A polêmica dos testes feitos pela Mercedes a pedido da Pirelli em Barcelona escancarou o esgotamento de um modelo de não-gestão da Fórmula 1 em um momento chave de sua história, às vésperas de uma mudança de regulamento importante.
Não-gestão porque a categoria virou terra de ninguém. Não há um Pacto da Concórdia em vigor e a Federação Internacional se finge de morta. Sem encontrar uma via comum para negociações por meio de sua associação, a Fota, as equipes perderam a chance de ter pulso firme em dois pontos que, se não forem revistos, podem tornar o negócio insustentável em alguns anos: o corte efetivo de gastos e a divisão do dinheiro dos
acordos com organizadores e TVs, feitos pelo promotor Bernie Ecclestone.
A CVC Capital, a qual Bernie representa, fica com boa parte da grana e fechou escusos contratos individuais com cada time. Não é difícil imaginar quem levou vantagem. A situação é semelhante à crise do Clube dos 13 no futebol, com times maiores buscando fechar contratos individuais para ter maior vantagem.
Em meio a esse clima de falta de comando e jogo de interesses, algo simples, como a necessidade da restrição aos testes de pista ser aliviada para a próxima temporada devido à extensa mudança de regulamento, vira um rebuliço.
A diminuição dos testes foi bem vinda quando as montadoras bateram em retirada e bem absorvida pelas equipes desde sua implementação, em 2009, em grande parte porque, de lá para cá, o regulamento técnico se manteve razoavelmente estático. A história muda de figura agora, tanto para as próprias equipes, que terão de alterar radicalmente seus carros, quanto para a fornecedora de pneus, que terá de lidar com carros que geram muito mais torque.
No momento, as regras permitem testes durante a temporada apenas com carros com dois anos de uso e a recente polêmica dos 1.000km feitos clandestinamente pela Mercedes a pedido da Pirelli mostra que esse modelo já deu o que tinha de dar. É preciso mudar isso o quanto antes, caso contrário ninguém poderá reclamar se o pneu durar por seis voltas na primeira corrida de 2014. Afinal, vimos nos últimos dois anos o
quanto a atual conjuntura, com a Pirelli testando com carros datados, pode gerar surpresas – muitas vezes agradáveis para nós, mas aterrorizantes para as equipes.
A questão em torno do teste da Mercedes, portanto, não é da possível
vantagem que o time ganhou. O problema é a falta de comando político e a
desunião entre as equipes, que, ao invés de trabalhar juntas, só trocam
farpas.