POR DENTRO

Explorando a 'máquina da vida'

Aulas sobre o corpo humano envolvem estudantes e famílias com atividades em sete disciplinas

Fabiano Ormaneze
28/10/2014 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 02:48
Projeto envolve também noções de solidariedade, boas práticas alimentares, uso consciente da internet e representação artística ( César Rodrigues/ AAN)

Projeto envolve também noções de solidariedade, boas práticas alimentares, uso consciente da internet e representação artística ( César Rodrigues/ AAN)

O garoto David Merzel tem 10 anos, ainda nem entrou oficialmente na adolescência, mas já sabe que, em breve, seu corpo vai passar por uma série de modificações que o transformarão num adulto.   Também já aprendeu que há diversas formas para contribuir não só para garantir a sua própria saúde como a dos outros.   David é aluno do Colégio Múltiplo, de Campinas, e participou do projeto “Corpo Humano: A Máquina da Vida”, desenvolvido pelos professores do 5° ano para trabalhar, de forma interdisciplinar, conteúdos de ciências, artes, inglês, educação física, música, informática e língua portuguesa. As professoras Elizete Bömer, da turma do matutino, e Jane Albonetti, do vespertino, são responsáveis por praticamente todas as disciplinas da sala e tinham como desafio trabalhar as características físicas e biológicas do corpo humano, conteúdo previsto para a série de acordo com o projeto pedagógico do colégio.   Entretanto, tinham a percepção de que a matéria podia parecer distante da realidade dos alunos e difícil para a maioria, caso não fosse abordada de maneira lúdica e contextualizada com o cotidiano da garotada da turma, que tem, em geral, entre 10 e 11 anos. Com isso, foi desenvolvido um projeto que envolveu, além do estudo dos sistemas que compõem o corpo humano, noções de solidariedade, boas práticas alimentares, uso consciente da internet e representação artística.   Após a explanação dos conteúdos pelas professoras Elizete e Jane, as turmas foram divididas em equipes e cada uma ficou responsável por pesquisar um dos sistemas que compõem a anatomia humana.   Para envolver as famílias, os alunos também fizeram convites a pais que fossem da área de ciências biológicas para que fossem à escola e contassem um pouco de suas experiências.   Assim, o assunto foi ganhando mais força com a participação de biólogos, médicos e enfermeiras.Paralelamente a essas intervenções, a professora Nayara Mandaji, de educação física, abordava em suas aulas a importância de cuidados para que o corpo funcionasse corretamente.   “Aprendemos que o corpo é como uma máquina, que precisa estar sempre com tudo funcionando bem. O nosso combustível é o alimento, que deve ser de boa qualidade”, explica David, que tem prazer em dizer que fast-food só quando “a vontade é muito grande e não dá mais para aguentar”.Para abordar a importância da alimentação e de hábitos saudáveis, Nayara exibiu o documentário brasileiro Muito Além do Peso, da diretora Estela Renner.   O longa, produzido e exibido no circuito independente em 2012 pela produtora Maria Farinha, conta como os alimentos industrializados são ricos em açúcares e gorduras, embora seus comerciais e aparência busquem transmitir a ideia de que são saudáveis.   “Foi uma experiência muito interessante, pois víamos os alunos, após a discussão, irem para casa contando aos pais a importância da alimentação saudável. Nesse ponto, a escola faz mais do que apenas transmitir conteúdos. Ela transmite conhecimento para a vida, promove transformações”, afirma Nayara. TecnologiaDurante as aulas de informática da professora Edna Prado, os alunos produziram vídeos em que cada equipe apresentava informações sobre o sistema do corpo humano pelo qual se responsabilizara.   Além disso, pesquisaram na internet informações para a construção de textos para banners e cartazes, sempre com a preocupação em checar e citar as fontes. Nas aulas de artes, com a professora Mariângela Pallaro, cada aluno pôde descobrir formas de representar o corpo em telas e formas tridimensionais.   Por sua vez, nas aulas de música, a professora Sandra Mara Vicente trabalhou como sons harmônicos podem também contribuir para a saúde física e mental, além de usar os exercícios para trabalhar os cuidados necessários com a voz. Com tantos estímulos, ficou fácil não só aprender o conteúdo como também incorporar a terminologia. A aluna Isabela Matsuoka, por exemplo, usa com toda a fluência e naturalidade, termos como “embriologia”.   “Meu grupo pesquisou bastante sobre embriologia. Foi um trabalho muito interessante, pois fizemos vários exercícios”, conta a garota de 10 anos.Segunda línguaComo o Colégio Múlitplo se propõe à educação bilíngue desde as séries iniciais, a professora de inglês Lilian Vaz também integrou o projeto. Para tal, realizou com os alunos a leitura de uma versão adaptada do livro The Time Machine (A Máquina do Tempo, em português), romance de ficção científica publicado em 1895 pelo britânico H. G. Wells (1866-1946). Na obra, que já teve duas adaptações para o cinema, o personagem principal viaja pelo tempo e, no futuro, encontra uma sociedade em que se vive numa situação comparável a um paraíso.   “A partir disso, conseguimos problematizar o que os alunos esperam do futuro e como é preciso cuidados para que o corpo humano não sofra consequências por causa de atitudes de hoje”, relata a docente. Todas as atividades desenvolvidas durante o projeto culminaram com uma mostra feita para as famílias, com a exibição dos vídeos e apresentação dos alunos, realizada no último sábado na escola.   Cuidado com o outroAs professoras do 5° ano do Colégio Múltiplo também utilizaram o conteúdo referente ao corpo humano para trabalhar noções de solidariedade e de voluntariado.   Para isso, as educadoras foram até o Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentro), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em busca de informações sobre doação de sangue. Em seguida, repassaram aos alunos.   “Queríamos também demonstrar que, além de ter um corpo saudável, a pessoa pode contribuir para que o outro tenha saúde. A doação de sangue é uma das formas de se fazer isso”, explica a professora Elizete Bömer. Além disso, a escola também recebeu a visita de representantes do Centro Cultural Louis Braille, que atende pessoas com deficiência visual.   “Nós aprendemos que muitas pessoas, por vários motivos, perdem a visão e precisam se readaptar. Nesse processo, são necessários voluntários que, muitas vezes, só precisam dedicar parte do seu tempo para ler livros para as pessoas cegas que ainda não dominam o braile”, afirma a estudante Gabriela Ribeiro Prado, de 10 anos, que já pensa em ser voluntária em breve.

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