DESAMPARO

Família de Piracicaba tentam retomar a vida após tragédia

Vítimas de acidente com caminhão que invadiu casas retornam aos imóveis destruídos

André Luís Cia
10/04/2013 às 11:21.
Atualizado em 25/04/2022 às 21:02
Moradores observam o local por onde o caminhão deixou um rastro de destruição e mortes em Piracicaba (Lucas Dimarzio/FOTO DO LEITOR )

Moradores observam o local por onde o caminhão deixou um rastro de destruição e mortes em Piracicaba (Lucas Dimarzio/FOTO DO LEITOR )

Os olhares ainda estão tristes e perdidos diante de tanta destruição. Os escombros espalhados por todos os lados se assemelham muito a um cenário devastado por uma guerra. A sensação de perda e de impotência diante da tragédia é inevitável. Não há lágrimas, mas o semblante delas é de dor.

Somente um velho fogão branco ainda está em pé naquilo que um dia foi uma casa. O eletrodoméstico é a única coisa que restou da família de Sandra Alves Pereira, de 28 anos. Ela perdeu tudo o que tinha no último domingo (7), após um caminhão desgovernado ter atingido os fundos de sua residência no Monte Líbano, em Piracicaba. Questionada sobre diversos pontos com relação ao acidente, a Prefeitura de Piracicaba respondeu parcialmente aos questionamentos.

Sandra retornou nesta terça (8) pela manhã ao local. Acompanhada das três filhas (o marido ainda continuava internado no Hospital dos Fornecedores de Cana), ela disse que buscará forças para recomeçar, mas que espera justiça por parte do Poder Público.

Até terça-feira (8), ninguém da Prefeitura havia procurado a família. No acidente, morreram três pessoas: Geciel Valentim Gomes da Silva, 35 anos, Marcio Roberto dos Santos, 45 e a menina Emily de Almeida Silva, de 11 anos, sobrinha de Santos.

Domingo, 7 de abril, 13h. Enquanto Sandra e o marido, Natanael almoçavam na cozinha, as três filhas do casal (Aline, nove anos; Alice, oito anos, e Alani; de quatro anos), assistiam TV no quarto. Um grande barulho e o impacto do caminhão contra uma das paredes quebrou a rotina da família dando início à maior tragédia de suas vidas. “Foi tudo tão rápido que não lembro de nada. Eu não sei o que pensar. A única coisa que faço é agradecer a Deus. Perdemos tudo que levamos uma vida inteira para construir, mas estamos vivos e juntos”.

O amor pelas filhas e pelo marido, segundo ela, é o que a motiva continuar lutando e não fraquejar. Sem outra alternativa, precisou recorrer ao socorro de uma cunhada, moradora do bairro, que ofereceu para abrigá-los. Há quase um ano, moravam de aluguel no imóvel. Vindos de Minas Gerais, ela trabalha como ajudante de cozinha.

Durante a entrevista, um fato que despertou a atenção foi o comportamento das crianças. Ao invés de responderem aos questionamentos, elas só sorriam. Segundo a psicóloga Edázima Aidar, em casos como esse, o sorriso é usado como defesa.

“Primeiro, há negação, depois vão se familiarizando com a mudança e, por último, tem a aceitação”. Ela explica que o riso não significa alegria, mas sim, defesa. “O ideal é que essas pessoas passem por tratamento psicológico”, explicou.

Aline, a mais velha das crianças, foi também a mais machucada. Em seu corpo há várias escoriações, principalmente nas costas e no ombro. Ela conta que não se recorda de nada e que deve ter desmaiado. Ao lado das irmãs, ainda procurava por algum brinquedo, mas as tentativas foram em vão já que só existiam entulhos no chão.

OUTRO LADO

A Prefeitura de Piracicaba foi questionada se prestará algum tipo de assistência (psicológica ou financeira) às vítimas do acidente, porém, essa questão não foi respondida. Com relação à segurança no local, alvo de abaixo-assinado, o setor de Divisão de Trânsito e Sinalização informou que já existe um redutor de velocidade na mesma via, na altura do número 200, e também sinalização de parada obrigatória no cruzamento com a Rua Abdo Maluf. Mesmo assim, a Semuttran (Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes) enviou engenheiros ao local para avaliar a possibilidade de novas intervenções.

A Prefeitura também encaminhou seis caminhões e dois tratores para fazer a remoção do entulho, mas por falta de espaço somente um veículo permaneceu no local. Sobre o número de acidentes fatais na cidade neste ano,a Prefeitura informou que a Semuttran não possui estatística e que estes dados devem ser obtidos por meio dos boletins de ocorrência.Com relação aos prejuízos financeiros e de quem seria a responsabilidade do acidente, informou que o caso é de competência da Polícia Técnica. O acidente será investigado pelo 3° DP (Distrito Policial).

Outras famílias também foram atingidas pela tragédia de domingo, dentre elas, a do tapeceiro João Bosco da Costa. Com o acidente, ele teve a garagem toda destruída . “ A Defesa Civil veio até aqui e disse que eu deveria limpar porque o caminhão deles não chega até aqui, mas essa não é minha obrigação”.

Costa calcula que o prejuízo que teve está estimado em R$ 15 mil. Ele aponta que outras pessoas já morreram no local por causa da falta de segurança.

A balconista Elisangela Baldo, de 24 anos, é a dona da casa alugada há um ano pela família de Sandra. Ela disse que pretende cobrar os prejuízos da Prefeitura e também da família do caminhoneiro. Um grupo de moradores organizou em 2001 um abaixo-assinado, para que a rua tivesse sentido único rumo ao Centro.

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