OBESIDADE

Fofos, mas nada saudáveis

Quilos extras: eles podem até ficar mais bonitos quando gorduchos, mas o fato é que a obesidade é um risco para os bichos de estimação

24/06/2013 às 16:51.
Atualizado em 25/04/2022 às 11:42

Fofinhos não, gordos. A obesidade tornou-se um problema de saúde frequente – e preocupante – entre os animais de estimação. Há até um levantamento da Associação Médica Veterinária Americana que aponta que 40% dos cães dos Estados Unidos carregam quilos extras. No Brasil, a estimativa é que 30% dos cachorros e 25% dos gatos estejam acima do peso recomendado.

A semelhança não é mera coincidência, pois segue o mesmo parâmetro dos já conhecidos motivos que levam ao sobrepeso humano: má alimentação, sedentarismo e predisposição genética. Mas há outro fator no caso dos animais: a castração. Assim como ocorre com o homem, a obesidade é um distúrbio grave que acarreta fatores de risco para problemas respiratórios e cardiovasculares, além de predispor dores nas articulações.

E o pior: é difícil achar que um animal obeso esteja feio, já que um cão e um gato com quilos extras ficam ainda mais fofos. “Em grande parte dos casos, os proprietários são os grandes responsáveis pelos quilos extras dos bichos de estimação. Também é preciso lembrar que o avanço da medicina veterinária no que diz respeito aos métodos diagnósticos e às terapias mais eficazes vem contribuindo para uma maior longevidade de cães e gatos”, cita o médico veterinário e professor da Universidade Paulista (Unip), Cláudio Rossi, lembrando que isso favorece a descoberta de doenças endócrinas que, com o tempo, podem contribuir para o ganho de peso dos animais.

No que se relaciona à dieta, o médico acredita que os pets não só se alimentam mal por comerem em excesso, como também ingerem uma variedade não recomendada de guloseimas, pães, biscoitos, bolos, embutidos e salgadinhos, além dos petiscos feitos exclusivamente para eles, a exemplo de ossinhos e bifinhos. “Temos também os alimentos inadequados ou desbalanceados para determinadas espécies”, frisa Rossi.

Para o professor, além da falta de tempo, que faz com que os proprietários saiam menos com seus animais de estimação, a ausência de pessoas em casa também é fator complicador, uma vez que a presença do dono, geralmente, estimula o pet a se movimentar. Por outro lado, para compensar a falta de tempo ou ausência, parte dos proprietários ainda oferece comida como forma de compensação, agrado ou prêmio. “O mais indicado é que seja dada única e exclusivamente uma ração de boa qualidade, as chamadas premium ou superpremium, sendo que a quantidade deve ser indicada pelo médico veterinário ou baseada na tabela da embalagem da ração, de acordo com o peso do animal”, orienta, observando que o proprietário também pode optar por uma dieta caseira, desde que balanceada para as necessidades do bicho. Outra possibilidade é fazer a troca da ração convencional por uma light que, em geral, apresenta teor mais baixo de gordura e é rica em fibras e substâncias que ajudam a controlar o peso.

“Caso queiram oferecer algum petisco para alcançar um fim esperado, que seja em quantidade adequada, no máximo dois por dia”, ensina, lembrando que cães pequenos devem receber, em média, de 100 a 200 gramas de ração diariamente.

Foto: Rodrigo Zanotto /Especial para AAN A gata Liz foi castrada quando tinha cinco meses e logo depois começou a ganhar peso

Por que eles engordam?

O coordenador do Hospital Escola São Francisco de Assis, da Faculdade Anhanguera Campinas (FAC), André Luís de Moraes, diz que o número de animais de estimação obesos pode ser maior do que o estimado e chegar à metade do total de cães e gatos no mundo. Além dos motivos mais óbvios, a castração é apontada por ele como um importante fator. Porém, não é a castração em si que provoca o ganho de peso, mas os cuidados com a alimentação. “Muitas pessoas comentam que castrar deixa os animais obesos. Em partes, isso é verdade. Porém, o que ocorre é, que quando o animal é castrado, seu metabolismo diminui e, por consequência, suas atividades também são reduzidas. Com isso, sua exigência energética diária cai em 30% e ele deve passar a receber 2/3 da quantidade de ração de antes, para evitar o acúmulo de gordura.”

