, “aceso”, “solto”, “preso”, “extinto”, “expulso”, “entregue”, “impresso”, “aberto” etc.E como é o particípio de “vir”? É “vindo”. Sim, é “vindo”, forma igual à do gerúndio: “Se ela tivesse vindo aqui ontem...”; “Eu nunca tinha vindo aqui”. Como se vê, o verbo “vir” apresenta gerúndio e particípio iguais. Caso único? Quase. Por motivos óbvios, seus derivados apresentam a mesma particularidade. Assim, o gerúndio de “intervir” é “intervindo” (“Ela vive intervindo nas conversas das irmãs”), e o particípio também é “intervindo” (“Se o governo tivesse intervindo antes, talvez a situação...”).É inegável o desconforto que essa “igualdade” causa. Por mais que se saiba que é correto dizer “Se você tivesse intervindo”, fica-se com a impressão de que algo não vai bem. Paciência. Quem achar isso muito ruim pode substituir o verbo por um sinônimo: “Se o governo tivesse interferido antes, talvez a situação...” (ou “Se o governo tivesse intercedido antes...”). Por falar em “intercedido”, convém lembrar que se trata do verbo “interceder”. O substantivo que significa “o ato de interceder” é... É “intercessão”, que não se deve confundir com “interseção”, que é o mesmo que “intersecção”. Bem, isso é outra história.

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