Coluna publicada na edição de 24/11/19 do Correio Popular
Ao empatar por 0 a 0 com o CRB em Maceió na sexta-feira, o Figueirense assegurou sua permanência na Série B e de uma só vez mandou Londrina, Vila Nova, Criciúma e São Bento para a terceira divisão. Os jogadores do time catarinense se abraçaram no gramado do Rei Pelé e comemoram o feito como se fosse um título. Celebrações emocionantes e dramáticas são comuns ao final de cada ano, mas essa foi especial. A fuga de um rebaixamento que parecia certo mostra como a presença de figuras nefastas no comando de um clube pode afetar o desempenho dos jogadores. O Figueirense sofreu com salários atrasados, ficou seis rodadas na lanterna, amargou uma inacreditável sequência de 18 rodadas sem vitória, teve vários dias de greve sem a realização de treinos e, no ápice da crise, perdeu um jogo por WO. Tudo isso aconteceu enquanto o clube teve em seu comando a Elephant, empresa “parceira” que realizou uma gestão desastrosa, com níveis extremos de incompetência e irresponsabilidade em todos os setores. Até jogadores da categoria de base também deixaram de treinar porque o clube não tinha um ônibus para levar os garotos ao CT. Como se não bastasse a gestão desastrosa, a Elephant enviou à CBF um pedido de abandono da Série B. A diretoria do Figueirense negou o desejo de deixar o campeonato e encerrou a “parceria”. Sem a presença da empresa no clube, as coisas começaram a mudar. O mesmo time que ficou 18 rodadas sem ganhar de ninguém conseguiu ficar invicto durante 11 partidas. Os mesmos jogadores que, indignados com o descaso administrativo, que se recusaram por diversas vezes a treinar e que decidiram não entrar em campo contra o Cuiabá, começaram a lutar pelos pontos necessários para evitar o rebaixamento. Parecia impossível, mas o objetivo foi alcançado com uma rodada de antecedência. De “mercenários”, os jogadores passaram a “heróis”. Tão importante como a luta por cada ponto na reta final foi a decisão de provocar uma derrota por WO. A atitude extrema foi necessária para mostrar o óbvio à diretoria: a figura nefasta precisava deixar o comando do clube imediatamente. É claro que o simples desligamento da empresa não resolveu todos os problemas. A dívida é enorme e o processo de recuperação do clube apenas engatinha. Mas quando um clube consegue se livrar de pessoas que trabalham dia e noite contra os seus interesses, os reflexos em todos os setores são imediatos, inclusive no campo. Gerir um clube de futebol exige competência, honestidade e extrema dedicação. A simples presença de uma figura nefasta no comando impede que essas virtudes se sobressaiam, a ponto de fazer com que um time capaz de ficar 11 jogos sem perder se transforme em um saco de pancadas que fica 18 rodadas sem ganhar.