Moraes lembra que existem rações específicas para diferentes raças, categorias e idades. Com isso, as dietas são completas e balanceadas para cada tipo, fazendo com que os pets consumam tudo aquilo que é necessário. O especialista concorda que o oferecimento de petiscos é um problema. “O principal motivo do aumento de peso dos bichos de estimação é a falta de conhecimento, por parte do proprietário, das necessidades nutricionais dos animais”, salienta o veterinário.

O médico destaca ainda que as raças com maior predisposição genética ao ganho de peso são basset hound, daschhund, beagle, pug, cocker spaniel, bulldog inglês e rottweiler, entre outros. Os cães da raça labrador também podem apresentar menor eficiência no controle do apetite e, como consequência, tendem a comer em excesso e com voracidade. Essa raça também, diz Moraes, apresenta maior proporção de massa gorda em relação à massa magra, o que determina menor gasto energético e, portanto, maior predisposição à obesidade.

Em relação aos gatos, o médico veterinário da FAC diz que não há relatos de predisposição entre as raças. “O problema do excesso de gordura vem da própria obesidade, visto que grande parte dos animais que apresentam essa alteração é de propriedade de pessoas que também são obesas”, define.

Lindos, mas com problemas

Um animal fofo e cheio de dobrinhas é lindo, mas o excesso de peso acarreta uma série de problemas de saúde para ele. A médica veterinária Lilian Stefanini Ferreira Blumer, do Hospital Escola São Francisco de Assis, da FAC, lembra que a obesidade pode predispor o animal a alterações cardiorrespiratórias, endocrinopatias (diabetes mellitus e hiperadrenocorticismo) e osteoarticulares (discopatias e artroses). Quando o animal é diagnosticado como obeso, Lilian diz que as orientações principais são a adoção de um programa de perda de peso controlado e monitorado por um médico veterinário e, se possível, a realização de atividade física regular, o que também auxilia no emagrecimento.“É muito difícil convencer o proprietário de que seu animal apresenta sobrepeso e precisa de um programa de reeducação alimentar. Mesmo esclarecendo que a obesidade pode acarretar danos à saúde de seu pet. Para a grande maioria, sobrepeso é sinal de beleza e saúde”, lamenta.

A professora ensina que existem várias formas de calcular o peso do animal levando em conta uma série de características. E isso deve ser realizado por um profissional habilitado. No entanto, existem também tabelas que levam em consideração, principalmente, sexo, idade e raça e podem orientar o proprietário quanto ao peso médio ideal. “Por isso, é fundamental o exame clínico periódico do animal por um médico veterinário”, garante.

Uma das tabelas que a professora cita é a Pet Nutrition 2002 Hill, Inc..

Animais sedentários

Para o veterinário Cláudio Rossi, da Unip, outro problema sério e que leva à obesidade animal é o sedentarismo, já que os animais acompanham o estilo de vida de seu dono e, em muitos casos, mal saem de casa, fazendo isso apenas no momento das necessidades fisiológicas. Passam, portanto, a maior parte do dia deitados ou dormindo. Assim, engordam e ficam cada vez mais sedentários, já que a dificuldade em se locomover aumenta.

Uma pesquisa da organização inglesa The Blue Cross indicou que as pessoas que se alimentam em excesso e fazem pouco exercício costumam ter animais de estimação acima do peso. Além disso, o tamanho das residências está diminuindo, enquanto se reforça a tendência de se viver em apartamentos. Isso significa menor espaço para o animal e menor gasto de energia por parte deles.

“Para que se reverta esse quadro, há que se mudar os hábitos do proprietário. É importante salientar que o sedentarismo é o principal fator de risco para a obesidade em gatos já que, geralmente, são animais que não saem de casa para passeios”, lembra. Rossi ensina que é primordial que se criem situações que estimulem os felinos a se deslocarem, como espalhar arranhadores e bolinhas pela casa ou oferecer comida escondida em caixas de papelão suspensas, em rolos de papel toalha ou em brinquedos específicos para esse fim.

Tarefa difícil

O empresário Francisco Trindade bem que tenta manter sua cadela Nina dentro do peso, mas está difícil. Ela é mimada por todos, que querem agradá-la dando petiscos. Nina é da raça labrador, tem mais de oito anos e pesa 34 quilos. O ideal, diz Trindade, seria que ela pesasse entre 25 e 30 quilos. No entanto, desde que tinha três anos começou a ganhar peso.

