PERFIL

Feitos com amor, adoçados com carinho

Com o coração: Nina Lahaliyed, da Brou?ne, é uma cozinheira quase acidental que pegou gosto pela gastronomia e, na onda do comfort food, faz dos doces uma demonstração de afeto e uma forma de reconectar-se com as origens

Érica Araium
erica.nogueira@rac.com.br
23/06/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 20:23

Quando chegou a Campinas, duas décadas atrás, a empresária Nina Lahaliyed incluiu uma definição pessoal ao verbo cozinhar: jeito terno de se (re)ligar à família. E passou a conjugá-lo, sem qualquer pretensão que não fosse aplacar as saudades. Desconhecia o idioma, tinha meia dúzia de referências do País e temor algum de iniciar uma nova vida com o marido, um brasileiro que conheceu em Chicago, sua terra natal. “Minha carreira ia bem na área de marketing e publicidade, na qual sou formada. Gosto muito dos detalhes, sou visual. E aberta. Tanto que, quando ele sugeriu que nos mudássemos para cá, tudo bem. Seria uma aventura, pensei, mas estava disposta a me adaptar”. Receitas familiares que sabia de cor saíam da manga, por puro afeto. Entre elas, a dos brownies, “doce conexão” Brasil-Estados Unidos que virou negócio pioneiro em 2008 e franquia três anos depois: a Brou’ne. “Incentivada por meu marido, abri uma loja no Cambuí. Hoje, são quatro unidades próprias na cidade”, diz. Há, ainda, dez lojas do tipo franquia em outros nove municípios brasileiros.

A relação de Nina com a gastronomia é bem anterior (quase acidental, diga-se) a qualquer projeto de expansão da marca. “Isso foi consequência de muito trabalho e estou superfeliz. Dizer que nasci numa grande família que adora comer e cozinhar pode parecer clichê, mas é a pura verdade. Minha mãe, Faith, é a matriarca. Na véspera dos feriados, todos se reuniam em casa para um banquete em que cada um temperava suas receitas com personalidade”, conta. Os doces eram artifícios mimosos para presentear alguém, daí ela transpor o conceito de aconchego para a Brou’ne. “Cada produto é tratado como um carinho”, fala. E embrulhado com laço de fita, se for o caso.

Nina observa que a afeição pela culinária é tanta que há uma leva de cozinheiros profissionais na família. “Eu mesma nunca fiz curso formal de gastronomia e também não tinha muitas referências de chefs. Segui a intuição e estudei bastante sozinha. Desenvolvi um dom? Pode ser isso, sim”, arrisca. Em seguida, reforça que o marido foi o principal incentivador. “Confesso. Adorava comer, mas não sabia cozinhar. Quando me casei, tive de aprender, principalmente, por ser vegetariana e querer surpreender. Posso dizer que me apaixonei pela gastronomia”, diverte-se. Vieram os três filhos, a criatividade foi novamente posta à prova e os brownies, certeiros, serviram – e ainda servem – para adular a cria.

Com o jeito de Nina

Entre as tantas receitas que reproduziu ou desenvolveu, ela se reafirma cozinheira ao dizer que nunca houve uma versão absolutamente original que coubesse em algum de seus pratos. “Sempre modifico alguma coisa, deixo minha marca. Para ser servida, primeiro a comida tem de me surpreender, me agradar. Pensando no negócio, tenho que ser ainda mais coerente em relação às escolhas. O preparo das minhas receitas é artesanal do começo ao fim”, decreta, perfeccionista.

Não que sugestões deixem de ser incorporadas ao cardápio, muito pelo avesso. Por indicação da cunhada, por exemplo, o brownie de chocolate com damascos foi incluso na oferta e tornou-se um dos favoritos da clientela feminina. “O clássico e o que leva Nutella são os mais pedidos, de maneira geral. A que prefiro, sem dúvida, é a versão crumble, com farofa de castanhas nobres, frescas e picadas na ponta da faca e especiarias. Curioso é que pensei na receita para o Festival Gastronômico de Campinas, que teve como tema a culinária paulista. O sucesso foi tanto que não retirei do menu”.

No dia a dia, Nina sempre se volta à cozinha e faz questão de surpreender os filhos com doces e outros quitutes. “São doses de afeto. Nas lojas ou em casa, minha cozinha sempre está funcionando.”

Nicho de mercado

Não foi à toa que essa espécie de “brigadeiro dos americanos” deu certo por aqui. Além de apostar em um nicho de mercado de levada comfort food – que abrange doçarias especializadas em bolos, cupcakes e afins –, a empresária não perdeu o timing para investir na ampliação da capacidade produtiva da cozinha industrial, com sede em Campinas; e planejar, criteriosamente, a logística, a distribuição e o treinamento de funcionários. Um reposicionamento que começou em meados de 2010 e foi concretizado com a abertura da primeira franquia, em 2011.

“O cliente que provar um de meus produtos em Campinas e, depois, em São José dos Campos ou Brasília, por exemplo, terá de ser atendido da mesma maneira e perceber, naturalmente, que há um padrão rigoroso de qualidade a determinar o sabor e a textura de cada alimento. Há um cronograma a ser seguido pelos franqueados, que inclui teoria e prática”, situa. Treinamentos e reciclagens para empreendedores e colaboradores são realizados nas unidades campineiras.

Além do doce carro-chefe (o brownie, ora pois), muffins, cupcakes, whoopie pies e outros produtos que remetem à identidade estadunidense foram incluídos no menu, além de bebidas quentes (chás e cafés) e drinques gelados. Se quiser levar algo além dessas guloseimas para casa, bingo. Há canecas personalizadas e outros itens à disposição. “Da identidade visual da loja ao zelo com o padrão de atendimento, cuido de tudo. Estou na cozinha para garantir que o preparo da massa seja realmente artesanal, diário e perfeito. Pensei numa logística simples e não abro mão de matérias-primas de excelente qualidade”, observa Nina.

Até o final deste ano, a rede deve contar com 21 lojas em solo nacional (há previsão de abertura de sete unidades). “Ainda assim, ainda que cresçamos, asseguro que não vou modificar o conceito. Os produtos que ofereço aos clientes são mais do que alimentos, porque me lembram carinho, me reconectam à minha família.”

Parte dos insumos da browneria é importada dos Estados Unidos e do Chile e outra provém de nossos tantos rincões. Dali a pouco, Nina adianta que quer se dedicar às frutas amazônicas, “atrativas do sabor à apresentação” e bastante interessantes por serem exóticas. Noutra ponta dos planos estão os salgados, que devem compor o mix de produtos em breve. 

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