ig-tadeu-fernandes (AAN)
Dados do IBGE 2010 mostram que o Brasil tem um novo modelo de família. Apenas 55% são formadas por casais com filhos, desse grupo, 16% dos filhos são exclusivos de um dos parceiros, ou de ambos, em relacionamentos anteriores. As mulheres estão engravidando mais maduras, média 27 anos de idade e tendo em média 1,9 filho por mulher. Essas características observadas nos últimos anos são reflexos de um novo modo de vida com maior participação da mulher no mercado de trabalho, das baixas taxas de fecundidade e do envelhecimento da população. A tendência em termos crianças filhos únicos aumenta e com isso cresce também uma preocupação antiga, será que essas crianças serão mais mimadas, birrentas, egoístas e outros adjetivos muito empregados para o filho único? Em primeiro lugar quero declarar um conflito de interesse, sou filho único, de mãe também filha única, mas juro que escreverei esse artigo baseado unicamente em evidências científicas. Historicamente, há relatos de que o filho único recebe excessiva atenção, amadurece precocemente e, pela ausência de irmãos, torna-se egoísta, exigente, dependente e temperamental comparativamente às crianças com irmãos. Algumas evidências não confirmam esse estereótipo do filho único, sugerindo que eles não apresentam problemas de personalidade mais frequentemente do que as crianças com irmãos e até podem apresentar vantagens relacionadas à inteligência, desempenho acadêmico e sucesso profissional. Um estudo científico muito bem conduzido foi realizado por um conceituado grupo de psiquiatras infantis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eles tiveram como objetivo avaliar o impacto de ser filho único sobre as características de relacionamento com amigos e pais, desempenho escolar, comportamento social e sexual. Um total de 360 adolescentes no terceiro ano do Ensino médio de uma escola privada de Porto Alegre respondeu a um questionário padronizado, e os resultados são surpreendentes: identificaram-se 8% de adolescentes filhos únicos, 35% primogênitos e 57% não primogênitos em uma amostra socioeconomicamente homogênea. Não houve nenhuma diferença estatística entre o comportamento social e o relacionamento com os pais e amigos entre os jovens, mas por outro lado o estudo mostrou que os filhos únicos menos frequentemente relataram uso de bebida alcoólica e episódios uma intoxicação alcoólica (39%) contra 69% no grupo dos primogênitos. Os filhos únicos obtiveram melhor desempenho escolar do que os filhos com irmãos e, uma curiosidade, o comportamento sexual diferenciou os filhos únicos devido à idade mais precoce com que iniciaram a atividade sexual, Os filhos únicos parecem ter tantos amigos quanto os não únicos, exercer a liderança e sentirem-se satisfeitos com suas vidas. Tendem a exibir traços similares aos filhos primogênitos e parecem ter maior autoestima do que as crianças com irmãos. Outro estudo realizado na Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, e publicado na revista científica Pediatrics, avaliou 13 mil estudantes do Ensino Fundamental e Médio e descobriu que o fato de não ter irmãos não atrapalha as habilidades sociais de um adolescente. As crianças se socializam bem tanto na escola quanto fora, nas atividades extras. Diante dessas evidências, respondo às várias perguntas que muitos pais nos fazem sobre terem filho único, mas um adendo muito importante deve ser colocado, tudo depende da educação que os pais dão ao seu filho, nada pode ser em excesso. Carinho, limites, atenção, brinquedos, amor e proteção devem ser muito bem equilibrados.TAGS | TADEU FERNANDES