Rabo de Peixe, do premiado português Joaquim Pinto, em co-direção com Nuno Leonel, sobre o cotidiano dos pescadores na Ilha dos Aço...
Rabo de Peixe ( Divulgação)
Rabo de Peixe, do premiado português Joaquim Pinto, em co-direção com Nuno Leonel, sobre o cotidiano dos pescadores na Ilha dos Açores, abre nesta quarta-feira o 4º Olhar de Cinema 2015 – Festival Internacional de Curitiba. Até o dia 18 serão exibidos 92 títulos – 53 longas e 39 curtas – representando 32 países.
A curadoria do festival estabeleceu como critério de seleção “trabalhos que promovem reflexões sobre o cinema e instigam a formação de novos olhares”, abrangendo a diversidade de expressões culturais, unindo autores jovens e consagrados, e abrindo o mais possível o leque das identidades internacionais. Praticamente todas as obras são inéditas no Brasil.
O evento traz convidados nacionais e internacionais (que participarão de debates e oficinas), mostras competitivas de longas e curtas e mostras paralelas como a Olhares Clássicos, uma das novidades deste ano, que terá, entre outros filmes como Sindicato de Ladrões (Elia Kazan, 1954) e Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954).
Entre os convidados, está o argentino Lisandro Alonso, diretor de Jauja, co-produção com o Brasil com Viggo Mortensen que chega aos cinemas do País no dia 25. O longa ganhou o Prêmio da Crítica (Fipresci) na secção Um Certo Olhar de Cannes do ano passado.
Um dos diretores do evento, o cineasta Aly Muritiba, falou ao Correio Popular. Ele conta que, diante da crise econômica, enfrentou problemas para montar o festival, mas o orçamento acabou maior do que o de 2014. Para ele, o Olhar de Cinema se tornou evento obrigatório para aqueles que desejam saber o que de mais instigante se tem produzido no cinema contemporâneo mundial. Outras novidades são a Mostra Foco, dedicada à obra completa de um jovem realizador pouco conhecido no país, o americano Nathan Silver, que estará em Curitiba, quatro masterclass, retrospectiva de Jacque Tati, e a presença de mais de cem produtores que discutirão a produção de cinema e TV no Brasil. Leia a entrevista completa:
Correio Popular – Fala-se muito em crise econômica no Brasil neste momento. Você teve alguma dificuldade para levantar o festival deste ano? O custo está maior ou menor?
Aly Muritiba – Vivemos uma situação de insegurança muito grande até janeiro, pois nosso principal patrocinador nos anos anteriores sofreu um forte impacto com a crise econômica mundial, o que fez com que o perdêssemos este ano. Cogitamos diminuir o tamanho do festival (mantendo o número de filmes e mostras, mas reduzindo o número de convidados), pois diante do cenário estava bastante difícil conquistar novos parceiros, que comumente gostavam do projeto do festival, mas alegavam restrições financeiras. Mas então a coisa mudou e graças a novas parcerias (Correios, Sanepar e Fomento Paraná), além da do BNDES, que mantivemos, o festival pode acontecer conforme nossos planos iniciais. Este ano, apesar da crise, o evento terá orçamento maior do que os anos anteriores, o que se reflete no aumento do número de salas, no número de mostras e na quantidade de convidados internacionais que virão ao evento, além da criação do Mercado de Cinema.
Olhar de Cinema chega à quarta edição. O que o diferencia, por exemplo, da experiência do primeiro? O conceito é o mesmo? Houve algum tipo de evolução de qualquer natureza? Ou alguma mudança significativa?
Ano após ano o festival evidencia seu caráter irrequieto, cinéfilo e arriscado, traços já marcantes desde a primeira edição. Em linhas gerais o conceito é mesmo: trazer ao país obras instigantes, desafiadoras e inovadoras, mas cada edição possui um conceito próprio, o deste ano é Leveza e Movimento. No tocante à evolução, os anos anteriores serviram como cartão de visitas e tubo de ensaio. Estávamos experimentando formas, mostras, lugares, e, ao mesmo tempo, mostrando ao público o que nos define. Este ano damos um passo além aumentando o número de salas e mostras (criamos a Mostra Foco, e Olhares Clássicos) e criando o Mercado de Cinema, que na primeira edição oferece ao público um conjunto vasto de atividades de formação e negócio. Vale notar que, graças ao prestígio internacional conquistado pelo Olhar de Cinema, conseguimos atrair expressivo número de filmes inéditos no país para as nossas mostras. Este ano cerca de 90% dos filmes apresentados pelo festival farão sua première brasileira.
Qual o lugar hoje do Olhar de Cinema no cenário brasileiro de festivais?
Tenho ouvido por aí e sou obrigado a concordar que o Olhar de Cinema se tornou evento obrigatório para aqueles que desejam saber o que de mais instigante se tem produzido no cinema contemporâneo mundial. Creio que o Olhar de Cinema ajudou a evidenciar o quão importante é a direção artística num evento desta natureza, mas mais ainda, creio que tenhamos afirmado e confirmado que a seriedade e profissionalismo da curadoria sejam essenciais para o sucesso ou fracasso de um festival que se pretende mais que um simples lugar de celebração. Tanto é assim que recentemente inúmeros outros festivais nacionais têm adotado o mesmo procedimento de entregar nas mãos de curadores e não de comissões de seleção, a responsabilidade de pensar as mostras e os filmes nelas expostos.
Há alguma novidade ou destaque para 2015?
A meu ver esta edição tem inúmeros destaques e novidades: Temos a criação da Mostra Foco, função dedicada à obra completa de um jovem realizador ainda pouco conhecido ou valorizado no país. Nesta edição veremos todos os filmes do realizador norte-americano Nathan Silver, que estará em Curitiba apresentando e debatendo suas obras. Temos quatro masterclass especialíssimas: Nathan Silver, o realizador argentino Lisandro Alonso, Kidlat Tahimik, considerado o “pai do cinema independente filipino” e o acadêmico francês Stéphane Goudet, sumidade em Jacque Tati, de quem teremos retrospectiva completa. Temos os Encontros de Negócio do Mercado de Cinema, que traz à cidade mais de cem produtores de cinema a fim de discutir a produção de cinema e TV no Brasil. Criamos o Curitiba_Lab, laboratório de aprimoramento de projetos cinematográficos, cujos produtores e diretores recebem consultorias com especialistas nacionais e internacionais. Enfim, são inúmeras as novidades que o público poderá conferir a partir do dia 10 de junho em Curitiba e em mais de dez cidades do interior onde acontece o Olhar Itinerante.
* O jornalista viajou a convite do festival.
Mostra Competitiva de Longas do 4º Olhar de Cinema
A Misteriosa Morte de Pérola (Guto Parente, Brasil)
A Proletarian Winter’s Tale (Julian Radlmaier, Alemanha)
Angels of Revolution (Aleksey Fedorchenko, Russia)
I am the People (Anna Roussillon, França)
Koza (Ivan Ostrochovský, Eslováquia/República Checa)
Lúcifer (Gust Van Den Berghe, México/Bélgica)
Mercuriales (Virgil Vernier, França)
Reality (Quentin Dupieux, França)
Story of Judas (Rabah Ameur-Zaïmeche, França)
Violência (Jorge Forero, México/Colômbia)