Sistema de tratamento ecologicamente correto custa menos de R$ 20 mil e reduz o consumo
Vanessa Tanaka* O que a princípio seria a solução para o mau cheiro ocasionado pela empresa Mallmann, produtora de tomates em Mogi Guaçu, acabou se tornando um exemplo de sustentabilidade para o segmento. As inúmeras reclamações da vizinhança e a notificação da Prefeitura fizeram com que a empresa procurasse uma alternativa para acabar com os problemas causados com o despejo em solo público de resíduos gerados a partir da higienização de tomates e caixas. O projeto, desenvolvido em parceria pelo biólogo e professor do Centro Guaçuano de Educação Profissional (Cegep) Fábio César Fraga e pelo engenheiro-agrônomo e professor Alexandro Batista Ricci na Faculdade Municipal Professor Franco Montoro, consiste na implantação de uma estação de tratamento de efluentes (ETE) biológica e anaeróbia, utilizando o bambu. “O nosso intestino é um biofilme de bactérias que forma a flora intestinal. É ali que ocorre a digestão dos alimentos. O bambu faz o mesmo no tratamento dessa água. O interior dele fica lotado desses micro-organismos que trabalham na decomposição do material poluente”, diz Fraga. A ideia do filtro ecológico veio de um estudo que a dupla conheceu no Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (Prosab) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que utilizava o bambu. “Vimos que aqui em nossa região ninguém tinha feito nada igual. Começamos a estudar melhor e depois colocamos em prática”, conta o biólogo. Essa nova tecnologia traz mais eficiência no tratamento, causando o menor impacto possível, já que a maior parte da ETE trabalha somente por gravidade, tendo uma grande economia em energia. Além disso, a água utilizada no processo de lavagem do tomate é reutilizada, o que representa uma economia de até 30% na conta. A empresa trabalha 20 horas por dia na higienização de caixas e tomates e, com isso, gera uma média de 600 litros de efluentes por hora, podendo ter um pico de 1,2 mil litros três vezes ao dia, quando ocorre a manutenção dos equipamentos que fazem a limpeza das embalagens e dos frutos. Os resíduos dessa higienização contêm uma carga orgânica alta e passiva de tratamento biológico, motivo pelo qual foram elaborados tratamentos preliminares, primário, secundário e de desinfecção. No tratamento preliminar, são utilizados sistema de gradeamento e dois desarenadores para retenção dos elementos físicos, um redondo pré-fabricado de um lado esquerdo do barracão e o outro de alvenaria do lado direto. Após esse processo, segue para o tratamento primário em uma caixa de equalização com capacidade de 5 mil litros para estabilização. Em seguida, há o bombeamento para o sistema secundário, formado por três caixas com capacidade para 3 mil litros cada, nas quais o bambu está colocado de forma adequada para que o tempo de retenção hidráulica do efluente nesses reservatórios seja suficiente para uma ação biológica anaeróbia, podendo ter uma eficiência de mais de 70% de eliminação de carga orgânica. A água segue então para desinfecção, sendo clorada em um sistema com pastilhas controladas pela vazão e, para finalizar, vai para um reservatório com capacidade de 60 metros cúbicos. Lá, fica pronta para ser reutilizada pelo sistema público, como Corpo de Bombeiros, lavagem de ruas, irrigação de praças e áreas verdes. Benefícios se refletem nos custos e qualidade do reúso Empresa gastaria o dobro com o método convencional São vários os benefícios do filtro ecológico, entre eles o baixo valor. As caixas onde são realizados os processos são de PVC e não de alvenaria, o que barateia o investimento total, que beirou os R$ 20 mil, metade do valor que seria gasto em um método convencional. O tempo de conclusão da obra também é menor, cerca de três meses, e a manutenção é barata, pois não precisa de operador, já que a retirada do lodo é feita apenas uma vez no ano, tendo em vista que esse sistema produz pouco lodo por se tratar de um sistema anaeróbio (ausência de oxigênio). O bambu usado no processo é facilmente encontrado na natureza, tem longa durabilidade e a quantidade utilizada não representa riscos à espécie. A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), unidade de medida que avalia a quantidade de oxigênio da água utilizada na empresa, tinha inicialmente índice de 218 miligramas por litro (mg/l) e, após a implantação da estação com bambu, o índice foi reduzido para 29mg/l. Houve apenas uma medição e a expectativa é de que, nos próximos meses, esse índice diminua ainda mais. Segundo o biólogo Fábio César Fraga, além de econômico e ecologicamente correto, o sistema é adequado para pequenas empresas e condomínios que não tenham rede de esgoto.