CAMPINAS

Falta de guincho tira a polícia das ruas

PMs e guardas municipais ficam até 10h esperando a remoção de veículos furtados que são achados

Patrícia Azevedo
02/11/2013 às 07:30.
Atualizado em 26/04/2022 às 10:10

A falta de guinchos e de espaço na pátio da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) faz com que os policiais militares e guardas municipais deixem de fazer patrulhamento preventivo para aguardar, muitas vezes por longos períodos, a retirada do veículo roubado ou furtado que acaba de ser localizado. Segundo os agentes de segurança ouvidos pela reportagem, a retirada de um carro chega demorar até 10 horas. PMs disseram que são orientados a priorizar ocorrências com vítimas, deixando carros localizados em segundo plano. Em alguns casos, agentes da GM tiveram que fazer vaquinhas para bancar do próprio bolso um guincho e poderem ir para casa depois de horas à espera do atendimento. Dificuldades"Enquanto uma guarnição fica parada esperando o guincho, poderia estar na rua fazendo policiamento e abordagens, evitando crimes. Nas últimas vezes que precisamos, fomos informados pela Emdec que não havia previsão para que o guincho fosse enviado" , diz um PM.A situação chegou a tal ponto que alguns guardas municipais fizeram um rateio, dois meses atrás, para pagar a remoção de um veículo encontrado durante a madrugada num terreno abandonado na periferia de Campinas. "Era madrugada e como não havia previsão, decidimos chamar um guincho e pagamos para poder voltar para casa" , afirma um GM, que não quis ser identificado. Isso acontece porque, quando um agente policial localiza um veículo roubado ou furtado, deve ficar no local até que um guincho retire o carro e encaminhe para a delegacia de polícia da área, onde a ocorrência é registrada e onde o proprietário poderá retirar o veículo. Mais de 10 horasA Emdec é acionada assim que o carro é localizado, mas segundo relato de policiais e guardas municipais, a demora pode ultrapassar 10 horas em alguns casos. "Nós não podemos sair de perto, senão somos responsabilizados pelo que acontecer com o veículo. Quando ligamos para pedir guincho, nos informam que não há previsão" , completa o guarda.Durante a semana, a Emdec anunciou que passaria a cobrar uma "taxa de guincho" no valor de R$ 290,12 dos motoristas que forem recuperar no pátio municipal os carros encontrados pela polícia após roubo ou furto. A medida gerou uma avalanche de críticas, que acusavam o município de penalizar duplamente o cidadão vítima do roubo/furto.Na última quinta-feira, no entanto, o prefeito Jonas Donizette (PSB) revogou a resolução que publicada no Diário Oficial do Município.Problema agravadoO problema de falta de guincho é recorrente em Campinas e vem se agravando nos últimos anos. Em 2011, a questão chegou a ser tema de debates na Câmara Municipal, mas nada foi resolvido. Com o pátio com quatro vezes mais carros além da sua capacidade, a Emdec não tem mais espaço para colocar os veículos que são recolhidos.Como consequência, muitos veículos ficam estacionados nas imediações das delegacias. Quem vai ao 1º Distrito Policial pode ver pelo menos seis carros estacionados ao longo da Rua Sebastião de Souza. Os veículos deveriam ser recolhidos ao pátio, mas permanecem no local por falta de espaço.Outro ladoO comando da Polícia Militar negou, por meio da assessoria de imprensa, que haja uma orientação sobre o assunto e diz que a informação não procede. Em relação à demora para a recolha dos veículos, a corporação afirmou que ela existe, mas diz que não está acontecendo com tanta frequência.A Emdec afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não recebeu oficialmente nenhum comunicado dos comandos das polícias Militar, Civil ou da Secretaria Estadual de Segurança sobre o tema. "A Emdec colabora com as polícias Militar e Civil no sentido de solucionar o mais rápido possível estes casos. Quando acionada, celeremente tenta localizar o proprietário do veículo para que tome as providências de acionar o seguro ou ir buscá-lo" , afirma em nota.Segundo a Emdec, de 21 a 27 de outubro, houve 215 solicitações de remoções das polícias Militar e Civil. Desse total, 188 foram atendidas, nove foram canceladas pela PM e o restante foi removido pelo proprietário ou ficaram depositados nos distritos policiais. No mesmo período, a GM fez 10 contatos para pedir informações sobre os proprietários dos veículos para fazer contato e fez uma solicitação de remoção. Nesta solicitação, a Emdec encontrou o proprietário e a remoção foi desnecessária. Sobre os carros estacionados nos distritos, a Emdec informou que nos últimos 30 dias removeu do 1º DP 111 carros e motos e do 4º DP, 29 veículos apreendidos e estacionados nas ruas do entorno. Dividir a responsabilidadeA Emdec quer que o Estado divida a responsabilidade de recolhimento dos carros com o município. Hoje a empresa paga toda a estrutura do pátio, dos guinchos, dos funcionários e arca com todas as despesas para a remoção e armazenamento dos veículos. Segundo a Emdec, 95% da demanda por recolha de carros vem da Polícia Militar e da Civil e, portanto, seriam demandas estaduais. Uma das soluções propostas pelo município seria um projeto de co-gestão chamado Pátio Seguro. O projeto está em fase de negociação com o Detran-SP e a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP). A intenção da Emdec é fazer uma parceria público-privada para triplicar a capacidade de recolha do Pátio Municipal, que hoje é de 2.800 veículos, mas que está superlotado com mais de 8 mil veículos. ParticipaçãoO projeto prevê o atendimento da crescente demanda de remoções, guardas, restituições e leilões de veículos irregulares. A ideia é que o local receba os veículos roubados, furtados e arrolados em ações judiciais, centralize os serviços e agilize a devolução da propriedade. Para tanto, a Emdec cederia uma área de 25 mil metros quadrados na região do Distrito Industrial de Campinas. A intenção é que trabalhem no local investigadores e peritos da Polícia Civil voltados para a resolução dos casos de furto e roubo de veículos. A ideia é que no local possa ser feita a confecção de laudo na apreensão e no pátio; dados cadastrais veiculares; notificação aos interessados; guarda do veículo; perícia técnica; exame de documentos; entrega do veículo e organização de leilões. 

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