Canteiro começou a ser montado, com as obras devendo começar dentro de 15 dias
Fachada da Basília do Carmo será restaurada ( César Rodrigues/AAN)
A fachada neogótica da Basílica do Carmo será restaurada para recuperar seus elementos originais da década de 1920. O canteiro de obras começou a ser montado e a previsão é que as intervenções sejam iniciadas em cerca de 15 dias, pela frente do templo. A igreja, onde está sepultado o fundador de Campinas, Francisco Barreto Leme, é testemunha das transformações da vida social urbana campineira — foi a primeira matriz de Campinas, em torno da qual a cidade se desenvolveu. O prédio atual é o terceiro construído para abrigar a Basílica Nossa Senhora do Carmo e tombado como patrimônio cultural de Campinas. Segundo o arquiteto Marcos Tognon, do Escritório de Arquitetura e Restauro Sunega-Tognon, responsável pelo projeto, será feito um restauro rigoroso, que incluirá os ornamentos que estão faltando na fachada, entre eles a rosácea no alto da porta principal, além de molduras em cimento armado que acabaram se soltando e a reprodução de duas peças em bronze que foram roubadas. Molduras Uma delas, do artista Lélio Coluccini, mesmo autor do monumento das andorinhas localizado atrás do Paço Municipal, pesava 7 quilos e retratava, em relevo, a antiga igreja matriz. A outra é uma peça comemorativa ao jubileu da basílica, em 2011. Elas serão refeitas, mas não retornarão à fachada, segundo Tognon, para não correr o risco de novamente serem roubadas. As duas peças irão ficar dentro da basílica. A recuperação das fachadas, estimada em R$ 200 mil, encerra o projeto de restauro iniciado internamente, no período em que o padre Pedro Cipolini, hoje bispo de Amparo, comandava a paróquia. Dentro, segundo Tognon, o templo está preservado. "É o templo religioso mais bem conservado de Campinas", disse. O restauro das fachadas irá ocorrer em quatro momentos. O primeiro, que tem início em duas semanas, vai trabalhar a fachada frontal; o segundo a fachada da Rua Sacramento, depois a da Barão de Jaguara e por último a da Barreto Leme. Tempo A previsão é que a obra da fachada frontal, que será comandada pela empresa de restauro a Curi Engenharia e Produções Culturais, de Campinas, leve de três a quatro meses. Além de obras físicas, a basílica irá receber também um projeto de iluminação que dará ao templo cinco ou seis escalas de luzes com as mesmas lâmpadas, para serem acionadas em diferentes datas festivas. Construída em estilo neogótico, com influências do ecletismo, a Basílica do Carmo compõe-se de duas torres pinaculares, janelas e portas semiogivaes com muitas esculturas. Dentro, as pinturas realizadas nas paredes, que acompanham a nave central, exibem ícones de várias épocas, de modo a tornar o ambiente fartamente colorido, com vitrais tecnicamente bem executados, bem como relevos em bronze, de Coluccini. Juízo Final O altar mor se encontra abaixo de uma cúpula forrada pela pintura de Gaelano Miani (pinturas realizadas na década de 1940), na qual se destaca a cena do Juízo Final que se encontra atrás do altar mor feito com mármore branco e detalhes em mármore azul e rosa. O tombamento do templo ocorreu em 2004, junto com o conjunto que caracteriza o Marco Zero de Campinas, local onde a cidade foi fundada, em 1774 e onde estão a basílica, a Praça Bento Quirino e Praça Antônio Pompeo.A igreja atual foi construída na década de 20, em substituição a antiga e acanhada igreja que havia no local. Ela possui magníficos vitrais, altares de mármore, órgão elétrico e pinturas murais sobre a vida de Maria Santíssima, obra do artista Gaetano Miani. Paróquia Antes de ser a Basílica do Carmo, a vida religiosa da cidade girava em torno da Matriz de Nossa Senhora da Conceição que havia sido inaugurada em 26 de julho de 1781, com missa celebrada pelo terceiro vigário da paróquia, frei José de Monte Carmelo Siqueira. Durante muitos anos essa Igreja foi o centro religioso de Campinas, até sua transformação na sede da Paróquia de Santa Cruz em 1870. Em 1938 ela recebeu oficialmente o nome de matriz de Nossa Senhora do Monte Carmelo, mais conhecida como Nossa Senhora do Carmo. A igreja original tinha uma torre, que veio abaixo em um dia de tempestade. No pátio fronteiro, ao lado direito da entrada, conta a história, existiu por mais de 20 anos um girau de madeira que sustentava o grande sino do Santíssimo Sacramento, mais conhecido como o "Baia", apelido de seu doador Antônio Francisco Guimarães, capitalista português radicado em Campinas. Esse sino está atualmente na Catedral.Três fasesA Basílica do Carmo apresenta três fases na sua existência, reconhecidas por sua importância histórica, segundo informa o site da igreja. Data de 1772 o pedido dos moradores do bairro de Campinas do Mato Grosso, pertencente à Paróquia de Jundiaí, para instalar uma capela dedicada à Imaculada Conceição. A primeira fase foi iniciada em 1774, com a primeira missa, quando da fundação da paróquia e da cidade, em uma matriz provisória, coberta de sapé, onde hoje se encontra o monumento a Carlos Gomes. Essa matriz provisória, que funcionou desde a fundação até que estivesse pronta a matriz definitiva, inaugurada em 1781, onde hoje se localiza a atual Basílica, foi o primeiro templo religioso de Campinas e relicário de suas tradições mais caras Esta matriz foi sede da freguesia (paróquia) de Nossa Senhora da Conceição, durante o período do Brasil-colônia e império. Todos os grandes acontecimentos dessa época em que os poderes civis e religiosos estavam unidos, se desenvolveram ao redor dela e desta praça. Nela foram batizados campineiros ilustres como Carlos Gomes e Campos Sales. Divisão A segunda fase iniciou-se em 1870, quando a sede da paróquia de Nossa Senhora da Conceição foi transferida para a Igreja do Rosário (demolida) e, posteriormente, para a Matriz Nova, hoje a Catedral. A cidade foi dividida em duas paróquias. Assim, a primeira igreja de Campinas passou a ser denominada Matriz Velha, sede da paróquia cognominada Santa Cruz e Nossa Senhora do Carmo. Em 1922, a Matriz do Carmo foi demolida e, durante dez anos, reconstruída como se encontra em seu formato atual, em estilo neogótico, de inegável beleza e bom gosto. A terceira fase iniciou-se em 1975, quando a Matriz do Carmo, graças aos esforços do monsenhor Geraldo Azevedo, recebeu do papa Paulo VI o título de Basílica Menor. Na justificativa apresentada para o requerimento deste título, constou com destaque o aspecto histórico e o amor do povo a este templo enraizado na memória coletiva da população de Campinas.