AÇÃO SUSTENTÁVEL

Fábrica de lápis ecológico poupa árvores

Madeira usada na produção é recolhida na rua, bosques e fazendas de eucalipto, e reciclada

Projeto Ambiental
18/10/2013 às 14:58.
Atualizado em 26/04/2022 às 05:33

Vanessa Tanaka*   Desde o início de sua existência, o homem sentiu necessidade de se comunicar e registrar seus feitos, sua vida, suas conquistas e realizações. Os desenhos rupestres — aqueles deixados nas paredes das cavernas na pré-história — eram feitos com os mais variados instrumentos pontiagudos, utilizados secos ou molhados em extratos de plantas e sangue de animais. O tempo passou, o homem desenvolveu novas formas para facilitar os registros e, com a descoberta de das primeiras jazidas de grafite na Inglaterra, no século 16, surgiu o lápis como conhecemos hoje, uma evolução das barras redondas de chumbo usadas por gregos e romanos, e dos instrumentos feitos com estanho e chumbo usados por artistas como Leonardo da Vinci no século 12. Hoje, as fábricas quebram a cabeça para criar modelos e diferenciais para atrair os consumidores. Embora os grandes fabricantes façam a compensação ambiental do uso da madeira, com o plantio de mudas para uso próprio e reflorestamento, há uma pequena fábrica em Salto que não derruba árvore nenhuma para fabricar seus lápis de cor.  Lá, a proposta é aproveitar os gravetos caídos no chão para servir de corpo. A iniciativa, da Acto Brasil, que tem dez anos, além de ecologicamente correta, é um meio de incentivar o uso de produtos “verdes”, feitos artesanalmente. O processo é bem simples e começa com a coleta de gravetos de eucalipto, que pode ser feita em bosque ou praças. Depois de colhidos, os gravetos são cortados para ter o mesmo tamanho. Porém, a espessura varia, já que a natureza brinca com as formas. Um furo é feito para a introdução da mina, aquele miolinho colorido. A peça recebe o acabamento e o lápis está pronto.  Segundo Alba Milioni, artista plástica, proprietária da fábrica, e dona da ideia, tudo começou com os gravetos de cortes de árvores de rua. “Quando a Prefeitura estava cortando, ia lá e recolhia. Depois, devido ao grande número de fazendas de eucalipto aqui na região, começamos a usar o eucalipto, para que todos os lápis sejam feitos da mesma madeira”, contou.  A matéria-prima serve de base não só para o lápis colorido de cera e grafite 2mm, como também para canetas esferográficas. A produção diária chega a 2 mil lápis e é feita por quatro pessoas. Em épocas de grandes pedidos, no entanto, as mãos se multiplicam. Atualmente, os lápis se apresentam em 12 cores já existentes no mercado. A fábrica também faz tons especiais, conforme o caso. São vendidos soltos com preço médio de R$ 1,00, em caixas com seis unidades ou em kits. As canetas são dispostas separadamente e também no bem-bolado de canetas com lápis.  Mas Alba não faz nenhuma restrição de quantidade ou combinações. Para ela, o importante é a pessoa ter o hábito de adquirir um produto sustentável. “O impacto é notório. Quando há um corte de eucalipto, toda a parte suja, que eles não usam e deixam no chão, nós aproveitamos. Os lápis coloridos são os que chamam mais a atenção por causa das cores, mas a caneta é o produto novo e mais curioso, por ser de galho de árvore”, diz. Ateliê abre espaço à reciclagem Maioria dos clientes são grandes empresas em busca de brindes diferentes No ateliê de Alba Milioni, artista plástica há mais de 25 anos, o espaço antes ocupado apenas pelas telas foi dividido para dar asas à imaginação. Com o dom da criatividade, ela passou a desenvolver brindes a partir de papel reciclado, cascas de cebola, alho e bagaço de cana. Com as diversas espessuras e cores obtidas, criou objetos como porta-lápis, porta-celular e porta-retrato. “Como eu já trabalhava com arte, as pessoas começaram a me pedir para criar brindes para eventos, para reuniões. E comecei a trabalhar com papel reciclado, que na época era uma coisa que já começava a ser comentada”, recorda Alba. Para não fazer feio, foi buscar conhecimento junto a pessoas que já trabalhavam no setor. Daí, para o desenvolvimento das ideias foi um pulinho.  Ao recordar sua iniciação para o setor de reciclagem, ela comenta que tinha apenas agenda para oferecer. “Na época, o investimento inicial foi de R$ 10 mil, só para a compra dos papéis. Hoje, são mais de 30 produtos”, diz. Para vender o material, a empresária montou uma loja na frente do ateliê e quem entra não consegue sair sem uma lembrancinha.  A escolha da matéria-prima utilizada em cada um dos produtos é fundamental. Para se diferenciar no mercado, a artista plástica compra papéis reciclados de vários artesãos. Assim, ela consegue ter uma grande variedade de espessuras e cores. Para ajudar na produção, Alba contratou quatro funcionárias. Cada uma chega a produzir mais de cem peças por dia. No total, 80% da produção vão para grandes empresas, que utilizam o produto reciclado como brinde. Mas, muitas papelarias fazem encomendas mensais.

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