Durante sua perseguição a Nico Rosberg no GP de Mônaco, Lewis Hamilton esbravejou via rádio que sua equipe deveria tê-lo chamado aos boxes uma volta antes para lhe dar a chance de sair mais rápido após a troca de pneus e, assim, superar o companheiro. Depois de chegar em segundo, atrás do alemão, voltou a criticar a Mercedes, afirmando que, em seu ex-time, a McLaren, a história teria sido diferente.Hamilton defende que a Mercedes tenha dois estrategistas: um trabalhando para dar as melhores chances para Rosberg, outro para ele. Segundo o piloto, a McLaren age dessa maneira. No time alemão, o chefe Toto Wolff assegurou que a postura é sempre dar prioridade para quem está na frente na pista.Não há dúvidas que, do ponto de vista esportivo, Hamilton tem razão. Ainda mais em um ano em que é bem provável que ele e Rosberg lutem sozinhos pelo título. Afinal, após seis das 19 etapas disputadas, eles já têm ao menos 57 pontos, o equivalente a mais de duas vitórias, de vantagem para o terceiro colocado, Fernando Alonso. De certa forma, ao permitir uma briga tática entre seus pilotos, a Mercedes estaria fazendo um grande favor ao campeonato, dando mais emoção às corridas, pois as variáveis aumentariam. Mas a que preço?Imagine se Hamilton tivesse, de fato, parado uma volta antes de Rosberg e voltado na frente. Isso depois do alemão ter feito a pole — de forma controversa, é verdade, mas nada foi provado contra ele — e mantido a ponta de maneira irrepreensível até ali. Até que ponto o piloto culparia seu engenheiro por não ter percebido a brecha tática ou desconfiaria que está sendo prejudicado pelo próprio time?Foi o que aconteceu com a própria McLaren na última vez em que o time teve seus dois pilotos efetivamente lutando pelo título. Houve muita confusão nos bastidores em 2007, com o escândalo da espionagem, mas a desconfiança de Alonso de que Hamilton, cria da equipe desde a adolescência, recebia tratamento diferenciado, gerou um clima contraproducente que, em última análise, abriu o espaço para o título de Kimi Raikkonen, de Ferrari.Mais do que isso: o mal estar tornou a permanência de Alonso, que assinara por três anos, insustentável. Hamilton não pode deixar que o mesmo aconteça. Também no meio de um contrato milionário, está no lugar e hora certos para ser campeão não apenas neste ano, pois a Mercedes tem estrutura para levar o atual domínio para as próximas temporadas. Está na hora de abaixar a cabeça e trabalhar para garantir, na pista, as maiores chances de vencer.