EDITORIAL

Exploração de menores e de sonhos

31/05/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 14:04

Diante das grandes dificuldades de uma formação educacional ajustada e formadora, muitos jovens sofrem a angústia e a pressão de fazer sua opção por uma carreira profissional, que nem sempre se decide por vocação, mas pelas circunstâncias que se impõem pelas escalas sociais, situação econômica e disponibilidade do mercado. Na maioria dos casos, as profissões podem até refletir uma disposição interior de cada indivíduo, mas ao final são ditadas pelas oportunidades encontradas.

Para jovens e adolescentes, o apelo de atividades de prestígio e da possibilidade de altos ganhos é enorme e define algumas preferências que levam ao mundo de celebridades, que se apresenta como ideal e cheio de glamour. É fácil a sedução pelo mundo dos esportes, especialmente futebol entre os brasileiros, levando adolescentes a alimentar a possibilidade ainda que remota, de um dia se tornar um ídolo.

O caso dos jovens coreanos que estavam em Campinas por conta de um agenciador é uma das faces nefastas deste sonho de perseguir uma chance de mostrar talento. Trazidos ao Brasil sob a promessa de conseguirem se projetar no futebol em campos brasileiros, os jovens com idades entre 13 e 19 anos se submetiam a uma rotina de treinos e tortura por quem deveria ser seu orientador, que incluíam espancamentos com taco de sinuca. Para apostar neste pesadelo, as famílias pagavam cerca de US$ 2 mil por mês, esperando que seus filhos pudessem realizar o sonho (Correio Popular, 29/11, A11).

Descoberta a barbaridade, eles estão sendo repatriados a seu país, carregando na bagagem a frustração de terem sido enganados.

O caso é extremo, mas é revelador de uma rotina que se pode ver em vários clubes brasileiros. Jovens de toda parte afluem nas mãos de empresários e intermediários, trazidos pela esperança de serem “descobertos” para o esporte, em alguns casos apostando tudo o que suas famílias têm. Neste palco, há várias denúncias de exploração, que encobrem o verdadeiro sentido do trabalho de olheiros do futebol, aqueles encarregados de encontrar novos talentos.

É preciso que a sociedade esteja atenta e os próprios clubes chamem para si a responsabilidade de promover as condições ideais de testar os jovens atletas, denunciando e fechando as portas para aproveitadores e oportunistas que vendem promessas e extorquem as pessoas que buscam seus sonhos.

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