“Durante o dia ela nos acompanha no escritório. Antigamente, os funcionários ao tomarem café da manhã, davam pão com manteiga para ela. No almoço, ela ganhava carne, massas e outros alimentos”, conta, destacando que Nina também faz poucos exercícios físicos, porque apresentou problemas na coluna vertebral, justamente por conta do excesso de peso, e está sendo tratada com acupuntura.

“No momento, o que fazemos é um acompanhamento com o médico veterinário e fornecermos apenas ração light. Todos estão proibidos de mimá-la. E isso significa que os funcionários não podem mais alimentá-la”, conta.

A veterinária Nathália Antonelli Coscarelli enfrenta o mesmo problema com Lara, sua labradora chocolate. Com cinco anos, a cachorra que chegou pequenininha em sua casa, com apenas 45 dias, hoje pesa 42 quilos – ela deveria ter, no mínimo, sete quilos a menos. “Lara sempre foi aquele animal gordinho, mas nunca apresentou doença por causa da obesidade”, conta Nathália, que conhece bem o problema por conta de sua profissão.

Ela reconhece que Lara deveria fazer mais exercícios e passear mais. Porém, um problema congênito herdado da mãe impede essa prática. A cadela nasceu com displasia coxofemoral grau 1, uma alteração que provoca dores no membro traseiro. “Fazíamos passeios com ela e exercícios, mas percebemos que não dá para forçar porque ela sente muita dor. Então, o máximo que podemos fazer é balancear a ração ideal e a a quantidade certa para conseguir, ao menos, manter o peso atual. Caso contrário, poderá ter problemas cardíacos e respiratórios.”

Nathália diz que, apesar de não fazer exercícios fora de casa, Lara passa o dia no quintal, que é grande e tem piso de pedra, ideal para cães de grande porte. Ela fica solta e é bastante ativa, movimentando-se muito. “O ideal seria ela perder um pouco de peso para ficar ainda melhor”, ressalta.

Os aposentados Maria e Mauro Cornacchia conseguiram colocar Jhonny, um daschund teckel de portemédio, na linha. Ele já pesou 5,6 quilos. Agora, está com 4,3 quilos e não precisa emagrecer mais. “Nunca o mimei e sempre dava ração adequada. Porém, acho que exagerava na quantidade”, admite Maria do Carmo, garantindo que Jhonny é um cão muito amoroso e que não precisa se esforçar para cuidar dele.

Porém, para chegar ao peso ideal, ela teve que mudar o cardápio e a rotina de passeios. Ele faz duas caminhadas ao dia, de manhã e no final da tarde, de 800 metros, pelo menos. “Além disso, faz uma dieta alimentar indicada por um profissional. No café da manhã, come mamão papaia, queijo magro e cenoura ralada. No almoço, coxa de peru com legumes e arroz integral. O jantar é igual ao almoço e ele pode comer frutas de sobremesa”, detalha Maria do Carmo.

Se Jhonny fica agitado, toma florais de Bach e também um medicamento para a pelagem. “Essa raça costuma ter muitos problemas de coluna. E, se o animal estiver acima do peso, é mais fácil de isso ocorrer. Por isso, tem que cuidar bem. Além disso, a dieta dele também contribui para evitar o desenvolvimento de doenças de pele. Agora é cuidar para ele manter o peso, que está ótimo”, garante.

Já a gata Liz continua com excesso de peso. A dona, Ângela Bassora, diz que nem sabe exatamente quanto ela pesa, mas calcula que esteja com cerca de 12 quilos. “A região da barriga é maior e flácida. Ela é uma gata grande e linda”, destaca.

Liz foi castrada quando tinha cinco meses e logo depois começou a ganhar peso. “O veterinário avisou que isso poderia acontecer. E eu moro em apartamento, o que limita a movimentação. Ela circula por toda a casa, mas não sai para passeios”, diz Ângela, lembrando que outro problema é em relação à alimentação da gata, que fica o dia todo sozinha, com uma grande quantidade de ração.

“A alimentação é boa, com ração à base de salmão, frango e legumes, mas os gatos se alimentam de duas em duas horas. Como fico o dia todo fora, deixo a quantidade que acho ideal para ela passar o período todo. Só que ela não é de comer guloseimas e é uma gata saudável”, garante.

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