PIRACICABA

Execução do hino do povo negro passa a ser obrigatório

O hino foi composto na década de 40 e tem como subtítulo 'Um canto à africanidade'

Do iG Paulista
16/03/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 01:51
 O canto solene deverá ser executado em todo evento oficial que envolver a raça negra ( Divulgação)

O canto solene deverá ser executado em todo evento oficial que envolver a raça negra ( Divulgação)

“A cidade de Piracicaba, mais uma vez, é pioneira no país em ações pela igualdade racial”, afirmou Adilson Araújo de Abreu, durante o lançamento do Hino à Negritude, na Câmara de Vereadores. O canto solene deverá ser executado em todo evento oficial que envolver a raça negra, conforme a Lei 7.946/2014, que tornou obrigatória a execução nessas ocasiões e foi sancionada pelo prefeito Gabriel Ferrato (PSDB), a partir de um projeto de lei do vereador Matheus Erler (PSC), atual presidente da Casa de Leis, que foi aprovado por unanimidade pelos vereadores. Essa legislação acrescentou um artigo à Lei nº 4.209, de 1996, que oficializou o Hino à Negritude no município de Piracicaba, mas de forma facultativa, conforme Abreu, que é diretor de relações institucionais do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba (Conepir). Segundo ele, o hino não fala dos lamentos, mas das vitórias, das conquistas “e das lutas que ainda estão por vir para conquistarmos a justiça social para todos os povos”. O hino foi composto na década de 40 e tem como subtítulo Um canto à africanidade. O autor, o professor Eduardo de Oliveira, morreu antes de ver sua obra ter execução obrigatória no país. “Ele faleceu há dois anos e lutou muito por essa conquista, que não chegou a ver”, completou. A presidente Dilma Rousseff sancionou, em maio do ano passado, a Lei n<SC210,186> 12.981, que oficializou o canto solene de Oliveira em todo o território nacional.EMOÇÃOO Hino à Negritude foi gravado em 500 cópias em CDs, que contam também com os hinos Nacional, de Piracicaba e da Bandeira. Elas serão distribuídas nas escolas municipais e estaduais da cidade, gratuitamente, além da Câmara de Vereadores e todas as secretarias da prefeitura.A gravação conta com a interpretação de Alciony Menegaz. Durante sua execução, ontem, na Câmara, muitos conselheiros ficaram emocionados, principalmente Olga de Andrade Rafael, 76 anos. “Eu fiquei emocionada porque já passei poucas e boas aqui em Piracicaba e pensei que jamais conseguiríamos ir tão longe contra a discriminação”, disse, com os olhos cheios de lágrimas.O presidente do Conepir, Adney Araújo de Abreu, ressaltou que essa é mais uma ação afirmativa do Conepir e do poder público, que faz com que Piracicaba atenda às recomendações do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), que a maioria das cidades, no país, não faz. E afirmou, ainda, que os professores da rede municipal serão capacitados para trabalhar com os alunos os temas da consciência negra, do Dia da África e o hino, em uma parceria com a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). O presidente da Câmara, Matheus Erler, afirmou que é um orgulho para a cidade ser a primeira na promoção da igualdade entre os povos e raças. “Esse foi o primeiros de muitos trabalhos que ainda estaremos fazendo com o Conepir”, afirmou. A consultora de projetos do Conepir, Marilda Soares, afirmou que o momento é significativo e difere das práticas de desigualdade racial, religiosa e de sexualidade que ocorrem na sociedade atual. “Muitos lutaram por essa causa e esse momento é fruto do caminho que eles percorreram. Para alguns da sociedade, esse lançamento pode ser insignificante, porque não percebem a sociedade minoritária, não no sentido numeral, mas porque nem sempre se vê representada pelo poder público. Esse é um momento em que por uma lei há uma recuperação histórica do povo negro e marca a história de Piracicaba e do país na questão dos direitos humanos no mundo”, afirmou.

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